Gen. Ramalho Eanes, ex-Presidente da República
Acabei de almoçar uma magníficas iscas de fígado de vitela, acompanhadas de um bom vinho tinto de Pegões, amaciadas depois com duas muito boas maçãs assadas.
Tudo feito em casa, menos o vinho, naturalmente.
Preparado e cozinhado por "MOI"!
Depois do café fui usar a tecnologia para ver e escutar a entrevista que passou ontem na RTP1, com Fátima Campos Ferreira a entrevistar o ex-titular do órgão de soberania.
E aqui estou.
Do que ouvi saliento apenas algumas coisas para não ser demasiado maçador.
Mas antes do concreto, dizer que dá gosto ouvir um homem sereno, culto, muito sóbrio, sabedor, e nada parvo.
Foi muito claro quanto ao 25 de Novembro de 1975.
Mas mesmo com homens como Eanes, que concordou e concorda inteiramente, E BEM, que nenhum partido devia ter sido ilegalizado naquela época, como aliás nenhum deve ser agora ilegalizado pelo mesmo tipo de razões então invocadas, é lamentável que muitos continuem a tentar desmentir o que tentaram e o que se passou, e passou-me muita coisa má, e muitos desses tiveram responsabilidades directas.
Depois andaram, por exemplo, à pressa, a tentar desfazer-se de armas.
Eanes foi muito claro, certas esquerdas, naquela altura, nada ajudaram a democracia.
Eu sei que houve também, deploravelmente, MDLP e etc., alguns dos quais hoje inchados de soberba, no comentariado e etc.
Como Eanes, lamento que estigmatizem o 25NOV75, e DEPLORO que safardanas se queiram apropriar dessa data como donos exclusivos, nomeadamente ultra-radicais.
Como Eanes, não tenho dúvidas que entre 25 de Abril de 1974, e 25 Novembro de 1975 houve, muita má fé, muita fixação ideológica, e muita pouca vergonha.
Como Eanes, os fundos Europeus deram boas ajudas até agora, na actualização de empresas, na formação de trabalhadores, etc.
Mas, digo eu, os primeiros anos dos fundos sobretudo para empresas e formações deram a alguns gabirus uma liquidez brutal que permitiu depois adquirirem grande parte das maiores empresas nacionais. Uma pouca vergonha, a par de ausência de controlos nesses anos.
Como Eanes, as eleições livres é que devem determinar o rumo do país, e são os cidadãos através delas que substituem deputados, governantes, Presidentes da República.
Como Eanes, deploro que sobretudo PSD e PS continuem de candeias às avessas, o que impossibilita consensos alargados para resolver problemas essenciais da nossa sociedade.
Como Eanes, deplorável o grau de pobreza existente e crescente na nossa sociedade.
Esta é, indiscutivelmente, uma NEGRA marca do regime democrático.
A sociedade portuguesa não é uma sociedade unida, salientou Eanes e eu concordo em absoluto.
Quanto às forças armadas, Eanes fez considerações várias com a quais concordo na grande maioria.
Desde logo a frase - quase tudo está mal nas forças armadas.
Eanes abordou levemente a norma constitucional que define o PR como Comandante Supremo das Forças Armadas, e percebi que discorda dela, nos termos práticos existentes. Eu também.
Eanes podia ter aproveitado para esclarecer porque vetou no final de 1982 a Lei de Defesa Nacional (conhecida por Lei Freitas do Amaral), sendo depois obrigado à sua promulgação.
Como Eanes referiu, e eu no meu blogue ao longo do tempo nisso tenho falado, no presente Portugal fabrica praticamente zero no que respeita a armamento, componentes e sobressalentes.
Mas temos gentalha que tem vivido à conta das "pomposas indústrias de defesa"!
O estado do Arsenal do Alfeite é um dos exemplos mais eloquentes do que certa gente tem feito ao longo dos anos.
Eanes lembrou a pouca vergonha de tudo à volta da "condição militar", que tem legislação diversa de enquadramento, em que grande parte está por cumprir por responsabilidade directa de sucessivos governos PSD e PS, mas com ainda maiores responsabilidades dos Rosa!
Às tantas, face ao momento nacional e sobretudo internacional, FCFerreira interrogou se não se devia equacionar um governo de unidade nacional. Enfim!
Eanes respondeu-lhe bem.
Enfim, não quero maçar mas Eanes podia, por exemplo, ter elaborado sobre as revisões constitucionais nomeadamente a de 1982 (sussurrou umas coisita), sobre o Conselho da Revolução, sobre os seus tempos iniciais de acumulação como Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, etc.
Tenham um bom fim de semana. Saúde.
António Cabral (AC)
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