FRANCISCO PINTO BALSEMÃO (1)
Estive a reler este livro que a minha filha mais velha me ofereceu no dia do Pai de 2022.
Estive a reler a partir da página 247 - Os primeiros anos da democracia.
Estive a reler a partir da página 247 - Os primeiros anos da democracia.
Muito do que li/ reli ajudou/ ajuda a perceber porque Portugal continua este país atrasado, onde os sucessivos titulares de órgãos de soberania não acabam com as desigualdades gritantes, e porque é ultrapassado por tantos países, e nomeadamente pelos da antiga cortina de ferro.
Na página 356, e depois na seguinte, recorda os terríveis condicionamentos à governação ao tempo em que foi PM.
Recorda,
- défice da balança de pagamentos, endividamento progressivo,
- limitações do Conselho da Revolução à iniciativa privada,
- dificuldade nas alterações às leis laborais,
- as diferentes e diversas intervenções de Ramalho Eanes e do Conselho da Revolução,
- as FP 25 e o PRP de Isabel do Carmo e Carlos Antunes,
- confrontos CGTP - UGT,
- ineficiência e falta de transparência da administração pública e das empresas públicas, incluindo desorganização, absentismo, corrupção,
- a excessiva centralização,
- quadro geral de indisciplina social,
- desrespeito da legalidade e das regras
- desobediência à requisição civil,
- intermediários encobertos e tantos outros cidadãos ganhando fortunas e nada pagando ao Estado,
- contrabando institucionalizado,
dificuldade em alterar estruturas internas,
- etc.
Balsemão realçou bastante que, a permissividade, a clandestinidade, a corrupção, impedem a solidariedade, a liberdade, a democracia.
Considerou errado e muito perigoso defender a licenciosidade em nome da democracia, atacar a actuação democrática disciplinadora, identificando-a com a repressão e a violência.
No final da página 357 Balsemão recordou o que disse em Janeiro de 1982 - a infração frequente das regras, a obsessão pelo golpismo de alcatifa, não se confinam às superestruturas políticas.
Alastram ou procuram alastrar às estruturas e às infra-estruturas da administração pública, às autarquias, às próprias máquinas partidárias.
Trata-se, no fundo, da tentativa de manter um regime informe e transitório, através do adiamento da resolução da questão do regime.
E Balsemão, quando escreveu as últimas linhas da página 357, mostrou o seu espanto - é impressionante como tudo ou quase tudo isto, se mantém plenamente válido e, portanto, por resolver, no início da 3ª década do século XXI.
Não é pântano, não é lodaçal, é tudo isso e muito mais.
Ciente de que nenhum de nós, cidadãos, tem 100 % de razão, ou está 100 % a ver mal as coisas, reler isto que Balsemão escreveu, e depois despido de ideologias patéticas olhar com rigor e isenção para a situação do Portugal do presente, para o tal "melhor país do mundo" que a super patética criatura glosou recentemente, cabe perguntar:
Estão resolvidas estas questões:
- do sistema de justiça,
- do gordíssimo Estado,
- da administração pública
- do sector empresarial do Estado,
- do combate eficaz à corrupção,
- da permissividade, do absentismo,
- do desrespeito pelo património que é de todos,
- do desrespeito da legalidade e das demais regras,
- da segurança,
- da defesa,
- da definição que forças armadas o país deve ter,
- do (des) ordenamento do território,
- da política fiscal,
- da prestação de cuidados de saúde,
- dos cuidados e assistência a crianças e idosos,
- da degradação dos espaços públicos,
- do descrédito da política,
- da progressiva fragmentação social,
- da industrialização do país,
- do controlo da imigração,
- das dificuldades de habitação em algumas zonas do país,
- do ensino,
- da colocações de professores,
- da habitual (de décadas) falta de escrutínio por parte da A.República,
- do despovoamento do interior,
- da gestão dos caudais de água dos rios nascidos em Espanha,
- do não haver NENHUM acesso a praias ilegalmente vedado,
- dos transportes públicos,
- da TAP,
- da ferrovia,
- das rodovias, auto-estradas, estradas nacionais e municipais,
- da promiscuidade entre negócios e política,
- da promiscuidade magistratura judicial-cargos políticos,
- da sustentabilidade da Segurança Social,
- do financiamento dos partidos políticos,
- da quantidade de fundações e observatórios,
- da comunicação social,
- da indústria e do comércio,
- da floresta,
- do fornecimento de água,
- das culturas intensivas,
- da agricultura,
- da cultura,
- das autarquias,
- das regiões autónomas,
- da poluição das águas e dos rios,
- da (não) fiscalização adequada das águas territoriais e ZEE,
- da inovação tecnológica
- do investimento público,
- do investimento estrangeiro,
- da banca,
- da poluição do ar, da poluição visual, do lixo?
ETC.
António Cabral (AC)

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