domingo, 9 de outubro de 2022

COMEMORAR  a  REPÚBLICA

Em 1922, tínhamos o que tínhamos. 

Em 2022, temos o que temos, não estamos muito bem.

Em 1922, éramos muito atrasados.

Em 2022, somos bastante menos atrasados.

Em 1922, nos planos da cultura, analfabetismo, esperança de vida, mortalidade infantil, desenvolvimento, éramos uma desgraça.

Em 2022, estamos completamente diferentes para bastante melhor mas, no entanto, quase na cauda dos países na UE.

Em 1922, (16 Fevereiro), concentraram-se em volta de Lisboa tropas vindas da província para alegadamente combater as greves operárias em curso, na Carris, conservas de peixe em Setúbal, etc.

Em 2022, a tropa não é nisso empregue, mas é mal paga, e entre órgãos de soberania apreciam é mais a submissão que a legal subordinação das Forças Armadas ao poder político legitimado pelo voto.

Em 1922, 22 Março, partiam de Lisboa para a travessia aérea do Atlântico, em direcção ao Rio de Janeiro, Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

Em 2022, e a propósito de meios aéreos, continua a brincar-se com a TAP e aos drones. E os Falcon não têm descanso.

Em 1922, 7 de Agosto, houve uma greve geral contra a carestia de vida, registando-se rebentamentos de petardos, feridos e prisões, e foi declarado o estado de sítio em Lisboa e concelhos limítrofes durante 15 dias. Além disso a polícia invadiu o sindicato único metalúrgico, e encerrou a confederação geral de trabalhadores e a união socialista operária.

Em 2022, a carestia de vida, exorbitante, é uma evidência, sendo os culpados a pandemia, a inflação, o Putin e, naturalmente, Passos Coelho. Os socialistas não têm culpa nenhuma e menos ainda Marcelo.

Em 1922, a miséria em muitas zonas doa Açores, Madeira, Trás-os-Montes, Alentejo etc., era uma triste realidade.

Em 2022, a situação é bastante diferente, por exemplo, já não se pode dizer - para lá do Marão mandam os que lá estão - pois estavam quase isolados; hoje pode dizer-se - no Marão, mandam os poucos velhos que ainda lá estão - despovoamento e túneis são uma realidade.

Em 1922, em Dezembro, Vieira de Castro publicou "A Europa e a República Portuguesa", e Oliveira Salazar, "Lições de Finanças".

Em 2022, as finanças estão como estão, uma lástima.

Em 1922, o ano sucedeu-se aos de 1919-1921 em que Estado, patronato da indústria, comércio e serviços urbanos consideraram anos de ameaça vermelha. Mas no final de 1922 já a ameaça vermelha tinha acabado e as confrontações laborais estavam diminuindo.

Em 2022, as ameaças são múltiplas e variadas na cor e na profundidade.

Em 1922, não tínhamos reguladores independentes.

Em 2022, temos reguladores formalmente independentes que regulam há décadas como sempre se vê, desde os preços dos combustíveis ao longo das auto-estradas ao cambão entre supermercados, etc.

Em 1922, não tínhamos auto-estradas.

Em 2022 temos muitas e para Norte no território Continental há uma zona em que temos 3 quase paralelas.

Em 1922, não tínhamos ajustes directos.

Em 2022, quanto a ajustes directos é fartar vilanagem.

Em 1922, havia sérios e sérias, e outros nem tanto.

Em 2022, a maioria das elites esforça-se por não sorrir para parecer séria.

Em 1922, o futebol era coisa insipiente.

Em 2022, chamam-lhe uma indústria, com características especiais, havendo notícias de prisões e fugas de dirigentes, notícias de frutas, notícias de que a Norte quem o devia fazer se recusa a investigar e averiguar, notícias de fuga ao fisco, e com a característica suprema de ter voltado a ser o comprimido do adormecimento da sociedade como no Estado Novo.

Em 1922, o mar português era o mesmo ou melhor, estava o Atlântico no mesmo sítio, pescava-se com as artes de então, havia muita indústria conserveira, havia por exemplo no Algarve amarrações fixas para captura do atum.

Em 2022, já temos há uns anos as ZEE, estamos há 13 anos à espera para ver se nas Nações Unidas aprovam ou não o nosso pedido de alargamento da plataforma continental, o atum fugiu, a frota de pesca é diminuta, periodicamente agitam-se algumas elites com loas ao mar e sempre ao estilo - agora é que vai ser - mas no fundo no fundo temos  marasmo, e uns filósofos civis e militares em periódicas conferências, fóruns, reuniões, e propaganda mas sempre muito AZUL.

Em 1922, não havia digital, computadores, Internet, "big brother", Via Verde, multibanco, cartões de crédito, cartões das marcas e das lojas, APP's, etc.

Em 2022, o digital está aí, o big brother também, e muitos compram já comida a crédito, muitos estão sem crédito, muitos estão com a casa a ir ao ar.

Em 1922, Gago Coutinho e Sacadura Cabral e alguns outros voavam de vez em quando em avionetas frágeis.

Em 2022, os Falcon estão cada vez mais frágeis e quase não conseguem estar um pouco a descansar em Portugal!

Em 1922, os políticos, Presidente da República e governantes falavam de vez em quando sobretudo pelos jornais.

E 2022, não temos descanso, nem um dia que seja, e se não fecharmos o televisor, não há dia em que não tenhamos que aturar a demagogia e a maior parte das vezes as mentiras dos inquilinos em Belém e S. Bento . Insuportáveis.

António Cabral (AC)

TENHAM UM BOM DOMINGO, SAÚDE, e CUIDADO COM as QUEDAS.

Sem comentários:

Enviar um comentário