terça-feira, 15 de abril de 2014

PROBLEMAS NOSSOS
Uma das coisas que mais me tem interessado é "vasculhar” a nossa história. Não nos livros dos meus tempos de juventude liceal começada no fim dos anos 50 do século passado. Nem nalguns mais recentes nem pelas conversas de algumas personagens que por aí andam e que me parece aldrabam muitas coisas.
Tenho para mim que Portugal sempre andou um bocado aos tombos. Gosto de uma data, 1700. À volta dela mais coisa menos coisa, e daí para cá, a minha convicção é que foi quase sempre um regabofe. E uma roubalheira e despesismo tonto como imagens de marca constantes. Veja-se por exemplo as sucessivas bancarrotas, os tratados inacreditáveis com a Inglaterra, certo património construído, e o estado miserável/ deplorável em que terão vivido os portugueses quase todos durante séculos. Os últimos 200 anos então foram inacreditáveis. Foram, e são, problemas nossos.

Em 25 de Abril de 1974, um grupo de militares, heterogéneo quanto a formação e convicções, planeou e concretizou o derrube do sistema até então vigente. Conhece-se quase tudo o que se passou daí para cá.
Mas algumas coisas continuam escamoteadas. Escondidas da população. Continua a não ser explicado publicamente “ad nauseam", clarinho como água, as reais ligações ao passado de certas personagens que depois de 25 de Abril foram endeusadas por uns e odiadas por outros. Nem os percursos de muitos que por aí se passeiam. Tem havido muita narrativa! Talvez então a maioria dos portugueses viesse a perceber melhor porque, por exemplo, foi indigitado um recebedor do poder, porque apareceram/ aparecem certos cidadãos em lugares nos palácios, quer os mandões quer assessores paisanos e militares e, como continua a acontecer hoje, porque existe a rotação sucessiva de senhores e senhoras por cargos do “sistema/ sistémico" esteja o governo que estiver. Para não falar dos que vão tendo e enriquecendo com aqueles “lugares /encomendas/ estudos”  de assessoria, aconsellhamento formal ou por baixo da mesa, etc. É vê-los aparecer em inaugurações públicas, como aquela a que assisti em 13 de Abril, nos braços uns dos outros, as cores todas do arco-íris português. Foram, e são, problemas nossos.

A democracia, o menos mau dos sistemas, tem regras “tramadas”. Eleições periódicas, uma das regras/ características. Os eleitos passam a titulares de orgãos de soberania a saber, Presidência da República (PR), Assembleia da República (AR). Dos eleitos para a AR resulta a côr do governo. Para o outro orgão de soberania, Tribunais, os titulares são indigitados, escolhidos, nomeados. Quanto aos juízes, como se vê por exemplo na actual “cena“ de escolha para as novas comarcas, está tudo dito e claro. Há jornais já que falam de amiguismos, nepotismo etc. Quanto a uma certa e muito importante instituição, Ministério Público, olhando aos processos disciplinares, aos processos de averiguações, às dezenas e dezenas de magistrados que deixaram prescrever processos (porque seria?), também fica tudo dito e claro.  Foram, e são, problemas nossos.

Aproxima-se uma data “redonda”, os 40 anos após 25 de Abril de 1974.
Anda na comunicação social um “problema”: a Associação 25 de Abril quer ter a palavra na AR durante a sessão solene comemorativa, e a Presidente da AR quer o contrário, só vê-los na galeria.
Como teorica e formalmente a livre expressão é uma realidade, atrevo-me a dizer que me parece haver aqui pelo menos não um mas dois problemas. E não um primeiro e um segundo, pois para mim são os dois exactamente primeiros. A Associação 25 de Abril parece-me que de há muito tempo se considera também um dos donos de Portugal. Impôr condições para aceitar um convite, define quem assim procede. No caso concreto, tratando-se de militares, e ainda que a meu ver existam várias razões para os militares estarem cada vez mais profundamente indignados, pressinto que a forma das posições recentes da Associação 25 de Abril muito prejudicam a imagem da instituição militar junto da população portuguesa. Quanto à segunda “figura” do estado, não consigo dizer mais do que já vi escrito e falado. Por respeito para comigo mesmo.
É para mim muito lamentável tudo isto. Falta de vontades, em tempo útil, de parte a parte. Falta de humildade e contenção de todas as partes. O pior, para mim, é o esquecimento e falta de respeito inqualificável por quem executou o 25 de Abril de 1974. Foram, e são, problemas nossos.

O poder político actual, Presidente, governo, a maioria dos deputados, uma grande maioria de juízes e magistrados do MP, não merece o respeito deste cidadão. Escrevo-o agora como já fiz inúmeras vezes no passado, com assertividade mas com muita mágoa. Mas tenho presente que estão lá por direito que lhes foi conferido legítimamente. Não gosto da maioria deles, mas sou só um cidadão. Os restantes dos meus concidadãos assim o quiseram. Com pena minha. Isto dito, presumo que fica claro a enorme distância que me separa quer de palradores quer de palradoras.
A livre expressão é uma realidade, mesmo que me pareça que nos últimos anos (20?) ela vem sendo condicionada, sempre de forma dissimulada. Por isso paisanos e militares têm falado em muitos lugares e ocasiões. Não me revejo em algumas dessas declarações, mas comungo da maioria da revolta.
Mas na AR a livre expressão cabe aos deputados e aos titulares da PR e Governo. É a regra. E além disso, a tutela do sistema está nos orgãos de soberania. Não está em associações, em fundações, nos éticos e puros que se consideram os donos do País. Aos cidadãos cabe mudar os titulares dos orgãos de soberania em cada nova eleição. É o que devemos fazer.
Tenho é muita pena que, fruto da bovinidade que muito abunda, continuem a eleger quem promete e se sabe não vai cumprir. O povinho continua a adorar o engano, o histerismo mediático, o espalhafato, a demagogia. É o que continuamos a ter. Foram, e são, problemas nossos. 

Pessoalmente defendo o silêncio. Ou seja, e como já escrevi, os portugueses deviam com estrondo ensurdecedor não comparecer nestas eleições europeias. E nas legislativas em 2015. Devia pugnar-se por uma abstenção brutal, sendo para mim brutal nunca menos de 90%. Talvez assim se abanasse esta podridão crescente. Não sou dono do País, sou um voto. Não tutelo nada nem ninguém. Nunca me verguei, mesmo quando alguns (mal informados quase todos), o pretenderam fazer. Creio que nunca fui desbocado, e também por isso não aprovo as atoardas que se avolumam.
O actual governo não merece um miligrama de respeito. Concordo a 100%. Mas, e o anterior, assente em mentiras e manipulação também? E o de meses que nem soube ler o discurso de posse? E o anterior a esse que fugiu às suas responsabilidades? E o antes desse que também fugiu? E os das maiorias, que foram os iniciadores dos monstros? E os anteriores, das outras bancarrotas e desconhecimento de "dossiers"? Foram, e são, problemas nossos. 

Porque se calaram durante tantos anos muitas das vozes que agora se revoltam tão azedamente? 
Não perceberam o que mansamente os poderes políticos foram sedimentando, em proveito próprio? O pulular de fundações, os BPN e BPP, o regabofe das empresas públicas, o espezinhar da instituição militar, as PPP’s, as empresas municipais, o brutal aumento das forças de segurança, o regabofe de instituições fundamentais para o funcionamento da sociedade, etc, caíu tudo do céu, de repente, em meados de 2011? Referendo para questões que a CRP expressamente veda que sejam referendadas?. Não há vergonha nenhuma.
Com se combate isto? Não sei ao certo. Mas creio que o silêncio nas ruas, a sério, sem cartazes nenhuns, sem discursos, moles humanas brutais muito superiores ás maiores já verificadas, fixando-se durante 4 a 6 horas em redor de Belém e SBento, teriam algum efeito, nacional e internacional. Foram, e são, problemas nossos. Sendo nossos são de todos os portugueses, sem excepção. 

AC

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