terça-feira, 24 de outubro de 2023

Há pouco tempo escrevi este texto

COMPRA  de  CASAS  GRANÍTICAS

Sou alfacinha, nascido em Lisboa, como milhares de muitos da minha geração e das gerações próximas e, portanto, de S. Sebastião da Pedreira. Por razões que a maior parte dos de hoje não saberá.

Convivo com a Beira-Baixa desde 1969 e, muito particularmente, com os concelhos de Castelo Branco, Fundão, Penamacor e Idanha-a-Nova, sendo o ponto central a aldeia de Monsanto.

Conheço, portanto, um pouco mais que "poucochinho" (Costa Dixit) do mundo Beirão. 

Neste mundo, do que havia em 1969 pouco resta a não ser evidentemente o que não é fácil fazer desaparecer, designadamente penedos, muita pedra, montes, casario pouco degradado/ destruído. Casario onde está omnipresente o granito.

O jornal Expresso publicou recentemente um pequeno texto e fotografias sobre casas graníticas, e informou que há e haverá crescente procura para esse tipo de casas, e identificou até alguns preços de aquisição, variando entre 3 000,00 e 30 000,00 Euros! 

A dada altura do texto há uma relativa abordagem para os problemas concretos inerentes ao assunto. Nomeadamente a questão da reconstrução dessas casas graníticas.

O texto da notícia não aborda com detalhe concreto os diversos e diferentes problemas inerentes à reconstrução das casas graníticas. 

Do meu ponto de vista passa superficialmente sobre a real situação de todo o interior.

Sei bem do que estou a falar.

A compra de casas por exemplo no distrito de Castelo Branco.

Basta consultar os sítios das conhecidas imobiliárias com sede em Castelo Branco por exemplo para ficar com uma ideia de realidades. Realidades algo diferentes do noticiado.

Quase cada casa é um caso diferente. Seja dentro ou fora de uma quinta de 3 a 6 ou 8 hectares.

Há muitas casas em que as paredes exteriores estão bem preservadas, direitas e sólidas, não precisando de ser demolidas/ desmanchadas parcialmente para as "endireitar".

Hã muitas casas destelhadas, outras nem tanto, bastante menos com telhado e estrutura de madeira em boas condições. 

Há muitas casas em que se aproveitam apenas as paredes exteriores.

A reconstrução depende, naturalmente, do ponto de partida/ que tipo de casa/ estado de conservação, dos meios financeiros, do gosto do proprietário. 

Nos casos de casas em aldeias históricas, nos casos em que a lei vigente impõe controlo específico sobre a reconstrução, tudo se torna mais complicado. A burocracia surge em todo o seu português esplendor, o exercício de poderes funcionais acontece por vezes com um descaramento inacreditável, as licenças camarárias demoram por vezes imenso, etc.

Mas a reconstrução impõe que o proprietário arranje quem lhe faça o projecto de arquitectura, que lhe trate do processo junto da câmara municipal, que os projectos técnicos igualmente sejam aprovados, etc.

Mas decisivo, o projecto de arquitectura tem de ser apreciado por quem se encarregará da reconstrução. Alguém que apresentará a proposta de orçamento. A prudência aconselha obter mais de uma proposta.

E logo aqui podem começar os problemas. E começam. Exemplos que bem conheço no distrito de Castelo Branco, há muito poucos que têm capacidade/ estrutura para trabalho sério, começado e terminado dentro dos prazos acordados. Executado com qualidade.

E, descendo a coisas ainda mais concretas e que conheço bem, em casas graníticas e variando de caso para caso, um aspecto crucial tem a ver com os operários que trabalham em pedra. E há muito poucos nos concelhos de Idanha-a-Nova, Castelo Branco, Penamacor. Conheço alguns, designadamente da aldeia de Escalos de Cima, que para mim já trabalharam, três deles de elevadíssima qualidade técnica, Têm um problema, atingirão nos próximos meses a idade da reforma. Substitutos? Não foram ainda encontrados.

Este problema supra explicado é idêntico quando se pensa em canalizadores, electricistas etc.

Casas graníticas? Sim, há casos e casos, tal como quintas de 2, 3, 4, 5, ou um pouco mais de hectares. Há diferenças entre Trás-os-Montes e Beiras por exemplo. A ideia que tenho e baseada em vários casos concretos dos últimos 20 anos particularmente na Beira-Baixa, é de que está cada vez mais difícil adquirir e depois reconstruir. De Outubro de 1991 até ao presente há diferenças abissais, repito abissais, preços, empresas, operários, câmaras municipais, legislação, etc.

Fico por aqui. Não vou abordar a questão da crescente especulação, de estrangeiros (endinheirados, que conheço, e outros a roçar os pés descalços e andam pelo interior de certos concelhos) e de nacionais, nem de questões (algumas inacreditáveis) inerentes aos processos administrativos e às câmaras municipais e inerentes também à estrutura actual e legislação relativas a aldeias históricas.

Mas possuir uma boa casa granítica, bem reconstruída, respeitando a região mas com o conforto contemporâneo é, de facto, uma maravilha, porventura um luxo. Está-se muito bem na aldeia!

AC

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VOLTO AO ASSUNTO, depois de ler o Expresso de 6ª Feira passada falar de - Trocar a cidade pela aldeia e ficar a ganhar.(pags 18 e 19 caderno de Economia)

Um pouco diferentemente de artigo anterior que me levou às considerações supra, não falam expressamente em casas graníticas.

Apresentam 5 (cinco) casos, de quem passou da cidade para o interior.

E apresentam casos concretos de gastos em casa no interior.

Um dos casos que me chamou à atenção, é o de uma senhora que afirma ter investido 1,2 milhões € na compra de uma ruína! Depois, mais à frente, a mesma senhora confessa que o custo de vida é muito mais barato agora na sua "ruína"! Não está indicado quanto custou modernizar a dita ruína.

Num dos casos indicados, um meu concidadão toca numa das questões mais determinantes, afirma ele - o problema reside na falta de mão de obra na construção civil, não há operários, e quando conseguimos ajustar uma obra já marcam para 2025.

Outro caso dos cinco é o de um concidadão que se mudou para uma das aldeias que conheço muito bem, a Soalheira, aldeia pequena, de facto com boa ligação à A23 e ….. tem queijos óptimos.

Em síntese, e salvo melhor opinião, sim mudar para o interior é uma óptima ideia, o pior são as realidades.

Sim, é fácil o trabalho à distância, sim a vida é mais barata, sim em vários locais já existe fibra óptica e rapidez de acesso a auto-estradas, etc. Mas quem tiver filhos pequenos, quem ponderar seriamente as questões de apoio na saúde, a escolaridade, a construção civil, talvez encontre algumas pedras pelo caminho.

E sim, há sítios óptimos, mas duvido que 99,9% dos que pensam e gostariam de abandonar as cidades tenham no mínimo 100 000,00€ para reconstruções. E, de certeza que raros serão os que irão investir uns "cêntimos " em ruínas baratinhas como o indicado no Expresso.

Enfim, artigo para encher chouriços. Se calhar isto explica parcialmente a brutalidade da dívida que têm!

AC

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