terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Malfeitores, ilusionistas, ilusões.
Ou, em outra versão, “já vi executivos a chorar”.
Maçando porventura quem quiser ter a gentileza de me ler recordaria que, malfeitor é aquele que comete crimes ou actos condenáveis, e ilusionista é o “artista" dedicado a produzir ilusões. 
A maioria dos meus concidadãos, presumo, associa as duas categorias à criminalidade muito, pouco ou nada violenta mas eu, há décadas, que tenho nesta lista a (maioria da) malandragem dos escritórios, dos aconselhadores, dos comentadores, dos senadores da República, dos empreendedores, da nata política à nata dos servidores em cargos públicos (autarcas por exemplo), e por aí fora. 
Lembrando o blogue onde durante alguns anos escrevi, e onde não terei sido sempre feliz nas minhas opiniões, porventura injusto alguma vez, a realidade tem-se encarregado de mostrar a justeza global da minha revolta ali periodicamente partilhada quanto à banditagem que vai destroçando Portugal no século XX e no presente.
E baseio-me tão somente no que sempre tem sido feito, variando apenas e consoante os “artistas” quer a dose quer os tons, com que essa gentalha injectou e injecta na nossa sociedade as ilusões, que procuram e conseguem quase sempre, vesti-las como realidades alcançáveis.
Alimentam esperanças que o tempo vai mostrando serem vãs, para não dizer trágicos desfechos.
A realidade é que vão, TODOS, nomeando “boys” com contratos mais alargados no tempo para que a banditagem que vem a seguir, se os despedir, ter que lhes pagar chorudas indemnizações.
E a desgraça, como repito periodicamente, é que a esmagadora maioria das pessoas acredita nas ilusões, para não ter que (presumo) reconhecer que essas esperanças são mesmo irrealizáveis.
A característica que mais evidencio, e é comum nestas gerações de malandros, TODOS, é o desprezo total e absoluto pela verdade. E é para mim evidente, que isto se deve dizer ainda mais rigorosamente, têm um desprezo total e absoluto pelo povo, pelo cidadão comum.
Os malfeitores tanto nos mandam ter cuidado, como nos atiram à cara que estamos bem demais e acima do que merecemos, como nos querem fazer crer que o que deles ouvimos nas TV não foi o que eles disseram, como o inefável actual inquilino de Belém. Os ilusionistas tanto nos apontam o dedo para encolher o cinto como nos dizem do alto das suas cátedras que afinal quem nos mandou apertá-lo estava completamente tolo e não mediu as consequências. E a esmagadora maioria dos meus concidadãos continua a creditar em tudo.
A esmagadora maioria dos meus concidadãos diz que como não podemos fazer nada, é deixar andar. Pois! E o terrível é ouvir isto de pessoas bem informadas e com formação mais do que universitária.
As ilusões em Portugal, e na Europa, prosseguem. 
Temos a Ucrânia que para a maioria dos europeus - isso é lá com os ucranianos e a Rússia -  temos a desindustrialização brutal na Europa e os europeus acham - ah, o estado social aguenta o desemprego - temos a diminuição da natalidade mais ou menos generalizada e os europeus - ah preciso é ir de férias para a neve ou Sul de Portugal e Espanha - e por aí fora.
Os malfeitores e ilusionistas riem-se disto tudo, riem-se de todos, enquanto vão amealhando fortunas com as formações que quase não deram nas suas empresas, enquanto rebentam/rebentaram com as fábricas da competição, enquanto engordaram na especulação na bolsa, enquanto preservam e desde o tempo de Salazar as propriedades lá fora algumas até em países que eram da esfera comunista, enquanto recebem dividendos brutais, e enquanto colocam há anos lá fora fortunas colossais. Se lhes apontam agora o dedo - isso é engano.
E depois, alguns ilusionistas políticos, de todos os quadrantes, e sempre depois de jornadas parlamentares, anunciam legislação para combater a corrupção, por exemplo. Dá vontade de rir? 
Onde está a legislação:
- que permita deitar imediatamente abaixo o construído à margem da lei, leia-se, PDM´s e legislação vária sobre regras para a construção civil?
- que impeça a acumulação por parte dos autarcas das várias empresas que as câmaras criam?
- que obrigue quem de repente evidencia fortunas a provar de onde lhe veio esse brutal e repentino provento?
- que impeça que para o mesmo caso os mesmos defendam o Estado e a seguir os opositores do Estado?
- que crie regras duras impedindo as falcatruas autárquicas como a passagem despudorada de terrenos agrícolas a urbanizáveis?
- e por aí fora, que a lista nunca mais acaba!
E o terrível é que a esmagadora maioria dos meus concidadãos deve estar a esta hora eufórica por estarem a vir nos OCS nomes de portugueses com fortunas não declaradas, sediadas numa filial Suiça de um banco inglês. Eufóricos -“estão a ser apanhados”, ingénuamente e ignorantemente eufóricos com estes “leaks”. A maioria nunca perceberá que os vários ex-PM do nosso País sabem destas coisas há anos, que existem há anos perdões fiscais, etc. Nunca perceberá que “offshores” não é uma coisa da Europa, é uma coisa a nível mundial, que não vai acabar. Um dia, na UE se ela ainda existir, decisões serão tomadas para minorar certas fugas aos impostos. Mas a Holanda e o Reino Unido, por exemplo, continuarão a privilegiar os negócios e a ter portanto políticas fiscais mais acolhedoras.
Os malfeitores e ilusionistas, no passado, estiveram-se nas tintas para o arrancar das vinhas, para a destruição da frota pesqueira, tudo sempre à conta do beneplácito dos subsidiozinhos. 
Serviços, Sol, turismo, sim, é importante, mas creio insuficiente para sustentar o estado social, que eu gostava que vigorasse e melhorasse, e não o contrário. Mas eu não tenho ilusões, e não me conformo com o deixa andar.
AC

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