domingo, 13 de agosto de 2023

Forças  Armadas, MARINHA em particular, 
Titulares de Órgãos de Soberania,
Chefias Militares, vergonha
Há ordens dadas que são discutidas pelos soldados em plenário, há militares que recusam ir para a guerra por falta de segurança, há almirantes a dar caneladas para televisão filmar, há quem prefira andar debaixo de água do que ficar a comandá-los à superfície, há um comandante supremo que nem brincou com soldadinhos de chumbo.

A cada semana há dez marinheiros a menos, há cinco fragatas, mas só navegam três e resta pessoal apenas para uma e meia; há navios patrulha oceânicos sem peças de artilharia porque as peças foram cativadas, há um navio escola que não conseguiu completar a guarnição e navega agora com cadetes a fazer trabalho de marinheiros; há um navio de treino de mar a apodrecer no cemitério do Alfeite.

Das dez corvetas, sobra uma ou duas para patrulhar o Espaço Estratégico de Interesse Nacional Permanente; há navios que só vão a doca seca para manutenção de doze em doze anos - mais do dobro que o normal - não há dinheiro para comprar óleos e peças sobressalentes e o chefe da Armada pede que poupem no combustível e reduzam na lotação nas unidades, retirando-lhes a capacidade operacional.

O navio reabastecer Bérrio foi abatido e o governo diz que vai comprar outro, lá para o final da década. Portugal ficou sem capacidade de projeção de uma força para retirar portugueses de um país em guerra, tal como aconteceu na Guiné-Bissau, em 1998. Os governantes foram alertados, mas não quiseram saber. Recomendo-lhes que revistem a operação "Crocodilo-Falcão", que a reponham nas Academias de formação e enviem um resumo para a Ministra da Defesa - talvez saia mais um estudo. 

Na operação de retirada de portugueses da Guiné, o navio reabastecedor, comandado pelo então capitão-de-fragata Rodrigues Cancela (já falecido), permitiu a sustentação de toda a força, sendo também usado como convés de voo alternante e hospital de campanha. Mais recentemente, em 2019, o Bérrio foi fundamental na emergência prestada à ilha das Flores depois da passagem do furacão Lorenzo.

É normal que os navios de guerra sejam substituídos depois dos trinta anos de vida, mas em Portugal remendam-se até para lá dos cinquenta. Faltam praças e saem especialistas com emprego em qualquer lado a ganhar o dobro. Não têm assistência médica gratuita e quando se reformarem levarão metade do último ordenado. Como querem convencer os jovens a dar quando pouco têm para lhes oferecer - nem instalações dignas para mudarem de roupa nas unidades em terra?

Dizem os governantes que o Mar é a nossa prioridade estratégica, mas até o obsoleto Arsenal do Alfeite não vê qualquer investimento há décadas e já perdeu mais de mil trabalhadores desde que foi transformado em empresa do Estado, restando apenas quatrocentos. Com uma única doca seca, só lhe é possível ter um navio em manutenção profunda de cada vez.

Canta o hino da Marinha que, inspirados por sonhos de vitória, navegam com audácia e com valor, levando a Pátria ao mundo inteiro. E quando chegar a hora da verdade, eles aguardarão firmas nas ondas do mar - mas com navios avariados, a meter água, sem combustível e sem quem lhes suba aos mastros e ajuste as velas. Que levem, ao menos, o calção de banho e o protector solar.

E aguardaremos nós pelas desculpas incompetentes de governantes e chefias militares quando for necessário socorrer portugueses nas regiões autónomas ou em qualquer outra parte do mundo. Há uma prostituição pelos lugares que ocupam enquanto não lhes dói a eles. Mas não é de agora, há muito que não levam o coração para o alto margem enfrentam temporais e tempestades. Mar calmo nunca fez bom marinheiro e já não há quem tenha cicatrizes de velhos naufrágios.

Se antes tínhamos marinheiros sem barcos e depois tivemos barcos sem marinheiros, agora navegamos para nem uma coisa nem outra. Políticos e governantes mostram desprezo pelos militares e os que têm quatro estrelas nos ombros deviam dizê-lo na proa e sem tirarem os olhos do horizonte. De que têm medo, generais e almirantes?

Alguém que fale verdade aos portugueses, porque colinho dá a mãe em casa. A quem já ouvi isto? 

O jornalista Luís Castro escreveu o artigo supra para que mão amiga me chamou à atenção, e cujo texto reproduzo para mais fácil leitura, com sublinhados da minha responsabilidade.

Não conheço o jornalista, não conheço com quem se relaciona.
Parece-me legítimo considerar que o jornalista não conhecerá com detalhe profundo as dificuldades concretas no seio das FA e, em particular, sobre o que se vem passando dentro da Marinha.
Perante certas passagens do texto parece-me legítimo considerar que alguém lhe forneceu informações concretas.

Creio legítimo pensar em: 
1ª - alguém (oficial? sargento? praça?) muito descontente e triste de dentro da estrutura Marinha, 
2ª - alguém que pretende juntar mais achas para uma dada fogueira, desavindo desde o passado com a actual chefia da Marinha,
3º - ou alguém que bem conhece a Marinha e, porventura, passível de ser incluído na famosa frase - submissos no activo, activos na reforma.

Uma coisa me parece evidente, como diz um bom amigo - É muito preocupante! Quando os oficiais-generais são meros transportadores de estrelas ⭐️⭐️⭐️sem se assumirem, é preciso vir um civil para dizer : o rei vai nu! Ao estado a que chegámos!

O texto aborda questões concretas e que, do que sei, correspondem à triste realidade a que se chegou. Ao estado a que chegámos, mas que não foi de repente.
Em minha opinião, e baseando-me no meu melhor amigo militar que é um almirante reformado e que nunca me enganou, tudo começou em 1991 mas, em 1994 tudo foi em crescendo, aceleradamente a partir de um certo MDN muito pequenino!

Parece evidente que o jornalista, que tenho por pessoa moderada, conhece bastante o que se passou na célebre operação "Crocodilo-Falcão" e, dados certos detalhes que enumera conhece, creio, alguns dos protagonistas dessa época e operação.

Concordo com Luís Castro quanto:
- às lamentáveis caneladas, que também são dadas internamente sem um racional profissional explicativo, como por exemplo certas demissões,
- aos lugares, sendo ainda pior o que julgo ser a triste realidade de que alguns pouco ou nada conhecem da sua estrutura,
- ao estado comatoso do Arsenal do Alfeite, para o que muito contribuíram certas pessoas adeptas de aumentar dirigentes e ansiosas por contractos,
- à manutenção dos navios, aflição para combustíveis e sobressalentes,
- às incompetências enumeradas,
- aos problemas de instalações em certas unidades em terra,
- aos sucessivos alertas a governantes.

No que se refere à Sagres, desconheço se existe de facto um problema específico com pessoal para aquele tipo de navio. Mas a referência aos cadetes a fazerem certos trabalhos nada tem de anormal tanto quanto sei, pois mesmo nos bons tempos de guarnição completa, os cadetes assumiam certas tarefas para habituação às dificuldades e ao mar.

Quanto ao Bérrio, a referência a que este governo diz que vai comprar outro é verdade no plano administrativo, o governo e a sra Carreiras dirão sempre que - está previsto na Lei de Programação Militar (LPM), lei que deu muita satisfação ao inquilino em Belém.
A burocracia e o planeamento é uma coisa, sendo certo que o planeamento existe para ir sendo ajustado, alterado ou NÃO cumprido!

O historial da LPM fala por si ou melhor, fala eloquentemente acerca, do desprezo pela instituição militar, do desprezo pelos militares, da incompetência e ausência de sentido de Estado da maioria dos sucessivos titulares de órgãos de soberania, nomeadamente a partir de 1991.

Não é novidade que muitos saem da Marinha e facilmente encontram emprego a ganhar bastante mais do que recebiam na Marinha.

No que se refere aos NPO (navio de patrulha oceânica), o apontar à inexistência das peças de artilharia, Luís Castro tem muito por onde bisbilhotar. 
É um processo complexo, que julgo se iniciou antes do inarrável MDN Paulo Portas. 
Será que quem municiou Luís Castro com certas informações, não lhe convinha abordar o porquê de aceitar navios sem peça de artilharia? Ou o que aqui digo é pura especulação?

Quanto ao Comandante Superficial, perdão, Supremo das Forças Armadas não vale a pena perder tempo.

Tanto mais há para dizer, mas chega por agora.
Tenham um bom Domingo.

António Cabral (AC)

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