Faleceu o coronel Carlos de Matos Gomes.
Sinceras condolências à família.
O triste desaparecimento (prematuro, por doença) deste militar recorda-me várias coisas.
Recorda-me,
- a guerra em África e concretamente a guerra na então Guiné entre as forças do PAIGC e as nossas forças armadas.
- o difícil ano de 1973,
- a morte /assassinato de Amílcar Cabral em Janeiro desse ano,
- o interregno de combates depois disso, PAIGC um pouco aturdido,
- o reacender ainda mais violento da guerra salvo erro a partir de Março desse ano ,
- o início do abate de aviões por parte do PAIGC,
- o ataque ao navio onde eu servia como oficial imediato no cumprimento da comissão de serviço que me fora determinada,
- e Carlos de Matos Gomes.
Conheci fugazmente este militar do Exército, esteve no navio por duas breves ocasiões.
Foi fácil perceber que era um dos que já conspirava, com outros, pois o 25 de Abril teve como um dos pontos de partida fortes exactamente as reuniões de vários dos oficiais que na Guiné cumpriam comissões de serviço. E sentia-se o fervilhar, mesmo naqueles que como eu e muitos não viviam essa clandestinidade.
Carlos de Matos Gomes foi um dos oficiais que comandaram centenas dos nossos comandos na incursão complexa e difícil Senegal adentro, para destruir uma famosa base do PAIGC, de onde flagelavam os quartéis do Exército, como a mártir Guidage.
Kumbamori foi destruída.
20 de Maio de 1973, Guiné, ficou para a história da guerra em África.
O dia anterior, 19 de Maio, ficou na minha história de vida e nas dos restantes militares que compunham a guarnição do navio.
Pelas 2340 horas fomos atacados.
Podiam ter morrido muitos, eu incluído, mas houve vários feridos e um morto, por sinal um dos nossos comandos negros integrando uma pequena parte da força que retirou do Senegal e que o navio recolheu.
Sou, certamente, um dos muitos concidadãos que dele quase nada sabe, a não ser o esboço com que dele fiquei na Guiné e que acima já referi mas, sobretudo, o que dele conheço pelos seus livros de que tenho quase todos, pelas suas análises, e pelo que foi escrevendo e dizendo ao longo dos anos.
Mas, atrevimento que possa ser considerado, é do quadro que conheço que classifico este meu concidadão como um Homem Decente, e de Grande Honestidade Intelectual.
Descanse em paz Carlos de Matos Gomes.
António Cabral
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