Um fado tão velho...08 de janeiro de 2025
Eduardo Dâmaso, CM
Depois do fartote construtivo dos anos 80 e 90, que descaracterizou uma boa parte do Litoral, zonas verdes e mesmo cidades inteiras, regressa a velha tentação de agilizar um pouco mais a relação da construção civil com os solos rurais, que possam servir para semear mais cimento e betão. Tudo em nome do superior interesse de enfrentar a crise da habitação. Obviamente. Os preâmbulos ou disposição de motivos desta legislação, como, agora, da sétima alteração à lei dos solos, são sempre grandiloquentes na enumeração de valores e princípios. Sempre tudo muito certo e bonito. O problema está na aplicação prática da lei. Podem prometer muito, bater no peito sobre tão nobres intenções, que a realidade se encarrega de mostrar o contrário. Há décadas que a construção nova está orientada para o segmento de luxo e não promove nenhuma baixa de preços. Há décadas que se constrói tragicamente em zonas verdes e leitos de cheia, inclusive. Há décadas que os partidos são insuflados com dinheiro da construção civil. Há décadas que os compromissos entre uns e outros são inconfessáveis. Há décadas que o metro quadrado é uma das melhores moedas da corrupção portuguesa. Podem distribuir betão à vontade, se tiverem votos para isso, mas por favor não usem a areia para nos cegar. Este fado é demasiado velho para que não saibamos todos os seus versos e ritmos.
(sublinhados da minha responsabilidade)
AC
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