"E há quem se pergunte: para quê ouvi-los? A essas pessoas respondo que confrontaremos todos os os banqueiros, flibusteiros de cartola e empresários da fortuna fácil porque o país tem de saber o que acontece quando se deixa a economia nas mãos da elite financeira. É um espetáculo degradante? É. Mas olhem, olhem os abutres que compram o nosso país a saldo e verão que pouco mudou. ... Dívida, especulação e apropriação de bens comuns são as regras do capitalismo financeiro. ... É um sistema instável onde se vende muito, mas os salários são baixos, onde os lucros crescem, mas pagam menos impostos, onde a actividade é frenética, mas a estagnação e a crise são a regra. ... [o que pretendem é que ] o Estado não se intrometa em três áreas: a banca, os serviços públicos e o trabalho. É que se o fizesse, acabariam as desigualdades".
Vamos esquecer a infantilidade da argumentação, mas não esqueçamos o que aqui está: Mariana Mortágua é muito clara, não está nas Comissões de Inquérito seja do que for para fiscalizar o governo e a actuação do Estado, Mariana Mortágua está nessas comissões para nos mostrar a todos que o capitalismo é mau e as desigualdades resultam da falta do Estado na banca, nos serviços públicos e no trabalho.
A forma como a sociedade - em especial o jornalismo - leva ao colo esta forma de manipulação das instituições democráticas para obter ganhos de propaganda, em vez de defender aquilo que é verdadeiramente a sua função, fiscalizar politicamente a actuação do Governo e do Estado (as relações entre privados resolvem-se nos tribunais, não na Assembleia da República e não com estes julgamentos populares), é muito característica de uma sociedade muito pouco institucionalista e fascinada por estes julgamentos populares feitos em direto.
As comissões de inquérito não servem para substituir a justiça ou a censura social de comportamentos privados, servem para fiscalizar o Governo e a actuação do Estado e com o triste espetáculo que os senhores deputados estão a dar o resultado é a erosão da credibilidade das instituições.
Mariana Mortágua não será uma flibusteira de cartola, no sentido em que usou a expressão: uma pirata, uma soldado (desculpem, eu sei que há que diga que soldada é um soldado feminino, mas o seu significado normal é o de um pagamento) irregular.
Mas é seguramente uma flibusteira, sem cartola, nos outros sentidos da palavra, uma aventureira trapaceira, e o seu desempenho nestas comissões de inquérito é uma boa demonstração disso e da verdadeira natureza do Bloco de Esquerda, levado ao colo por uma imprensa que também despreza o lucro e a criação de riqueza, convencidos de que as desigualdades seriam resolvidas pelo Estado, com uma perna às costas, se o deixassem... como tem acontecido pelo mundo fora, claro.
AC
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