segunda-feira, 9 de maio de 2022

O   CASEIRO

Há palavras em português que definem bem certas criaturas: PINDÉRICO e RIDÍCULO.
No léxico da língua mãe muitas outras são igualmente apropriadas para bem definir farsolas que por aí andam neste mundo.
Por exemplo: aldrabão, velhaco, mentiroso, vaidoso. Vejamos um caso recente.

Por uma certa compreensível vergonha, um miserável/ desgraçado (chamemos-lhe Zeca) que atravessava uma fase da vida extremamente difícil, mesmo desesperada, não confessava que, nas suas imensas dificuldades e carências, quase não tinha palamenta para a família tomar as refeições e, pior, quase nada tinham para comer, quase nada de géneros básicos. 

Um dos vizinhos, chamemos-lhe "Tó", um daqueles metediços na vida dos outros, tipo alarve a fazer-se o que não é, dos que se põem sempre em bicos de pés, sendo que na sua casa reinava a desorganização e igualmente não abundavam lá grandes meios de subsistência, além de que a maioria dos familiares não passavam de uns ranhosos, soube que os mais afortunados da aldeia de preparavam para ajudar o Zeca com verduras frescas, pão, galinhas, ovos, vinho tinto e branco, azeite e enlatados vários. Ajuda que se sabia muito interesseira pois de há muito queriam que o Zeca lhes desse os terrenos agrícolas muito bons que herdara do bisavô.

Vai daí, o Tó resolveu ser ainda mais pindérico e ridículo que o habitual. Com a ajuda da pirosa mulher descobriram num velho baú latas de sardinhas do Algarve que lhes tinham oferecido de prenda de casamento.
Por ela incentivada, pois mais pirosa era, juntaram a isso, torresmos já muito ressequidos, um toucinho rançoso que já nem os "caniches" deles comiam, meias velhas, um roupão do bisavô, uns cajados, umas fisgas que o filho tinha roubado na junta de freguesia, duas bicicletas muito enferrujadas quase do tempo da segunda grande guerra e ainda umas camisas já a darem mostras de puídas nos colarinhos além da pressão de ar para os pardais. 

O mais ridículo de tudo é que o casal se vangloriou da ajuda, e tendo conseguido ser ouvido pelo "jornaleco" da junta de freguesia, afirmou que não podia especificar e detalhar o que tinham oferecido por consideração pelas pessoas mais desfavorecidas da terra e vizinhança.

Naturalmente, tudo se veio a saber e foi chacota geral nas terras vizinhas por onde o Tó se andava sempre a pavonear. Mais caricato e muito gozado por toda a malta da região, foi o saber-se que as bicicletas precisavam de câmaras de ar novas, não tinham bomba para encher e, ainda por cima, tinham roubado o mealheiro dos miúdos.

Caricato, mentiroso, piroso, alarve, sem vergonha na cara, intelectualmente desonesto, velhaco, vaidoso, tudo vocábulos que lhe assentam bem. E o que tem sido gozado.
Não na parvónia dele, pois aí se divertem com o futebol mais as lavagens ao cérebro pela TV, e com as cenas das cunhas para lugares na junta de freguesia, e assim se deixam vigarizar pelo cretino vigarista que na dele continua.
É a vida, como dizia um pastoso mundialmente conhecido!
AC

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