quarta-feira, 16 de abril de 2025

AGORA  PINGUINS
Falou-se de PINGUINS, melhor, galhofou-se . . . eh . . . eh . . . olha olha, tarifas sobre pinguins.
Agora recordam-se declarações, posturas, decisões, legislação, tudo do passado, como por exemplo este discurso de Ronald Reagan.

Agora . . . . toma lá taxa . . . . suspendo por uns dias . . . . toma lá taxa . . . . ai é . . . toma lá tu agora uma taxa violenta . . . . e não te compro aviões . . . . e olha os "chips" . . . 

Antes de continuar, deixar nota de que não sou economista nem tenho formação financeira.

Mas de algumas coisas tenho a certeza:
* Trump é, para mim naturalmente, um ser insuportável por todas as razões, mas não é certamente um bronco completo; é um doido varrido, a fazer teatro, péssimo teatro, na minha opinião para "epater les bourgeois" quanto a problemas concretos e complexos e difíceis na economia e na indústria americanas, coisa que vem pelo menos desde os tempos de Obama,

* em todos os discursos e posições, tal como no sempre badalado Krugman, é preciso ler mais do que nas entrelinhas, ler o que não está escrito ou dito, ou está disfarçado/ distorcido,

* as circunstâncias da vertente externa dos anos 70, 80, 90 do século passado são completamente diferentes do século XXI.

Por cá e lá por fora, por um lado galhofa-se com várias coisas que são vomitadas por Trump (também acharam o Carter um tolinho vendedor de amendoins . . . ), por outro, muitos dos que protestam contra o protecionismo olham para o lado quanto ao protecionismo e ao "dumping" praticados por imensos países a começar pela China, que o pratica há muitos anos.

Algumas piadas e "cartoons" são verdadeiramente deliciosos, verdadeiras maravilhas, opinião pessoal naturalmente.

Naturalmente, nada disto invalida o que penso do oxigenado. Péssimo.

Mas a questão é bem mais funda, complexa, e não sei para onde tudo se vai encaminhar. 
Houve uma inarrável encenação com quadro nos jardins da Casa Branca, depois mais detalhes e ordens executivas (que palhaçada), depois, mais cancelamentos de tarifas, depois tirar telemóveis e outras coisas do cabaz de material a castigar com tarifas, etc. Deplorável!

Ir ao fundo das questões, urgentemente, com rigor e ponderação, e detalhe económico e financeiro, perceber-se o que está para lá dos teatros e dos vómitos do Trump . . . . isso é que vários dos "spinsdoctors", opinadores, pés de microfone, muito jornalismo, e até premiados disto e daquilo, isso é que não, dá muito trabalho esmiuçar tudo ao pormenor. Será que lhes convém?
Basta ficar pela fantochada do oxigenado, trocarmos bonecada pelas redes sociais. Giras por sinal.

Ah, naturalmente, que a candidatura do Louçã e dos outros dois "seniores", vai acabar com o Trump, vai repor as regras internacionais de comércio agora estioladas! Que, se calhar, no passado, eles criticaram!

É como estamos. Dificilmente isto terá conserto!

Que temos pela frente? Diria o bom do La Palisse:
- incerteza abissal,
- impactos económicos de imprevisível consequência, 
- a China está irritadíssima, as decisões da retaliação isso mesmo mostram; mas nunca pararam com o dumping caseiro,
- não creio que na China, em toda a Ásia, em África nas Américas Central e do Sul, paguem aos trabalhadores como na Europa, onde se tem em conta múltiplos factores sociais e ambientais, 
- temos pela frente, cá e lá fora, os estadistas e os estatistas, assumidamente proteccionistas noutros tempos, sempre protectores de produção local e sempre a protestarem e, aparentemente, adeptos do liberalismo económico, 
- haverá recessão? crescerá a inflação quer nos EUA, quer na Europa, por exemplo?
- que reações, e que decisões a curto/ médio prazo do FED dos EUA, BCE, Banco de Inglaterra, Banco Central Alemão?
- os preços vão certamente subir, todos, embora Trump diga que o preço da energia está a baixar, e mais os ovos, e que está a entrar muito dinheiro nos EUA,
- Trump, em termos concretos, fez uma declaração de guerra, guerra económica; e estamos em guerra, a sério, só não há mortandades humanas, mas virão, a prazo, fome, pobreza, 
- Os EUA querem, rapidamente, creio, desvalorizar o dólar, atrair investimento estrangeiro, e descer o valor do que a China tem em carteira da dívida dos EUA,
- Trump quer forçar a reindustrialização dos EUA, daí procurando efeitos também para redução do défice do país e o défice comercial. 

Como grande ignorante destas coisas posso estar enganado, mas a essência disto tudo é, para mim, a CHINA e alguns outros países asiáticos. 
Os EUA, estarão a ficar convencidos, FINALMENTE, que perderam muito dos avanços tecnológicos que tinham sobre os outros?

Alguns referem e de certa maneira com alguma razão, que Trump 
viola agora as obrigações perante a Organização Mundial de Comércio (OMC). 
Mas o que acho curioso, entre outras coisas, é que quem faz certas críticas talvez não tenha declarado no passado guerra verbal às práticas da China e de outros asiáticos.

Claro que os EUA ajudaram a edificar o GATT (Acordo Geral de Taxas Aduaneiras e de Comércio) de 1947, e mais tarde o que vigora agora, a  OMC, ou melhor, o que até há semanas vigorava.

Com esta palhaçada de definição de tarifas para quase todos os países do mundo por parte dos EUA, com o anúncio de entrada em vigor do tarifário, com o protelamento de muitas tarifas, com o adiamento depois para alguns, com um apertão fortíssimo sobre a China, com a violenta retaliação formal da China, com o Trump a dizer que espera chegar em breve a um acordo comercial com a China, com a Ursula a dizer que espera chegar a um bom acordo com os EUA, etc., em que ponto concreto está o mundo comercial?
Um pastelão!

Será mesmo o fim de uma era de progressiva liberalização das trocas internacionais?

No meio deste aparente terramoto, é sempre curioso recordar certa esquerdalhada que não há muito berrava contra a OMC e agora . . . . 

A que cheira a indignação dos países Europeus e designadamente dos que incorporam a UE? Aplicar tarefas aos carros chineses já não é problema?

E que tal olhar para dentro de "casa"? 
Ou o assobiar para o ar a ver se não percebemos a incoerência grosseira da própria UE que dentro de portas tem barreiras de facto? 

Esta palhaçada recorda-me a eleição presidencial em 1992, nos EUA, em que um dos candidatos era um ricaço chamado Ross Perot.
Assisti (estava em representação do país em Haia) a vários episódios da campanha eleitoral.

Recordo como se fosse hoje, quando ele dizia que os EUA tinham que ter e continuar a manter um grande avanço tecnológico sobre os países que um dia poderiam ameaçar os EUA.
Batatas fritas, produtos congelados, bonés, T shirts, etc., tudo isso devia ficar para os países da América Central, o México, China, etc.
Os EUA deviam manter a liderança em computadores, satélites, foguetões, armamento, nuclear, aviões, energia, espaço, etc.

Qual era a América do Norte que existia em 2000, e a que existe hoje?

As empresas norte-americanas dependem da obtenção de muitas  matérias-primas e outros produtos indispensáveis à sua atividade.
Os EUA são ricos em muita coisa, mas também precisam de muita coisa de fora. A queda da siderurgia é um dos seus dramas. E os chips?

Não deve haver dúvidas, estamos em plena guerra EUA-CHINA/ Ásia.

Pessoalmente, para lá dos vómitos e péssima representação do louco   oxigenado, creio que a procissão está ainda dentro da igreja.

Aguardemos.
António Cabral (AC) 

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