19 Maio 2014 - 19 Maio 1973
Faz hoje, mais ao fim do dia, 41 anos que, pelas 2340 horas, quando embarcado no navio onde fiz a comissão de serviço, navegando em ocultação total de luzes, em postos de combate/ bordadas como era necessário na zona, fui/ fomos atacados por bombordo no rio Cacheu, na Guiné, hoje Guiné-Bissau.
Tive muita sorte, como quase todos os outros que estávamos no exterior do navio, envolvidos pela escuridão, apenas ferida pelo espectacular luar africano.
Morreu um comando africano que, como muitos outros no exterior do navio, estava deitado no convés, no caso dele atrás da peça de vante, e junto a quem rebentou o primeiro e único projéctil/ granada lançado pelos então guerrilheiros do PAIGC.
Houve também vários feridos. Houve um pequeno incêndio. O navio teve danos, inclusive um pequeno rombo abaixo da linha de água.
Passadas umas semanas, um relatório da DGS confirmava a morte de todo o grupo de guerrilheiros atacantes.
Não era de esperar o contrário, pois tinham que infiltrar-se pelas densas árvores junto ao rio, até ao rio, e ainda que sem serem vistos de bordo, a reação de fogo do navio e de todo o pessoal armado que ia no exterior e que terá durado nem um minuto, varreu com aço, literalmente, toda a área.
Como se viu na manhã seguinte ao ataque, quando voltámos ao local, via-se no arvoredo da margem uma zona enorme quase circular de árvores zurzidas, sem ramos pequenos, sem casca, tudo madeira branca.
41 ANOS. O tempo voa. Eu não esqueço.
Fui um dos que não morri. Por acaso, destino.
Andam para aí muitos que não esquecem nada.
Porque quase nada, ou mesmo nada, sabem.
Sobretudo não sabem respeitar. Cidadãos, instituições, valores.
AC
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