segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O RETOMAR DE ROTINAS
Ao quarto dia de 2017 retomei algumas rotinas. Uma delas, foi olhar para certas “coisas” nacionais, e fui também ler a mensagem de ano novo do Presidente da República. Tinham-me alertado, - não vais apreciar!  Acertaram. 
Apenas hoje, cedinho nesta 2ª Feira soalheira, e no meio de "zappings" a propósito do falecimento de Mário Soares, reli o que está no sítio da presidência e vou comentar o que para mim é mais discutível.

O que penso desta discursata?
Que banho gelado na baía de Cascais dá nisto. Um professor catedrático de Direito devia saber que a maioria das coisas na vida não se resolve por decretos, loas, mistificações ou interpretações! As palavras de início de ano parecem-me confirmar uma irritante mas sobretudo preocupante postura de agradar a todos e, ao mesmo tempo, a todos dar caneladas e recados. Coisa que acentuou, aliás, num discurso durante visita a uma escola. 
O texto não chega a ser um banho gelado, é fraquinho, acho eu, naturalmente. Demasiado afecto para o Primeiro-Ministro. A forma encontrada para os recados quer ao chefe do governo quer à oposição não me parece feliz. 
Começando do fim da mensagem para o início, algumas das frases:

tivemos sucesso quando nos unimos - parte do princípio que estamos todos unidos. Em quê, em que áreas, concretamente? Contra a arbitragem no futebol? 
Era bom que a sociedade portuguesa estivesse unida, unida nas questões de fundo ligadas à nossa sobrevivência enquanto Nação, País. Mas estará? Não creio nada. 
O que pensam as diferentes camadas de portugueses, como por exemplo: os que jogam dominó e cartas nos jardins de Lisboa e do Porto, os que estão sentados ao Sol em vilas e aldeias do Alentejo, Beiras, Trás-os-Montes, a juventude que se agride e filma, os condutores de Tuk-Tuk, os milhares que enchem os estádios, os poucos que vão aos concertos no CCB, os milhares que andam pelos concertos de Verão, os que percorrem as lojas da Castilho ou da rua de SBento em Lisboa e compram, os milhares que vagueiam nos centros comerciais a olhar para as montras com olhos mortiços e distantes, os que se questionam ou não sobre as reformas da segurança social, os que nada pensam sobre as Forças Armadas, os que não querem saber dessa coisa "economia do mar", os que têm a noção que existem bancos mas sobretudo multibancos, os que sabem da existência de comboios mas quanto ás questões estratégias sobre a ferrovia ZERO, os que não ouviram falar de PPP's, os que sobre o lamentável estado dos OCS compram ou só olham para as revistas cor-de-rosa, etc?  
Devia saber o PR, que certas colas não grudam porcelana. E a sociedade portuguesa está como porcelana antiga, muito frágil. Basta olhar para o que se passa nos hospitais, ás portas dos centros de emprego, nas pessoas paradas nas estações de metro ou dos autocarros, percorrer as caixas de comentários dos OCS e das redes sociais, ou andar na linha de Sintra que é uma experiência e pêras!
tem de ser o ano da gestão a prazo - sabe perfeitamente que é uma impossibilidade com a cultura prevalecente; os últimos 60 anos comprovam-no. E ninguém quer falar a sério, - para não assustar as pessoas lá em casa!!!!,….como dizem certos comentadores encartados, perfeitamente integrados no sistema. Já estamos décadas atrasados quanto a gestão a prazo; o que se vê, continuamente, é gestão para o voto dos incautos.
definição e execução de uma estratégia de crescimento económico sustentado - basta olhar por exemplo para o actual governante Cabrita para se concluir com facilidade que continuamos numa falácia. Basta atentar no que mais ou menos ás escondidas se vai despejando para as autarquias sempre a pensar nos votos e nada mais. Basta pensar nas questões portuárias, basta pensar nas vergonhosas rendas.
Justiça que possa ser mais rápida e, por isso, mais justa - um professor de direito com as suas responsabilidades sabe perfeitamente que isto é pior que balela. Sabe perfeitamente os entraves criados a partir particularmente da escola de Coimbra, os supergarantismos, as vírgulas mudadas, os projectos legislativos feitos nos escritórios, etc.
completar a consolidação do sistema bancário - parte do princípio que a banca tem vindo a ser consolidada. É vigarizar a população. Olho para a cotação do BCP, olho para a cotação do BPI, olho para a telenovela da CGD, olho para a pouca vergonha das imparidades todas, olho para a pouca vergonha da constituição de um banco bom que é tão bom como peixe podre, verifico a ausência de investigação séria e independente à CGD, registo discursos “ Ricciardianos" de apelos ao bom senso frisando que a nossa realidade é a nossa realidade (Alcapone não diria melhor). Será por acaso o pornográfico valor sugerido para a compra do Novo Banco, será apenas porque são abutres, ou porque aquilo não vale quase nada a não ser os edifícios que detém?
Não perder estabilidade política, paz e concertação - e isso depende de quê? Da CGTP? do PCP e BE, naturalmente? Veja-se o inacreditável comunicado do PCP acerca do falecimento de Mário Soares para perceber a estabilidade actual.
rigor financeiro - das contas públicas, certamente; e os votos?
proximidade entre poder e povo - o que é isto? Para mim, naturalmente e posso estar errado, um cara de pau empedernido como Cavaco Silva não ajuda para a forma como os portugueses olhem para as instituições, para os órgãos de soberania, como considerem os titulares desses órgãos. Proximidade parece-me importante, mas passar mandatos com selfies e afectos é capaz de ser curto.
se trabalhamos com competência, com método e com metas claras – somos os melhores dos melhores - metas? onde estão definidas, sobre a economia do mar, sobre Forças Armadas, sobre exportações, sobre educação, sobre agricultura, sobre o ambiente, sobre a natalidade, etc? Frases bonitas, sem dúvida.
a começar na garantia da transparência da política - como garantir isso, com o estado lamentável dos OCS que, quanto aos jornais, cada vez têm menos vendas e servem para ser distribuídos por ministérios e à clientela política que não quer alterações da podridão vigente; como garantir isso com a qualidade origem profissional e quantidade dos deputados, com a ausência de debate sério na sociedade (nada de referendos; basta ver o que agora aceitam PCP, BE e melancias); como garantir isso com o grau de transparência política que se vê no poder autárquico?
partilhando os seus sonhos e anseios, as suas angústias e desilusões - partilhar não é resolver;

Recordando o 2º mandato de Mário Soares como Presidente da República, em que a maioria do tempo foi gasto a demolir o PSD e Cavaco Silva (em alguns aspectos creio que merecidamente), está a parecer-me que o acumular diário de comentários sobre tudo e mais alguma coisa (ainda nada disse sobre as cores exóticas da Renova) está a encapotar uma intenção lá mais para a frente de se intrometer em áreas governativas. A fazer, vai fazê-lo dissimuladamente, mas não cabe ao PR esse tipo de coisas. As suas responsabilidades constitucionais são outras.
Senhor Presidente da República, creio que faz bem em chamar à atenção que em 2017 devia acabar a bagunçada, mas………….
AC

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