sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

PORTUGAL, ÁFRICA, AMÍLCAR CABRAL
Hoje, 20 de Janeiro, perfaz 50 anos que o então dirigente do PAIGC foi assassinado a tiro.
Com Amílcar Cabral tenho em comum, sermos seres humanos do sexo masculino nascidos em Portugal (eu no Continente, ele na então colónia/ província ultramarina Guiné), o último apelido, e África (eu apenas um pouco menos de 8 anos, ele quase toda a vida).

De África tenho, quase seis anos vividos em Angola/ Luanda (fui para lá com 3 meses, regressei com praticamente seis anos), duas passagens por Cabo Verde por razões da profissão, e 21 meses de Guiné (29OUT71-28JUL73) onde cumpri a minha obrigação militar a bordo de um navio da Marinha. 

Como milhares de outros concidadãos estive do outro lado, em oposição a Amílcar e seus combatentes.
Na Guiné fui/ fomos atacados na noite de 19 de Maio de 1973, sofremos um morto e vários feridos, e danos diversos no navio ainda que mantendo a operacionalidade completa.

Amílcar Cabral,  formado em Lisboa, gradualmente ganhou prestígio internacional. 
A história continua a guardar segredos sobre os detalhes exactos acerca do seu assassinato. 
O dono do dedo no gatilho assassino foi logo identificado, mas o autor (es) da ordem de execução permanece incógnito, havendo como sempre acontece diferentes teorias sobre a congeminação de que resultou o assassinato.

Durante o tempo em que o general António de Spínola foi governador e comandante-chefe da Guiné, e que me recorde, terá havido tentativas de dialogo com o PAIGC sempre não aceites pelo regime em Lisboa, sendo certo que Spínola esteve pelo menos uma vez com o presidente senegalês Senghor. 

Além  disso, e desconhecendo os detalhes, Spínola tentou chegar à fala com o PAIGC recordando-me que emissários seus seriam massacrados na selva (o episódio dos majores).

Uma das hipóteses avançadas quanto ao "mandante" do assassinato sempre apontou o regime em Lisboa e designadamente a DGS como estando por trás do que aconteceu.
Não faço a menor ideia.

Mas uma coisa sei, pois a memória não me atraiçoa ainda.
Sei o que os meus ouvidos e os de outros que estão ainda vivos ouviram uma noite no aquartelamento em Ganturé, a Norte do rio Cacheu, poucos dias antes do assassinato - se houver sorte, um dia o Amílcar morre.

Isto não interessa para nada, mas recordo bem o que então ouvi. 
E muito pouco tempo depois dessa noite, chegou o dia 20 de Janeiro de 1973. 
Passaram-se a seguir várias semanas, até que o atordoamento no seio do PAIGC passou finalmente, e começaram a abater aviões com os mísseis  Strella. 
A guerra mudou completamente.

AC

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