quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 de ABRIL de 1974

Aí estão 50 sobre o 25 de Abril de 1974.

Correu tudo mal, ou muita coisa mal?

NEM POUCO MAIS OU MENOS.  NEM POR SOMBRAS.

Correu tudo bem?

Infelizmente, não. E está muito por fazer do prometido.  

A descolonização correu mal. Terá sido uma tragédia? 

Se certos Rosa, militantes na prática "gastando-se" em várias empresas e outras coisas e gabando-se que não têm cartão do partido publicamente o reconhecem como tal, então não há dúvidas que terá andado perto da tragédia. 

Foi trágico para milhares, de portugueses, e de Africanos.
Mas, tal como muitos, considero que não era possível ter sido de modo muito diferente, por razões diversas:
- porque os impérios já tinham ido menos o nosso, 

- porque o processo estava completamente inquinado /minado internacionalmente e particularmente por vários países com a URSS à cabeça, e com a grande ajuda dos EUA,

- dos políticos e dos militares aqui no Continente,

- dos militares que estavam em África.

Mas a descolonização é um aspecto secundário, é a minha opinião.


Portugal estava muito atrasado em muitos domínios, quando comparado por exemplo com, a Bélgica, países Nórdicos, Holanda, Dinamarca, Luxemburgo, etc.

Índice de mortalidade infantil brutal. Censura dos OCS.
Escolaridade muito baixa, milhares de crianças a não acabarem sequer a 4ª classe.
Assistência médica muito difícil. O partido único, a polícia política, tribunais plenários.
Pobreza enorme em muitas partes do país; na Madeira por exemplo, em 1974 ainda havia quem em grutas vivesse.
Crescentes problemas económicos e sociais, etc.
As colónias tinham que ser países independentes.
Portugal tinha que mudar, e só era possível mudar para muito diferente.

Mudou, felizmente. FELIZMENTE.

A relação transatlântica manteve-se, porventura melhorou.

Inteligente e rapidamente pediu-se a integração na CEE.
A negociação de anos para entrada na CEE creio que foi difícil, complexa, e o Euro ter ficado a valer uns pózinhos mais que 200 escudos foi-nos muito prejudicial, creio.

Temos desperdiçado muita ajuda financeira, tem havido muita corrupção, tenho dúvidas sobre se muitos dos fundos não foram parar a fundos bolsos.

A seguir ao 25 de Abril de 1974, umas horas depois, não havia um único déspota, um único fascista, todos revolucionários, todos democratas.

Particularmente a seguir ao verão de 1974 houve muitos saneamentos, nas Forças Armadas, em muitos sectores da máquina do Estado, e houve certamente muito exagero e muita perseguição, algumas muito provavelmente de duvidosa justificação.

Mas, curiosamente, os juízes de 24 de Abril de 1974, foram intocados.
Será que isto explica, ainda que ligeiramente, algumas coisas do presente?

Mas porque aconteceu o 25 de Abril de 1974?
Mas porque razão, em menos de dois anos, um relevante  grupo de militares sobretudo do Exército nacional planeou e executou o golpe militar de 25 de Abril de 1974? 

Foi obviamente a guerra.
Foi obviamente o cansaço da guerra e o cumprir comissões de 24 meses umas atrás das outras em África.

Foi obviamente sobretudo uma questão corporativa, e no início não se tratou de iniciar uma revolução pela liberdade. 
Mas, como bem sabe quem é intelectualmente honesto, muitos dos que combatiam em África sabiam bem/ conheciam bem, a sociedade portuguesa que então existia, e como se vivia.

Questão corporativa de Junho a Setembro de 1973. 
Desta data a Fevereiro de 1974, questão corporativa, mas tomada de consciência clara da necessidade de dar solução política à guerra colonial.
Fevereiro a Abril de 1974 ficou claro, decisão de derrubar o governo e o regime, organizar o golpe militar.

Questão corporativa, particularmente despoletada a meu ver por dois casos concretos:

- o Congresso dos Combatentes do Ultramar realizado de 1 a 3 de Junho de 1973, do qual o poder de então desejaria que saísse vencedor um conceito de que era militar a solução para o problema colonial; 
obviamente que não era solução nenhuma, e vários assim o entendiam e por isso discordaram e protestaram, e isso germinou;

- a legislação, particularmente o tristemente célebre DL 353 que permitiria que milicianos rapidamente entrassem nos quadros de oficiais do Exército; faltava carne para canhão; natural e compreensivelmente, explodiu o descontentamento profissional.

Passaram 50 anos.
Muito foi feito, há muito por fazer.
Ouvi os discursos desta tarde na Assembleia da República
Saliento dois que me agradaram.

A representante do PSD, mostrou-se um exemplo de mulher, um discurso límpido que, estou convencido, as esquerdas teriam aplaudido se escutassem de olhos fechados e não soubessem a sua filiação partidária.

E Aguiar-Branco (que ao longo dos anos me mereceu muitas críticas) fez quanto a mim um belíssimo discurso.
E para lá de significativos e relevantes sinais e decisões já havidos neste seu ainda curto mandato, disse uma coisa fundamental: RESOLVER.

Como no meu blogue tenho enfatizado, chega de conversa, de promessas, de dizer como hoje ouvi - é o que temos de fazer.

Porque o não fizeram já?
Porque o não fizeram já?
Porque o não fizeram já?
Os resultados à vista deviam envergonhar uns quantos das loas e outras coisas.

A revolução dos Cravos tirou o país do isolamento internacional, prometeu Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. 
Temos Liberdade, democracia, Estado de direito ainda que com problemas por resolver.
Mas o terceiro D de Desenvolver está muito coxo. 
Como bem referido já por vários, é uma vergonha o nível de pobreza existente em Portugal.

Depois admiram-se e preocupam-se (e eu não menos preocupado estou) com o que por exemplo ouvi esta manhã, ia a sessão a meio.

António Cabral (AC) 

Sem comentários:

Enviar um comentário