A PROPÓSITO DO ENSINO EM PORTUGAL
A situação actual, é tumultuosa. Pode dizer-se que, tal como num imenso comboio de mercadorias com dezenas e dezenas de carruagens, no desastre expectável as detrás encavalitam-me em cima das outras, pouco restando entre os escombros.
Revolta generalizada, greves, escolas fechadas, falta de professores, sindicatos vários e alguns já não comandados pelo PCP/ FENPROF, reuniões com a tutela que são quase sempre mau teatro, etc.
No meio desta desgraça toda ainda aparecem umas criaturas como as feras, a marcar território, a debitar o que lhes vai na alma mas sobretudo a ler a cartilha PS e a louvar o chefinho que cada vez mais se confirma é mesmo muito poucochinho!
Aparece até quem, entre outras inanidades, tem o despautério de falar das maravilhas do ensino na I República.
Antes de continuar, na I República nem tudo foi bom como também não foi tudo mau. A mesma coisa no Estado Novo e, nestes 49 anos de Democracia (49 em 25 de Abril próximo), muita coisa boa mas muita coisa má, também.
Mas para os gargarejos sobre a I República, onde eu não vivi naturalmente, tenho meia dúzia de coisas concretas, palpáveis, que posso dizer, sobre a maravilha da I República.
Trata-se concretamente do caderno escolar da minha avó paterna que aqui reproduzo. Para terem uma ideia de calendarização, além das datas que podem observar, o meu pai nasceu em 1923.
Este caderno escolar é curioso a vários títulos, e nele se podem reter aspectos concretos da época e do que era /foi a I República.
Por dentro da capa está a primeira parte do decreto que regulava a "coisa", estando a 2ª parte por dentro da contracapa.
A 3ª fotografia é a página da 2ª folha do caderno escolar.
A 4ª fotografia indica a quem pertence o caderno escolar, onde está o nome da minha avó Irene (nascida em 1898) depois tem um campo para se escrever quem era o pai mas não há campo para a mãe! I República!
As fotografias seguintes refletem aspectos sobre aproveitamento tal como o registo do exame da 3ª classe. E, das coisas familiares que vagamente conheço, refletem também o péssimo relacionamento entre pai e filha que acabou por sair de casa e ir lecionar numa escola de instrução primária, MANHOSA, num buraco na Beira Alta chamado "Vide". Pelo que vi há 5 anos, imagino a "beleza " que seria nas duas primeiras décadas de 1900.
Mas as maiores curiosidades para mim estão no texto do decreto 1:880. O caderno escolar em causa passou a vigorar em 1915, substituindo o anterior de 1905. O decreto foi assinado pelos ministros do Interior, das Finanças, e da Instrução Pública. Ou seja, mesmo tratando-se de um aspecto administrativo mas ainda assim com impacto financeiro, o "homem" das Finanças estava dentro do assunto.
No presente, as reuniões contam com representante das Finanças?
Voltando ao decreto, ali se estipulam normas estritas para pais, tutores, encarregados de educação, reitores de liceus, sanções para eventuais não cumprimento dos normativos. Estabelece regras sobre os registos dos aproveitamentos dos alunos e, também, normas sobre mau comportamento de alunos.
Ora, olhando aos tempos contemporâneos, a parte do mau comportamento não se aplica pois hoje os alunos têm um comportamento exemplar, dentro e fora das aulas, quando as há!
Outros tempos, curiosos, com coisas boas e com coisas más.
António Cabral (AC)
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