A IRONIA
A ironia é a figura de estilo em que se exprime o contrário do que as palavras naturalmente significam, é uma zombaria, é um sarcasmo.
A esta definição do dicionário prefiro a de Miguel Esteves Cardoso (4DEZ2023, Público), definição que adopto aqui e ali - a ironia é uma brincadeira, é uma dança de inteligências, e o prazer de dizer o que não se deve, só para divertir e escandalizar.
Lembrei-me disto esta manhã depois de noite bem dormida como feliz e habitualmente me sucede, manhã onde de certa maneira "revi" o dia de ontem, o velório.
Tinha 92 anos, começou a fraquejar nos primeiros meses da pandemia Covid 19 embora não tenha sido atingido por ela.
Não tem a ver com ele directamente, mas veio-me à cabeça a frase
- ironia do destino.
Ironias várias, a súbita queda da hemoglobina sem nada encontrado que o explique, a questão da fé, a cerimónia simples, as lacónicas sentidas condolências do gabinete do ministro apostas nas fitas da coroa de flores, o número de coroas de flores, o traje de algumas pessoas, certas e mesmo muitas estranhezas, etc.
Para quem começou a carreira em 1954, naturalmente que no presente e da sua profissão existem poucas pessoas vivas ou em condições físicas para lhe ter ido prestar homenagem. Compreende-se.
Talvez seja de menos compreender porque não apareceram certos que se esperaria o poderiam fazer, por exemplo dos um pouco mais novos que com ele privaram, em serviço, ou relacionado com ele, por razões protocolares e sociais.
Estas coisas são sempre difíceis de entender, de encontrar justificação plausível.
Estou a lembrar-me de um certo paralelismo, do que se passou quando o meu irmão mais novo faleceu em 27 de Agosto de 2009.
No velório estiveram, a família naturalmente, e dos homens do seu curso se a memória não me falha apenas três e um do curso antes do dele.
Julgam que algum dos do curso me telefonou a dar condolências?
Para quem, como pareceu ao longo dos anos, era APARENTEMENTE um dos mais queridos da malta toda, o que verifiquei no velório é coisa que nunca mais esquecerei.
Confirmei aquilo de que sempre desconfiei, farsa, fingimento, falsidade.
É a vida, como dizia o outro.
Ontem, no velório, mais uma vez se confirmou.
António Cabral (AC)
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