terça-feira, 26 de novembro de 2024

25NOV2004, AR, Sessão Solene sobre 25NOV75
Houve recepção protocolar ao PR, ouviu-se o Hino Nacional, houve rosas brancas. Pessoalmente, vejo como mais apropriado lembrar este nebuloso evento de forma mais marcada em 25NOV2025 ou seja, ao passarem 50 anos sobre essa data. Adiante.

Os Capitães de Abril fizeram o 25ABR74. Apenas eles.
Foi uma revolta militar, um movimento militar. Particularmente no Exército, havia imensos oficiais que já tinham três ou quatro comissões militares em África, de 21 ou 24 meses. É fazer as contas, como dizia o outro. É imaginar o desalento, o cansaço, e recordar os milhares de mortos e feridos e traumatizados sem fim.

Mas a boa "inundação" popular transformou a revolta militar.

Muitos dizem que imensos oficiais das Forças Armadas (FA) tinha formação política. Eu prefiro dizer que eram vários, porventura mais na Marinha de Guerra (como então se designava a Marinha) e no Exército. Melo Antunes mostrou ser um deles, com uma bagagem intelectual e política muito superior à dos restantes.

Alguns desses, ao longo dos anos, olharam com superioridade às vezes mesmo quase a roçar um quase condescendente mas delicado desdém para outros camaradas de armas, até para alguns dos seus próprios cursos de formação na Escola Naval e na Academia Militar.  

Um dos problemas que persiste na sociedade portuguesa incluindo nos militares nomeadamente desde os tempos da guerra em África até particularmente aos anos 90 do século passado, é esta irritante superioridade moral e de supostos conhecimentos que só eles teriam, os vanguardistas, e o resto da ignara plebe pouco ou nada.

Conheço particularmente um militar, almirante reformado, e que é o meu melhor amigo militar, e conheço muito da sua vida e particularmente da sua família alargada.

Esse meu amigo teve, na família alargada, por exemplo, um tio por afinidade que quase não conheceu. Era casado com a irmã mais nova da sua avó materna. Era um homem de família muito abastada, de Portalegre, e foi o primeiro a dar vivas à República naquela cidade. Depois, foi preso durante o Sidonismo, e esteve uns meses detido nas masmorras do Forte de São Julião da Barra (hoje tutelado pelo chamado Ministério da Defesa Nacional (MDN) mas de facto ministério da tropa, apenas). Há época, quando a maré ficava cheia, os presos "ficavam todos contentes" com água salgada algures por meio da canela. Essas masmorras, foram eliminadas depois do 25ABR74 e, no presente, são um espaço para grandes recepções oficiais.
Essa estada no forte foi o começo do fim dele.

Esse meu amigo almirante teve um outro tio, bastante mais novo, casado com a irmã do pai. 
Era um relativamente calmo homem do reviralho. 
Foi durante algum tempo professor na velha Fragata D. Fernando II e Glória que, fundeada no Mar da Palha, albergou durante anos a Escola de Marinheiros da então Marinha de Guerra. 

Fragata que foi quase toda consumida por um incêndio, e recuperada mais tarde para a Expo 98.
Escusado será dizer que esse tio foi lá professor pouco tempo, depois teve de ir para Angola. Coisas da "política" dessa altura. Foi por esse tio que ao meu amigo almirante foram aparecendo luzes "políticas", foi por ele que os títulos de certos livros e certas revistas foram sendo conhecidos. Nunca percebi como é que esse tio do meu amigo almirante era íntimo de Rosa Coutinho.

Mas voltando ao 25 de Abril, cedo se verificaram clivagens no MFA.
Creio que elas sempre existiram mas foram sempre relegadas para segundo plano até . . . . . ser conveniente? 

E a propósito de clivagens, a solenidade de hoje evidenciou que clivagens persistem. E persistem algumas alarvidades.
Se há críticos ferozes de Marcelo Rebelo de Sousa eu sou um deles. Isto dito, ouvir uma tonta dizer que ele desvalorizou a Constituição leva-me a procurar adjectivos para qualificar a afirmação. Eu respeito, SEMPRE, a opinião de outrem, concordo ou discordo. Neste caso, discordo liminarmente, e convicto continuo de que a criatura é mesmo tonta.

Passou mais um 25NOV e quem sabe e está vivo continua a querer manter-se o "dono disto" e sobretudo o dono do 25 de Abril e do 25NOV75.

E não explicam o que realmente se passou.
Há dias já aqui deixei uma série de perguntas que gostava de ver definitivamente esclarecidas. Creio que o tabu vai continuar.

Mas, casualmente, fui chamado há bocado à sala e segui uma boa parte  do documentário de 2000 feito pela RTP e passado agora na RTP3.
De tudo registei declarações de Otelo e de Vasco Lourenço e Rosa Coutinho.

Pelo que ouvi, fico mais convicto de que o PCP e Álvaro Cunhal já não controlavam muita coisa, estavam a ser ultrapassados pelas esquerdas radicais.
Pode afirmar-se que a famosa declaração de Melo Antunes foi a confirmação do que fora combinado com Cunhal, quer por Melo Antunes quer por Costa Gomes? Cheira-me que sim.

Para lá das minhas já citadas dúvidas uma das coisas que gostava de ver bem esclarecidas era sobre o enquadramento e o controlo do processo dos pactos MFA-partidos políticos. Mas vai ser outra coisa que não vou ver clarificada.

Culminou no 25NOV75 uma corrida que existia há meses entre, Otelo e esquerdas várias de um lado, PCP e suas organizações por outro, e PS e partidos à sua direita coligados com os militares moderados e com esquerdóides tipo MRPP, AOC, PCP-ML?
Creio que sim.

Uns dizem que é ultrajante reescrever a história.
Outros, ao reescrevê-la, já não acham ultrajante.
Outros, ao não contarem as verdades, não acham ultrajante.
Outros ainda, consideram que a história reescreve-se, dia após dia, tal como se constrói, dia após dia.

Por mim e como já escrevi, com o 25NOV75 colocou-se algum juízo nisto tudo.
E, como tantas vezes aqui escrevi e sempre o disse verbalmente em família e com amigos, felizmente vivo neste regime, o que não quer dizer que não me revolte com muito do que acontece.

Estou um bocado farto dos arautos que se arrogam da sua legitimidade e autoridade histórica mas, como lhes é típico, pedem sempre desculpa dos erros, não param de os continuar a cometer, não param com a demagogia e a mentira, não decidem, e sempre demonstram que a cultura do verbo/ da palavra/ da oratória, se sobrepõe à cultura da acção, em que esta é que pode mudar a sociedade. Não as tretas.

E assim têm ajudado ao longo de anos a aparecerem certos eleitos que dizem barbaridades como hoje ouvi num dos últimos discursos na AR. Barbaridades é dizer pouco!

Estou farto de consensos pela inação.
Estou farto de folclores de amanhãs que cantam e de malandragem radical.

E sim, parece-me razoável dizer-se que a liberdade veio felizmente com o 25 de Abril de 1974 e que a partir de 25NOV75 ela não se perdeu.

António Cabral (AC)

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