Jonathan Llewellyn
"Espero que perdoem a um estrangeiro intrometer-se neste assunto, mas é preciso que alguém diga certas verdades.
A insurgência nos territórios ultramarinos portugueses não tinha nada a ver com movimentos nacionalistas. Primeiro, porque não havia (como ainda não há) uma nação angolana, uma nação moçambicana ou uma nação guineense, mas sim diversos povos dentro do mesmo território. E depois, porque os movimentos de guerrilha foram criados e financiados por outros países.
ANGOLA – A UPA, e depois a FNLA, de Holden Roberto foram criadas pelos americanos e financiadas (directamente) pela bem conhecida Fundação Ford e (indirectamente) pela CIA.
O MPLA era um movimento de inspiração soviética, sem implantação tribal, e financiado pela URSS. Agostinho Neto, que começou a ser trabalhado pelos americanos. só depois se virando para a URSS, tinha tais problemas de alcoolismo que já não era de confiança e acabou por morrer num pós-operatório. Foi substituído pelo José Eduardo dos Santos, treinado, financiado e educado pelos soviéticos.
A UNITA começou por ser financiada pela China, mas, como estava mais interessada em lutar contra o MPLA e a FNLA, acabou por ser tolerada e financiada pela África do Sul. Jonas Savimbi era um pragmático que chegou até a um acordo com os portugueses.
MOÇAMBIQUE - A Frelimo foi criada por conta da CIA. O controleiro do Eduardo Mondlane era a própria mulher, Janet, uma americana branca que casou com ele por determinação superior. Mondlane foi assassinado por não dar garantias de fiabilidade, e substituído pelo Samora Machel, que concordou em seguir uma linha marxista semelhante à da vizinha Tanzânia. Quando Portugal abandonou Moçambique, a Frelimo estava em tal estado que só conseguiu aguentar-se com conselheiros do bloco de leste e tropas tanzanianas.
GUINÉ – O PAIGC formou-se à volta do Amílcar Cabral, um engenheiro agrónomo vagamente comunista que teve logo o apoio do bloco soviético. Era um movimento tão artificial que dependia de quadros maioritariamente cabo-verdianos para se aguentar (e em Cabo Verde não houve guerrilha). Expandiu-se sobretudo devido ao apoio da vizinha Guiné-Konakry e do seu ditador Sékou Touré, cujo sonho era eventualmente absorver a Guiné portuguesa.
Em resumo, territórios portugueses foram atacados por forças de guerrilha treinadas, financiadas e armadas por países estrangeiros. Segundo o Direito Internacional, Portugal estava a conduzir uma guerra legítima. E ter combatido em três frentes simultâneas durante 13 anos, estando próximo da vitória em Angola e Moçambique e com a situação controlada na Guiné, é um feito que, militarmente falando, é único na História contemporânea.
Então porque é que os portugueses parecem ter vergonha de se orgulharem do que conseguiram?"
Publicado a 01 de Junho 2013 por Jonathan Llewellyn
Acabei de ler este texto que me foi enviado por mão amiga.
Desconheço quem é o autor, desconheço em que faculdades, bibliotecas, revistas científicas e outras, jornais, etc., publica, escreve.
Sobre o caso, a guerra no Ultramar/ a guerra Colonial do Portugal de antes de 25ABR74, conheço alguma coisa.
Conheço o ambiente de guerra na Guiné (hoje Guiné-Bissau), concretamente de 29 de Outubro de 1971 a 28 de Julho de 1973.
Conheci muitos (desde um simples - como está - a relacionamentos mais ou menos profundos) dos que por lá andaram, Spínola, Pedro Cardoso, Almeida Bruno, Alpoim Calvão, Otelo Saraiva de carvalho (embarcou no navio onde eu cumpria comissão, acompanhando jornalistas estrangeiros convidados por Spínola), etc.
Tenho portanto conhecimento directo da guerra na Guiné, além de alguns sustos o navio foi aliás atacado em Maio de 1973, e ao longo do tempo recolhemos muitos dos nossos combatentes regressados de incursões algures, etc.
Tenho algum conhecimento sobre determinadas operações dos nossos fuzileiros especiais, comandos, pára-quedistas, sobre operações logísticas executadas constantemente pelas diferentes lanchas de desembarque da Marinha (nesse tempo chamada Marinha de Guerra). sobre certas operações da nossa aviação.
Conheço muitas realidades dos então, Exército, Força Aérea, Marinha de Guerra. E muito mais.
No texto que acima reproduzo sublinhei certas partes, acerca das quais me refiro adiante.
Respeito, sempre, a opinião de outrem.
As referências acerca da génese dos, MPLA, UPA/FNLA, UNITA, PAIGC, FRELIMO, têm muito de realidade.
No caso concreto sobre o PAIGC, a história demonstra quão certa é a referência à delicada questão Cabo Verdianos versus Guineenses, história desde a formação do partido e particularmente a história das várias coisas/ tumultos que aconteceram após a independência, e até hoje.
Quanto a esta expressão,
- estando próximo da vitória em Angola e Moçambique e com a situação controlada na Guiné, é um feito que, militarmente falando, é único na História contemporânea, tenho três comentários:
1º - ter aguentado uma guerra naquelas condições, dispersão geográfica, distância da Metrópole a África, material de guerra existente em 1961 em muitos casos/ sectores verdadeiramente caricato, é/ foi de facto um feito.
2º - não faço ideia em que se baseou o autor para afirmar o que expressa sobre a realidade militar.
Em poucas palavras, o senhor está equivocado, ou errado, o que quiserem.
Que eu saiba, e com referência a inícios de 1974,
- grande parte de Angola vivia uma certa acalmia, a UNITA estava de certo modo em sossego connosco,
- MPLA ao contrário da UNITA e FNLA não estava nada moribundo,
- O Norte de Moçambique estava complicado e creio que em muitas regiões não se estava propriamente como em estâncias de férias,
- na Guiné, grande parte do território estava dominado pelo PAIGC, a SUL / Leste então era um verdadeiro caos, a Força Aérea não podia efectuar as operações que executara até Março de 1973, nada do que no terreno se passava podia ser considerado como - situação controlada.
3º - quanto aos portugueses terem vergonha do que conseguiram, não sei se a afirmação retrata completamente a realidade.
Pela minha parte não tenho dúvidas que muitos dos que cantam os amanhãs olham para esse período da nossa história sem rigor.
O que quero dizer com isto, e é a minha opinião, é que Salazar fez muito mal em depois de Bandung não ter sido inteligente e pragmático e olhar o futuro com realismo. Foi burro, lixou Portugal.
Muitos dos que cantam os amanhãs fingem que não existia tribalismo e mesmo racismo entre os povos naquelas paragens em África. É só observar o que se tem passado lá desde 1974.
Muitos dos que cantam os amanhãs olham para muitos militares conforme lhes convém.
Pela minha parte não foi com regozijo que fui para a guerra.
Cumpri o que entendi ser o meu dever e não estou arrependido.
O então comandante do navio, eu próprio, e todos os sargentos e praças cumprimos com dignidade cívica e militar o nosso dever.
Pela minha parte deploro que tantos portugueses permanecem enterrados em África, que não sejam transladados para a sua terra natal. Verifica-se que os titulares de órgãos de soberania vivem bem com isso.
Pela minha parte respeito todos os que entenderam fugir para o estrangeiro.
Mas respeito mais quem cumpriu o seu dever militar e depois de regressar e entregar a sua unidade foi de férias e não mais voltou.
Como respeito os milhares e milhares como eu, que cumpriram o seu dever, e sabiam perfeitamente que a solução para o Ultramar /colónias não era outro senão político.
António Cabral (AC)
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