Hoje de manhã, a minha mulher disse-me que faleceu Eusébio. Foi através daquelas mensagens que caem em catadupa em muitos telemóveis, excepto no meu, que nada disso autorizo. Lamento, sinceramente, porque, como aprendi de 1971 a 1973, cada português faz falta. Aprendi a ir com dezenas de portugueses para zonas de grande "desconforto", mas sobretudo com a grande responsabilidade e preocupação de ajudar, tanto quanto possível, que aquele que na altura nos comandava, nos trouxesse a todos sempre de volta a Bissau. Felizmente sempre assim aconteceu.
Mas, Eusébio que me perdoe, o que me foi recordado hoje com essa notícia foi o meu avô materno. Meu avô materno não era doente do Benfica, era mesmo um "acamado". Naquela época em que no campeonato nacional o Benfica em geral impunha a sua superioridade, e naquela época das duas taças europeias, o meu avô tinha umas expressões curiosas que hoje me parecem actuais e talvez ainda mais exacerbadas em mais do que um clube. Ao fim da tarde de Domingo, quando dele me ia despedir para ir para as minhas responsabilidades de universitário, perguntava-lhe como iam as coisas do futebol. A frase mais habitual era - "há lá equipa como esta" ; muito pouco frequente, quando o Benfica empatava - "coitados dos rapazes, tiveram tanto azar"; quando raramente o Benfica perdia, então como agora - "malandro do árbitro". Eusébio que me perdoe, nunca o conheci pessoalmente, embora me tivesse irritado a forma excessiva como o seu Mustang me ultrapassou uma ou duas vezes na subida da A5 a seguir à Duarte Pacheco, mas creio que era um homem simples e essencialmente puro, e que talvez devesse ter sido menos idolatrado e mais ajudado depois de arrumar as chuteiras. Eusébio que me perdoe, hoje lembrei-me muito do meu avô António Rodrigues, um simplório, um puro, um ingénuo que se deixou ceifar aos 69 anos de idade. Enfim, que Eusébio tenha agora descanso e se lá em Cima se encontrar com o meu avô, que tenha a gentileza de lhe recordar os tempos áureos. Paz à alma de ambos.
AC
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