“Talvez… Monsanto”: o Portugal sagrado e profano de Ruy Belo e Ricardo Pais
No ano em que cumpre 80 anos, o encenador revisita as hierofanias de um país misterioso, numa comoção onde ressoam os séculos, mas não o nacionalismo.
A ecletíssima Luísa Cruz é a figura central de Monsanto, desdobrando-se em voz poética, adufeira, fadista, cantadeira, mulher sacrificial e mensageira dos deuses, sacerdotisa, fantasma
Quem chega a Monsanto, aldeia granítica da Beira-Baixa, fruto de misteriosos humores tectónicos ali no meio da planície, conhece o assombro provocado pela visão daquela nave de pedra, o cérebro estremece com imagens dos Altas carregando aquela forma em eras remotas, animais fantásticos, deuses intempestivos, lendas, medos. Memórias que sobrevivem em formas espantosas, como as vozes das mulheres que cantam litanias, orações e salmos, adufes orgiásticos como que chamando a guerra ou as festas dionisíacas, bosques estivais onde correm faunos e bacantes ou meninas com os seus segredos de “mato fechado”, como se ali se guardasse a infância mítica da humanidade antes da queda.
É aqui, a Monsanto, que regressa Ricardo Pais, para uma peça de teatro vivo, erguido sobre a poesia de Ruy Belo, do fado, do cancioneiro popular de Lopes Graça e Giacometti cantado por mulheres sem idade. Talvez… Monsanto, estreado em 2020 no Teatro Nacional de São João, aterra esta quinta-feira, no CCB, em Lisboa, onde fica até domingo.
Naturalmente, eu sou mais que suspeito neste assunto.
Porquê?
1º - Porque sou de Monsanto (pelo coração, desde Novembro de 1969)
2º - Porque à aldeia de Monsanto estou ligado pelo coração, pois a minha mulher lá tem raízes, lá nasceu o avô materno, médico
3º - Porque lá vou há décadas, porque lá passei muitas férias na casa da minha sogra
4º - Porque há 25 anos tenho/temos casa própria, uma das únicas duas ou três que não está pegada a outra, bem dentro do casco velho da aldeia
5º - Porque adoro o interior e a Beira-Baixa, algumas das raízes nacionais
6º - Porque adoro teatro, sempre me interessei por cultura
7º - Porque nas poucas adufeiras que ainda existem, uma delas porventura a sua grande dinamizadora desde há décadas, é minha vizinha na casa da aldeia.
É no CCB, depois de actuação no Porto.
Temos bilhete comprado o ano passado.
Lá estaremos no Sábado, 21 de Junho.
António Cabral (AC)
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