PARECE QUE . . .
João César das Neves parece não estar certo de que ao longo dos séculos a mulher tenha sido sucessivamente oprimida e desprezada.
Aparentemente, as suas dúvidas assentam essencialmente em duas coisas:
- As mulheres sempre foram a maioria da população sendo assim estranho que fossem dominadas pela minoria.
- as mulheres nunca se queixavam ou manifestavam o seu desagrado.
Eu conheci muito bem, a minha avó materna, os meus avôs, os meus tios e primos, os primos da minha mãe e os filhos deles.
Eu conheci muito bem, a minha avó materna, os meus avôs, os meus tios e primos, os primos da minha mãe e os filhos deles.
Eu conheci muito bem várias famílias amigas.
Eu conheci muito bem os meus pais e a família do meu falecido irmão.
De todos, conheci, vivências fantásticas, divórcios, traições, brigas, etc.
A minha mãe sempre foi aquilo a que se chamava "doméstica", apesar de ter tido formação.
O meu pai ganhava muito pouco, tivemos uma vida dura, vivi em Angola com eles dos 3 meses aos 6 anos, regressando para entrar na primária, trazido pelos meus avós maternos.
Os meus pais regressaram ao Continente 5 meses depois, salvo erro.
A minha mãe foi vítima das circunstâncias familiares muito difíceis no plano financeiro. Sem ser isso nunca foi vítima, nem violentada, foi sempre o grande porto seguro de nós os três, os dois filhos e o marido, meu já falecido pai. Mas no quadro social que mais acima resumi, houve factos complicados, com várias pessoas.
Isto dito, parece-me óbvio que lá por terem existido milhares ou milhões de mulheres que nunca foram desprezadas pelos familiares (maridos e outros) ou em sociedade, como o caso da minha mãe e mais algumas na família alargada, isso não nega uma realidade muito triste, inaceitável, em Portugal, e por esse mundo fora, realidade que é, a violência doméstica, os assassinatos, o desprezo, a opressão, o apedrejamento, a violação, a violência de toda a espécie.
Alguém que recorde a JCN a situação concreta em muitos países, na Ásia, no Oriente, em África, nas Américas.
Alguém que lhe explique que sendo a Europa genericamente muito diferente não é exactamente um oásis.
Alguém que lhe explique o incêndio havido naquela fábrica nos Estados Unidos da América, onde ficaram dezenas e dezenas de mulheres carbonizadas.
Alguém que lhe recorde o que esse dia marcou.
Eu já não tenho paciência para tanto dislate.
António Cabral (AC)
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