A propósito de poucas vergonhas
Uma breve pesquisa que fiz na biblioteca caseira mostra, se vi bem:
1. desastroso tratado de Methuen, 27 DEZ 1703;
2. aumento de impostos sem consulta das cortes, 1706;
3. começa a chegar ao Tejo uma frota do Brasil, carga avaliada, 50 milhões de cruzados, OUT 1712;
4. grave crise económica, 1763 a 1770;
5. alvará que determina incorporação na coroa de todas as saboarias; o Conde de Castelo Melhor, que assim perdeu o monopólio, é compensado então com o título de Marquês e com importantes bens fundiários, 23 DEZ 1766;
6. lançamento de empréstimo de 10 milhões de cruzados, ao juro de 5%, 29 OUT 1796;
7. empréstimo, 12 milhões de cruzados, 7 MAR 1801;
8. grave situação das finanças públicas, 1834 a 1836;
9. carta de lei, ordenando a venda em hasta pública, de bens nacionais, 15 ABR 1835;
10. convénios com os nossos credores, 1902;
11. Seguem-se várias subscrições públicas por empréstimos internos;
12. bolandas com o nosso "querido aliado" de sempre, por causa do que devíamos, 1916 a 1918;
13. a história, que se arrastou, quanto às reparações de guerra, 1919;
14. outro empréstimo internacional, com a garantia da Sociedade das Nações, 1927; ETC, ETC;
Ah, convém não esquecer, três bancarrotas no pós 25 de Abril de 1974.
Não quero maçar mais, muito mais.
Os historiadores sabem todos os detalhes, destes mais de 300 anos, e alguns os foram explicando ao longo da história. Mas a quantos portugueses isso chegou? A quantos chega hoje?
Para que esses ensinamentos, e uma verdade bem mais detalhada, fosse assim um contributo decisivo para a sociedade portuguesa, definitivamente, tomar juízo?
Num dos seus livros o saudoso Prof Medeiros Ferreira lamenta e alerta para "os protagonistas do regime democrático deviam estar mais prevenidos para esses aspectos financeiros das relações internacionais da República Portuguesa do que os historiadores da diplomacia política".
O Prof Medeiros Ferreira conhecia bem inúmeros aspectos e lamentáveis historietas que eloquentemente explicam a tristeza das últimas décadas quanto ao tema em causa.
Pois, ainda citando o ilustre autor que muito me ajudou a passar estes últimos dias, "....seria aliás um bom exercício recensear as entidades que nessa altura defenderam a vinda, rapidamente e em força, do FMI para Portugal".
Respeitosamente, presumo que não faria mal, pois não atentava contra a imagem, listar as entidades e intervenientes, TODOS, que andaram nas negociações (ou não andaram?), e que defenderam o que defenderam, certamente com a maior das legitimidades.
Mas PORTUGAL é assim.
PORTUGALINHO dos espertalhões, dos espertinhos, dos chico-espertos!
Escrevem-se cartas, por exemplo 4 meses depois, ou vários meses, mas nada se sabe cá fora. Sempre segredo.
A excepção foi Vitor Gaspar, soube-se logo da carta; ao menos uma coisa que me pareceu bem feita.
Sabem-se em muitos meandros, as maroscas, as indignidades, as inações, as pouca vergonhas, as combinações por baixo da mesa, mas é preciso é ir recebendo as centenas de convites para as recepções nas embaixadas, para as cerimónias de posse, manter todas as pontes, etc.
Apresenta-se a demissão de certos cargos, mas não de todos, não vá depois o diabo ....... perigar a vida futura.
E até se passa a vir nas colunazinhas dos jornais com seta para cima.
Em Portugal é uma constante dança das cadeiras. Mas como muitos saberão, esta famosa dança retratada em peças de teatro, tem e vai tendo, sempre uma cadeira a menos em relação aos que andam à sua volta e tentam apanhar assento. Sempre um de pé sem cadeira, até ficar apenas um figurante sentado.
Em Portugal, a dança das cadeiras é fantástica, há sempre cadeiras a mais, e dá para todas as cores, embora mais para três delas. E depois há, arrufos, verticalidade (??), consciências, etc!!! Que pouca vergonha!
Porque, infelizmente, passam a vida a construir narrativas mas, como bem refere o Prof Medeiros Ferreira "......preferem tomar posição sobre o derivado défice orçamental e o endividamento externo e não sobre as causas negociais do monstro em que muitos estiveram envolvidos e deu origem a uma zona monetária péssima".
Como diria o Brigadeiro Chagas, Portugal é pequenino mas é um torrãozinho de açúcar.
AC
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