domingo, 8 de janeiro de 2017

MÁRIO SOARES
Morreu, dizem alguns, o 1º presidente de todos os portugueses. Discordo.
Faleceu o 2º presidente da democracia instituída depois do PREC.
No nosso País é habitual endeusar quem desaparece do nosso convívio. Por razões óbvias conhecidas, e muitas são de relevar, com Mário Soares vai ser ainda mais. E haverá movimentações para que venha a repousar no Panteão Nacional.
Haverá até o risco de aparecerem carpideiras. 
Como ex-chefe de Estado, é-lhe devido respeito, e a prestação de honras fúnebres como está estabelecido, e bem, no nosso regime, de que ele é um dos fundadores.
Merece ser respeitado, desde logo como ser humano que agora desaparece do mundo dos vivos, e merece que se valorize tudo o que procurou fazer pelo País. 
Mas para ele, como para qualquer outro dos meus concidadãos, e assim penso desde antes do 25 de Abril, não passo uma esponja sobre tudo aquilo que é reprovável. E existirá muita nebulosidade.
Ninguém tem balança para colocar nos respectivos pratos os prós e contras de cada um, e ver para onde pende.
Mário Soares nasceu em berço de ouro e não teve, obviamente, culpa disso. Teve um percurso notável, foi um visionário, ele próprio há pouco tempo reconheceu que errou em muita coisa, embora curiosamente com o cuidado de nunca esmiuçar onde. 
Um homem de grandes contradições, de convicções, de valores, um lutador pela liberdade. Lutou, como outros, teve a PIDE/DGS à perna, mas nada comparável com o sofrido por outros. Alguma razão deve ter havido, pois "aqueles rapazes desse tempo não brincavam em serviço".
As coisas são como são, haverá só loas e imensas são justas.
Não sei se foi a maior figura de oposição ao regime deposto em 25 de Abril de 1974. Foi certamente um dos maiores.
Fez muito bem em levar o País para a Europa.
Devemos-lhe, é minha convicção, o regime em que vivemos.
Mas também creio que esteve na génese de muitas das deformidades de que hoje padecemos.
E, tal como a justiça à Portuguesa sempre faz com os poderosos, tudo o que no passado foi estranhíssimo fica, lamentavelmente, arquivado. Porque não interessará? 
É pena que assim se continue em Portugal, e sempre com os lamentos dos grandes dignitários sobre o que a justiça não faz. 
É uma das características deste desgraçado País.
Nunca fiquei, e creio que não mudarei, contente por desaparecer esta ou aquela personalidade nacional ou internacional.
Quando morre um ser humano deve tomar-se respeitoso silêncio.
A Mário Soares estou reconhecido pelo que lutou e por várias coisas que foram atingidas. Mas tenho boa memória.
Paz à sua alma.
AC 

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