quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

A  PROPÓSITO  de  COISAS  MILITARES
A propósito de coisas militares, na minha rotineira pesquisa na NET pelos OCS nacionais e internacionais, tropecei numa notícia recente do DN sobre as nossas Forças Armadas (FA), mais concretamente sobre uma carta de generais endereçada a Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República e Comandante Supremo das FA.
Li e reli e, depois, para cidadão comum  que sabe apenas um pouco mais que "poucochinho" sobre questões militares fui procurar outras coisas inclusive ao meu arquivo.
O título do artigo do DN (o jornal voltou ao tema em 25 de Fevereiro) fala em generais alertando Marcelo para a pré-falência das FA, através de uma carta formal assinada nomeadamente por três ex-chefes dos três Ramos das FA, oficiais que integram uma associação denominada GREI (Grupo de reflexão estratégica independente).

Os incautos, ao ler aquelas palavras, poderiam ficar alarmados.
Mas ficariam porventura menos desassossegados depois de, verificarem que a carta era assinada por reformados ex-chefes militares e,  também, depois de verem que a associação 25 de Abril não parece ter manifestado semelhante e vincado alerta.
Depois de consultar os meus arquivos, fica-me por exemplo a convicção firme de que designadamente a AOFA (Associação dos Oficiais das Forças Armadas) tem toda a razão quando afirma que nada do que a carta traz é novo, nada que a AOFA não tenha vindo a denunciar ao longo de pelo menos a última década. 
Quase parece uma estocada suave da AOFA. 
Uma alma retorcida será porventura tentada a pensar que os signatários da carta quiseram dar prova de vida. 
Quase parece aplicar-se a frase célebre - muitíssimo reservados no activo, muito activos na reforma.
Mas uma coisa é certa, e inegável, e tem mérito, conseguiram uma reacção escrita da parte de Marcelo. 
Já o teor da resposta do Comandante Supremo das FA...............

Das declarações dos partidos sobre o assunto, a que me pareceu mais séria e assertiva foi a do PCP pela voz de António Filipe - "o aviso dos generais tem razão de ser" - "embora não haja novidade nas situações descritas" - "estas situações não nasceram hoje" - "já eram denunciadas quando os generais eram chefes dos ramos -"os problemas são reais" - "a solução dos problemas exige vontade política muito forte" 
António Filipe disparou uma outra nota óbvia - é que estes generais que agora assinam a dita carta não podem isentar-se de alguma quota de responsabilidade. Mais que óbvio. 

António Filipe acrescentou algo para mim discutível - "o actual ministro da defesa parece querer resolver os problemas".
Será que, por exemplo, a recente reacção desse ministro quando interrogado sobre a questão da Marinha ir ficar sem navio reabastecedor de esquadra, se enquadra na afirmação do deputado comunista?

É que, salvo melhor opinião, um ministro que quando interrogado responde - vão perguntar à Marinha - fica definido nessa curta frase.
Porquê? Porque do que se trata é de uma questão política, de uma decisão política, e de inerente atribuição de verbas para obviar a grave lacuna que atingirá a Marinha a curtíssimo prazo, com evidentes prejuízos em termos de País. Não é - perguntar à Marinha!
Já agora, talvez se devesse lembrar a este tipo de artistas políticos (titulares de orgãos de soberania) porque umas vezes estão muito distraídos e na maioria das vezes muito incompetentes:  
"You have (or not) a Navy".
"You raise an Army". Period.

Só para ver se fica claro.

Quando se afirma que a actual e crescentemente gravosa situação no seio da instituição militar "começa finalmente a ser tema central na sociedade Portuguesa", considero que assim devia ser e há muito tempo.
Mas estou convencido que não é a realidade, infelizmente.
O cidadão comum, a esmagadora maioria dos cidadãos, está-se nas tintas para as questões militares, muitos cidadãos não percebem e pior que isso, nem se dão ao trabalho de pensar, na razoabilidade em termos militares destacados em diferentes locais do mundo, valorizando o País.
A esmagadora maioria dos cidadãos terá a noção que defesa nacional é o mesmo que FA, o que é um perfeito disparate, pois as FA asseguram tão só o último pilar da soberania nacional.

Mas neste assunto, entre outras coisas que achei muito curiosas, quer dos artigos do DN, quer das declarações partidárias, quer sobretudo da posição da AOFA, é a ênfase clara que a AOFA coloca e bem neste assunto. 
De facto, percorri exaustivamente documentação antiga e é para mim muito claro que ao tempo em que os signatários da carta eram responsáveis pela Marinha, Exército e Força Aérea, já há muitos anos que a AOFA alertava para a degradação no seio da instituição militar, no plano dos efectivos, nas questões das promoções, no reapetrechamento de material, nas remunerações, no aumento das vulnerabilidades do sistema de defesa nacional, na legislação diversa respeitante à instituição militar, no apoio social e sub-sistema de saúde.
E, pareceu-me, que a AOFA dá uma estocada suave mas clara neste Presidente da República e Comandante Supremo das FA ao referir que (e  penso que se pode subentender que os anteriores PR são também destinatários e a meu ver bem) as coisas poderiam porventura estar um pouco diferentes se anteriormente já tivessem existido diferentes e claras posições políticas por parte do PR.

Mas ainda a propósito da carta de resposta do PR aos oficiais do GREI há uma outra coisa que me parece também curiosa.
Tendo vasculhado muita documentação, sei que houve em Dezembro passado uma carta aberta de antigos combatentes endereçada ao Comandante Supremo das FA. 
Provavelmente deficiência minha, mas dessa carta não encontrei o mesmo eco que agora se viu quanto à carta de ex-chefes militares. 
Ainda certamente por deficiência minha, não descobri reacção do professor Marcelo. 
Se foi exactamente assim que as coisas se passaram como me está a parecer, há então pequenas diferenças. PIQUENAS, como diria a Dra Manuela.

Recorrendo à fotografia, como estão na fotografia todos os ex-titulares de orgãos de soberania que foram inquilinos de Belém e de  S.Bento? 
Todos mal, como mal continuam este governo e ministros, e quanto ao actual inquilino de Belém ainda não está muito mal na fotografia mas..............
Para tudo isto, ou seja, 
> a crescente degradação nas FA, 
> mais as indecorosas declarações e posturas de alguns, 
> mais o desprezo concreto a que continuam votados os antigos combatentes, 
> mais a continuada falta de vontade política forte e consensual que era necessária para encarar seriamente estes problemas,
reproduzo uma parte de uma excelente frase de pessoa que respeito - e a dignidade, ......onde fica?
António Cabral  (AC)

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