27NOV2024
"A extrema-direita estava escondida à espera do seu momento. O 25 de Novembro abriu-lhe o espaço todo"
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Nós estávamos de prevenção rigorosa às ordens do Presidente da República. Nesse dia eu estava no COPCON [Comando Operacional do Continente] e, quando lá estava, recebe-se a notícia de que os paraquedistas tinham ocupado as bases aéreas. Aquilo pareceu-me um bocado estranho e resolvi imediatamente ir para o Regimento. Aliás, eu disse: "Isto cheira-me a 'golpaça'." Falei com o comandante e chegámos à conclusão de que íamos estar do lado dos paraquedistas, sem saber exatamente o que era. . . . . . . .
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"A extrema-direita estava escondida à espera do seu momento. O 25 de Novembro abriu-lhe o espaço todo"
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Nós estávamos de prevenção rigorosa às ordens do Presidente da República. Nesse dia eu estava no COPCON [Comando Operacional do Continente] e, quando lá estava, recebe-se a notícia de que os paraquedistas tinham ocupado as bases aéreas. Aquilo pareceu-me um bocado estranho e resolvi imediatamente ir para o Regimento. Aliás, eu disse: "Isto cheira-me a 'golpaça'." Falei com o comandante e chegámos à conclusão de que íamos estar do lado dos paraquedistas, sem saber exatamente o que era. . . . . . . .
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E ele: "Ó pá, quem disparou primeiro?" E eu respondo: “Quem mandou cercar a unidade militar por outra unidade militar foi quem disparou primeiro." Aquilo já não havia nada a fazer, não é? E eu, o Campos Andrada e o Cuco Rosa fomos por aqui abaixo, nas calmas para Belém, a pé. Em Belém, almoçámos um bacalhau com batatas, muito bem feito. Era para Presidente e companhia, com aquela malta toda, os atacantes e os atacados... Agora a questão fundamental aqui é: como é que eles conseguem explicar a tese de que havia um golpe contra o Estado ou contra o poder instituído dos “esquerdistas”? Daqui a Belém são 150 metros. Nós aqui tínhamos quase dois mil armados de G3. Eu uma vez, aliás, num debate na RTP com o Vasco Lourenço, perguntei-lhe assim: "Olha lá, então a gente estava a fazer um golpe? Qual era a força que vocês tinham para defender o Presidente da República?” Ficou a olhar para mim, sem resposta. E eu disse-lhe assim: “Tinham lá um sentinela, não era?” Portanto, o golpe foi deles. Foi preparado a partir de Tancos que definiu politicamente isto.
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Eu tenho a minha opinião. Os pára-quedistas foram tramados.
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Eu tenho a minha opinião. Os pára-quedistas foram tramados.
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Portanto, tínhamos um Governo bombista como os bombistas que o apoiavam e com quem ele se entendia bem e o próprio Conselho da Revolução entendeu-se bem com os bombistas. Estavam dispostos a tudo, por quê? Porque não eram capazes de aguentar politicamente o movimento popular que sai do 25 de Abril. Um movimento popular é a única coisa com força transformadora.
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A partir dai, a gente não se pode esquecer que os soldados já tinham assumido a ação política, acompanhavam o movimento popular e manifestavam-se. Aquilo de que as portas que o 25 de Abril abriu, nunca mais ninguém fecha é mentira. Foi fechada por estes gajos.
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Acho que o Otelo, sabendo o que sabia, que sabia mais que eu, com certeza acho que se portou bem. Fez aquilo que tinha a fazer. Não aceitou um confronto militar.
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O confronto militar levava uma guerra civil?
Não. Isso é a atoarda do Mário Soares. Eu pergunto: guerra entre quem? As unidades chamadas revolucionárias eram quatro ou cinco. As outras estavam todas feitas com o travar do movimento popular, impedir que ele se desenvolvesse. Qual era a guerra? Eles tinham os aviões todos. Não havia guerra civil nenhuma e até a UDP caiu um bocado nisso. Não havia guerra civil nenhuma. Eles tinham tudo, tudo, tudo. Toda a força militar era deles.
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Sim, a extrema-direita estava escondida e estava à espera do seu momento. O 25 de Novembro abriu-lhe o espaço todo. O grande herói do 25 de Novembro é o Jaime Neves. Ele não participou no 25 de Abril, fingiu que participou. Jaime Neves não cumpriu as missões que lhe estavam distribuídas que era prender os comandantes daqui e dali que era onde estava a força que se podia opor ao Salgueiro Maia. Ele não fez isso, passou a noite nas calmas e depois apareceu a mostrar-se. Aliás, ele tinha dito ao Otelo que se soubesse que era para sair de África, não tinha alinhado. Ele foi obrigado a alinhar, sem alinhar, depois contemporizou, digamos assim, com balanço.
E o PREC acaba mesmo no 25 de Novembro ou acaba antes, em setembro, em Tancos?
Em Tancos, há uma transformação política em que a esquerda militar ficou com a sua capacidade de intervenção diminuída, a sua capacidade de intervenção. A capacidade de intervenção da esquerda militar era fundamentalmente o povo em movimento, o movimento popular e a participação dos soldados. Mas depois havia os oficiais que compatibilizavam com isso ou que apoiavam isso, etc. Isso tudo levou uma machadada grande em Tancos. Mas o movimento continuava muito diminuído, porque, por mais que a gente ache que o movimento era fundamental e foi, tinha o guarda-chuva do MFA e, portanto, a independência do movimento popular - que era grande, era forte - contava muito com o MFA bonzinho, não é? Entretanto, isto reduziu-se bastante, partiu-se tudo. Aliás, o MFA partiu-se e isso teve consequências também no ímpeto revolucionário.
Quando é que sentiu que o golpe estava a ser preparado?
O meu pensamento era mais político do que militar. A participação militar era no apoio ao movimento popular. Podia ser um bocado ingénuo, mas, do meu ponto de vista, a revolução popular tinha de ser assumida pelos soldados e pelo povo, pela malta da reforma agrária. Isso é que era interessante. O resto eram as conspirações de corredor. E soube que eles fizeram uma lista dos malandros a prender. Isso mostra que eles é que foram os golpistas.
E estava na lista?
Claro, então não havia de estar? Se não estivesse é que eu desconfiava de mim próprio. Aquilo foi mesmo uma 'golpaça' urdida com os apoios da CIA, do Carlucci, dos alemães, dos franceses. . . . . .
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O confronto militar levava uma guerra civil?
Não. Isso é a atoarda do Mário Soares. Eu pergunto: guerra entre quem? As unidades chamadas revolucionárias eram quatro ou cinco. As outras estavam todas feitas com o travar do movimento popular, impedir que ele se desenvolvesse. Qual era a guerra? Eles tinham os aviões todos. Não havia guerra civil nenhuma e até a UDP caiu um bocado nisso. Não havia guerra civil nenhuma. Eles tinham tudo, tudo, tudo. Toda a força militar era deles.
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Sim, a extrema-direita estava escondida e estava à espera do seu momento. O 25 de Novembro abriu-lhe o espaço todo. O grande herói do 25 de Novembro é o Jaime Neves. Ele não participou no 25 de Abril, fingiu que participou. Jaime Neves não cumpriu as missões que lhe estavam distribuídas que era prender os comandantes daqui e dali que era onde estava a força que se podia opor ao Salgueiro Maia. Ele não fez isso, passou a noite nas calmas e depois apareceu a mostrar-se. Aliás, ele tinha dito ao Otelo que se soubesse que era para sair de África, não tinha alinhado. Ele foi obrigado a alinhar, sem alinhar, depois contemporizou, digamos assim, com balanço.
E o PREC acaba mesmo no 25 de Novembro ou acaba antes, em setembro, em Tancos?
Em Tancos, há uma transformação política em que a esquerda militar ficou com a sua capacidade de intervenção diminuída, a sua capacidade de intervenção. A capacidade de intervenção da esquerda militar era fundamentalmente o povo em movimento, o movimento popular e a participação dos soldados. Mas depois havia os oficiais que compatibilizavam com isso ou que apoiavam isso, etc. Isso tudo levou uma machadada grande em Tancos. Mas o movimento continuava muito diminuído, porque, por mais que a gente ache que o movimento era fundamental e foi, tinha o guarda-chuva do MFA e, portanto, a independência do movimento popular - que era grande, era forte - contava muito com o MFA bonzinho, não é? Entretanto, isto reduziu-se bastante, partiu-se tudo. Aliás, o MFA partiu-se e isso teve consequências também no ímpeto revolucionário.
Quando é que sentiu que o golpe estava a ser preparado?
O meu pensamento era mais político do que militar. A participação militar era no apoio ao movimento popular. Podia ser um bocado ingénuo, mas, do meu ponto de vista, a revolução popular tinha de ser assumida pelos soldados e pelo povo, pela malta da reforma agrária. Isso é que era interessante. O resto eram as conspirações de corredor. E soube que eles fizeram uma lista dos malandros a prender. Isso mostra que eles é que foram os golpistas.
E estava na lista?
Claro, então não havia de estar? Se não estivesse é que eu desconfiava de mim próprio. Aquilo foi mesmo uma 'golpaça' urdida com os apoios da CIA, do Carlucci, dos alemães, dos franceses. . . . . .
Isto ajuda a esclarecer o 25NOV75?
AC
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