terça-feira, 30 de setembro de 2025

Então agora um militar tem opiniões ?

Deparei há tempos com este "comentário" num blogue.

RESPEITO, como sempre, as opiniões de outrem. 
Depois, concordo ou discordo.
Cada um é livre de se expressar como entende, ter as suas opiniões, etc.

No caso do comentário que dá título a este breve texto, e como sempre procuro fazer, tentei perceber, encontrar explicações, justificações para o comentário.

Parece-me legítimo dizer que releva de um total desconhecimento da legislação em vigor, e do que é hoje a sociedade, diferente da que era antes do 25 de Abril de 1974, em que as Forças Armadas foram efectivo sustentáculo do regime de então. 

Ignorância quer da Constituição (CRP), que conheço bem, quer de legislação diversa que enforma a instituição militar e que fui reler, e designadamente o Estatuto dos Militares das Forças Armadas.

A qualquer militar enquanto na vida activa está vedado participar na vida política nacional, está-lhe designadamente vedado (nº 4 Art. 275º CRP) aproveitar-se da sua arma, do seu posto ou da sua função para qualquer intervenção política.

O Estatuto dos Militares das Forças Armadas está em linha com a norma Constitucional.
Fora do serviço activo, acabado este, todos os militares readquirem os mesmos exactos direitos constitucionais que os demais concidadãos.

Portanto, o verdadeiro (atrevo-me a dizer) dislate que dá título a este pequeno texto, releva de ignorância, desconhecimento de leis e, estou também convencido, do desprezo que muitos continuam a votar aos militares, à instituição militar.
Creio que esse desprezo é lamentável e deplorável.

A pessoas como o autor do comentário, há que recordar que foram  militares que fizeram o 25 de Abril de 1974, e que entregaram a condução do país aos poderes civis eleitos.

A este tipo de pessoas há que recordar o que há anos foi lembrado por Barack Obama, e que aqui deixo:

"...É graças aos soldados, e não aos sacerdotes, que podemos ter a religião que desejamos. 
É graças aos soldados, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa. 
É graças aos soldados, e não aos poetas, que podemos falar em público. 
É graças aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. 
É graças aos soldados, e não aos advogados, que existe o direito a um julgamento justo. 
É graças aos soldados, e não aos políticos, que podemos votar…

("parte de discurso do então presidente Barack Obama numa cerimónia do Dia do Veterano (MEMORIAL DAY) 

Por aqui (no blogue) escrevi várias vezes palavras sobre militares, na sequência do que fui aprendendo com o meu melhor amigo militar que é almirante já reformado.

Aqui deixo desta vez palavras de um estrangeiro, palavras acerca de soldados, acerca de militares, acerca da instituição militar. 
Faço-o apontando não ao seu endeusamento, mas à sua importância nas sociedades contemporâneas, ao seu lugar nas sociedades democráticas.

Dedico-as, como Obama fez, àqueles que perguntam “Para que servem os militares?”. 
 
Particularmente, dedico-as aos que desprezam e achincalham a instituição militar, como muitos cidadãos comuns mas, sobretudo, aos sucessivos responsáveis políticos/ ex e actuais titulares de órgãos de soberania, e muitos outros com formais responsabilidades no país.

António Cabral (AC)

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