quinta-feira, 20 de outubro de 2022

AINDA  SOBRE  MARCELO
Não é novidade para ninguém a mania, a propensão, do actual Chefe de Estado para palrar sobre todos os temas de atualidade, sobre tudo e mais alguma coisa. 
Quando se analisa a fundo a substância da sua proverbial diarreia verbal, quando se espreme tudo o que sai da sua boca com a aparência de que está junto de nós cidadãos comuns, vê-se melhor o seu papel de entretenimento, de aparente gozo pessoal, de nada de fundo e importante realmente explicar aos cidadãos. Nada de realmente sério.

Sempre tiradas gongóricas, "fez-se o que se pode", "ai a pandemia", "ai a guerra", etc.

Continua comentador-mor, como se habituou durante décadas. 
Chefe de Estado? 
Sim, formalmente, mas, para lá das últimas e lamentáveis tiradas, como ficamos, como estamos?
É que olha-se ao palavreado na 3ªF, na 4ªF e na 5ªFeira da semana passada e, valha-me Deus!

Como sempre acontece, os partidos andam a tecer comentários à proposta de OE23, sendo que alguns comentários bem os podiam meter no saco. 
E Marcelo faz como eles ou mais do que eles, comenta as previsões e a "navegação à vista da costa" escolhida pelo Governo absolutista. 
E nunca se dá por satisfeito, insiste em dias sucessivos. 
Dá-nos as suas dúvidas. 
Mas observando a essência, serve tudo rigorosamente para meter num saco e colocar no lixo.

Há quem continue a apreciar. Eu não aprecio. 
O país precisa de um equilíbrio de poderes. 
Equilíbrio de poderes não é o Presidente colocar-se eventualmente  contra o governo, porque sim. Isso seria estúpido.
Coisa que, estou convencido, alguns parvalhões adorariam ele fizesse. 

São José Almeida deu umas valentes marteladas quer em Marcelo quer em Costa. 
Refere, por exemplo, que Marcelo não se inibe e assume com estrondo o facto de ser católico militante ao exercer o mandato de Presidente de um Estado (formalmente, digo eu) laico. 
São José Almeida refere e bem o que Marcelo procurou desvalorizar na semana passada. 

Deplorável, digo eu, que não penso como um comentador careca. 
Esta coisa de, os de cima, os letrados, os instruídos, os poderosos, "não queriam dizer…não tinham qualquer intenção …. foram mal interpretados…. " é coisa que há décadas não engulo.

É para mim muito claro que Marcelo repudiará liminarmente pedofilia, abusos, etc., mas é para mim mais do que legítimo considerar igualmente que procurou desvalorizar os 424 casos. E tenho as maiores dúvidas sobre o propósito dos telefonemas que terá feito para autoridades da igreja portuguesa. 
Já no passado me pareceu deplorável a conversa sobre os cardeais. 

Fala muito, ao desbarato, quase sempre mais do que uma vez por dia nos entra em casa pelas TV (não aqui) e mostra-se sempre como nós, está junto a nós e, naturalmente, dada a formação/ educação/ preparação de grande parte dos meus concidadãos, ENGOLEM ISTO.

Alguma vez lhe ouviram explicar alguma coisa séria?
Por exemplo hoje, no seu passeio na Irlanda, veio salientar que o acordo "Verde" Espanha/ França/ Portugal é muito bom.

Falar sobre a nossa dívida? 
A semana dos 4 dias que anda por aí no ar?
A questão dos lucros excessivos, com o gasóleo a subir exorbitâncias de cêntimos?
As gasolineiras a ganharem quase o dobro dos cêntimos por litro do que ganhavam não muitos meses atrás?
Alguma vez ou quantas vezes lhe ouviram falar sobre o mar, esse recurso potencial que nós temos, e o estado em que estamos?

Já o ouviram a conversar a sério, sobre as maternidades?
Ouviram algum comentário ao anúncio do concurso para 200 vagas de médicos de família?
Ou a explicar-nos porque continuamos sem cadastro nacional, quando por exemplo um pândego veio debitar umas coisitas sobre o banco de terras?
E as conclusões dos julgamentos recentes sobre os incêndios de 2017?

Já se aperceberam que o senhor tem uns critérios estranhos sobre certas coisas? É estar atento ao "sítio" da Presidência.

Eu reparei há dias quando esteve em Portugal, ao falar em Amarante a propósito de Agustina, as folhas do discurso foram muito remexidas antes de começar a falar. 
Arremedou uma nota prévia porque me palpita que não fazia a mínima ideia que Passos Coelho estaria lá. Que Passos Coelho é amigo da família da falecida escritora. Aposto que foi apanhado de surpresa.

E como bom actor, logo saltou o elogio público, mas com uma cara……….o que serve perfeitamente para os OCS largarem de imediato as trapalhadas de Marcelo sobre os abusos e atirarem a Passos Coelho. 
O qual, com dignidade, não andou atrás de Marcelo a ver a exposição e outras coisas. Dignidade e inteligência.

Andamos neste mundo numa floresta de enganos e em Portugal passa-se o mesmo ou, em alguns aspectos, PIOR.

O povo, os cidadãos, os tais melhores dos melhores, lá no fundo quer lá saber disso, a voz do povo não lhe interessa para nada. Prosápia, grandiloquência,  discursos e discursos e discursos e muitas viagens.

Ao mesmo tempo que resolve fazer uma sugestão à AR sobre as incompatibilidades já tanto palrou sobre isso que me parece que acaba por esvaziar a coisa.

É para mim claro que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não é um homem insensível. 
Mas começa a manifestar imprudências. 

Para ser pior o registo dos últimos dias, só faltou dizer uma palavras sobre os meteoritos do sr Linda! 
Dizem que Marcelo tem telefonado a D. Ornelas, a D. Clemente, etc. Terá telefonado ao sr Linda?

Devia tomar-se atenção ao que Sérgio Sousa Pinto disse acerca da AR. Disse que a AR não era a capital do bom-senso.
De facto, pelos vários palácios em Lisboa, e não só S.Bento e Belém, o bom senso anda arredado.
Enfim, aguardemos pelos próximos capítulos.

AC

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