ANDANDO PELO ARQUIVO ANTIGO
RECORDAÇÕES. 19 Maio 1973.
Para muitos, esse 19 de Maio foi mais um dia, mas nesse já distante 1973 foi para mim um dia muito diferente, e ficou uma data marcante na minha vida.
E a hora do que então aconteceu não mais a esqueci, 2340 h.
Para muitos, esse 19 de Maio foi mais um dia, mas nesse já distante 1973 foi para mim um dia muito diferente, e ficou uma data marcante na minha vida.
E a hora do que então aconteceu não mais a esqueci, 2340 h.
Eu e outros não morremos nessa noite porque não era a hora.
Estava na Guiné, então território português, colónia/ província ultramarina, a cumprir o mesmo que milhares e milhares de concidadãos, e cumpria a chamada comissão de serviço a bordo deste navio que mostro em baixo, a lancha de fiscalização grande (LFG), o NRP "Hidra" (NRP= Navio da República Portuguesa).
Estava na Guiné, então território português, colónia/ província ultramarina, a cumprir o mesmo que milhares e milhares de concidadãos, e cumpria a chamada comissão de serviço a bordo deste navio que mostro em baixo, a lancha de fiscalização grande (LFG), o NRP "Hidra" (NRP= Navio da República Portuguesa).
Faz agora anos que nessa noite, quando o navio navegava/ patrulhava em ocultação total de luzes e em postos de combate/ bordadas (metade da guarnição), fomos atacados por bombordo no rio Cacheu, o rio a Norte mais perto do Senegal.
Como quase todos os outros que estávamos no exterior do navio, tive muita sorte. Estava uma noite de espectacular luar.
Morreu um comando africano, junto a quem rebentou o único projéctil/ granada foguete lançado por um dos então chamados guerrilheiros do PAIGC. Houve vários feridos, um incêndio, e o navio teve danos vários, inclusive rombos abaixo da linha de água.
Passadas semanas, um relatório da DGS (Direcção Geral de Segurança), confirmou a morte de todo o pequeno grupo de guerrilheiros atacantes.
Não era de esperar o contrário, pois tinham que infiltrar-se pelas densas árvores até junto ao rio, e ainda que sem serem vistos de bordo, a reação de fogo do navio e de todo o pessoal armado (dezenas) que estava no exterior e que terá durado muitos segundos mas seguramente menos que um minuto, varreu literalmente com aço toda a zona.
Não era de esperar o contrário, pois tinham que infiltrar-se pelas densas árvores até junto ao rio, e ainda que sem serem vistos de bordo, a reação de fogo do navio e de todo o pessoal armado (dezenas) que estava no exterior e que terá durado muitos segundos mas seguramente menos que um minuto, varreu literalmente com aço toda a zona.
Verificou-se na manhã seguinte que na margem do local do ataque, havia uma zona quase circular de árvores zurzidas, sem folhagem, sem ramos menos grossos, sem casca. Tudo madeira branca.
O tempo voa, passaram-se décadas!
E recordo, com emoção, os que estavam comigo, e que nunca mais vi depois do regresso à metrópole.
Recordo, também, todos os que connosco conviveram naquelas paragens Africanas, de 29 de Outubro de 1971 a 28 de Julho de 1973.
Andam para aí muitos que não esquecem nada, porque quase nada ou mesmo nada sabem.
Mas sobretudo não sabem respeitar, passado, história, sofrimento, dor.
Não respeitam os que como eu andaram na guerra e que, felizmente, regressaram quase sem sequelas.
Mas acima de tudo não respeitam os milhares de portugueses que regressaram de África com sequelas, nem os familiares dos que tombaram pela Pátria. E muitos dos mortos não foram trazidos para Portugal, por lá continuam.
Um país que trata assim os militares falecidos em combate dá naquilo a que crescentemente se assiste.
Esquecem além disso, o que a Lei Primeira/ Constituição estabelece. Esquecem ou melhor, querem lá saber, do que está em letra de lei na legislação que enquadra a Defesa Nacional e a sua componente militar, pois que defesa nacional tem, além da militar, as componentes, económica, financeira, diplomática, transportes, etc.
Esquecem, ou melhor, querem lá saber, do dever de tutela, do respeito pela lei, do que é verticalidade ou honestidade intelectual.
Esquecem, ou melhor, querem lá saber, do dever de tutela, do respeito pela lei, do que é verticalidade ou honestidade intelectual.
Querem lá saber, da história do País e dos que por ele lutaram e muitos deram a própria vida, tudo lixo para a “gentinha” que vai governando (?) o País. Adiante.
A primeira fotografia se não me falha a memória é de época anterior a esta data.
A segunda é, salvo erro, de 10 de Junho do mesmo ano, estando o navio em seco, no estaleiro em Bissau, em reparações, pelas consequências do ataque que sofremos naquela data.
Coincidentemente ou não, o ataque deu-se logo pouco depois de uma operação portuguesa dentro do Senegal, de que tenho uns "slides" coloridos dos nossos helicópteros a voar por cima do rio Cacheu, para lá e para cá.
Ficou gravado para sempre.
Ficou gravado para sempre.
Lembro-me de praticamente tudo como se fosse hoje.
Passaram-se 49 anos.
Passaram-se 49 anos.
Em 28 de Julho próximo passam 49 anos que acabou esse pesadelo de 21 meses em África, iniciado a 29 de Outubro de 1971.
49 ANOS,……... SAFA, como diria o "outro".
49 ANOS,……... SAFA, como diria o "outro".
António Cabral (AC)
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