Absolutamente de acordo com este texto que reproduzo em baixo, e que aborda as reações aos diferentes tipos de violências e criminalidade recordados e comentados na primeira parte do texto; sublinhados da minha responsabilidade.
Acrescento, relativamente ao "sítio da Presidência", ali se encontram ao longo do tempo várias diferenças nas reações ou na ausência delas sobre acontecimentos nacionais.
As cartas de pesar para chefes de Estado estrangeiro saem a propósito de tudo e mais alguma coisa.
Sobre o atropelamento mortal de um homem numa auto-estrada, acontecido por um carro onde ia o político do PS Cabrita lhe ter dado um ligeiro empurrão, e que tanto ele como o condutor nunca souberam dizer se o carro ia a 60 Km /h ou à estonteante velocidade de 80 Km/ h, não me recordo de no tal sítio ter visto uma simples manifestação de condolências à família da vítima.
António Cabral
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Não restem dúvidas sobre dois factos.
O primeiro é este: todos estes casos de violência são repugnantes, os seus actores merecem desprezo moral e o Estado deve ter os mecanismos próprios de Direito e Justiça para lhes responder, investigando e, sendo o caso, punindo exemplarmente quem os cometeu.
O segundo é o seguinte: independentemente dos mecanismos do Estado de Direito (que merecem toda uma discussão à parte desta), nenhuma democracia sobrevive moral e eticamente quando, no espaço de poucos dias, uns crimes merecem destaque mediático e reacções do poder político, e outros não. Ou quando o poder político decide reagir em função do mediatismo que é oferecido a determinados crimes, ou em função do peso eleitoral que tem a classe profissional a que a vítima pertence.
Por que razão todos os agentes políticos se manifestam perante um episódio levado a cabo por um grupo de extrema-direita e ao mesmo tempo se calam perante um homicídio levado a cabo por um português de etnia cigana que, além de ter assassinado um filho, queria forçar uma sua filha, menor, a casar-se contra a sua vontade?
Por que razão (mais um) caso de violência entre adeptos de desporto é olimpicamente ignorado pelo poder político, mas tratando-se de um agente da PSP até o Primeiro-ministro sente necessidade de vir a público manifestar-se e repudiar a violência?
Por que razão o episódio da Amareleja se cinge às páginas do Correio da Manhã?
A menina cigana não tem dignidade suficiente ou os desejosos de demonstrar a sua superioridade moral, sempre tão zelosos dos direitos das mulheres, ficaram hesitantes sobre de que lado estar neste caso concreto?
É assim tão difícil afirmar que nenhum acto de violência, excepto em casos de exclusão de ilicitude (como a legítima defesa, por exemplo), é aceitável, e que todos eles merecem repúdio e que as autoridades devem fazer o seu trabalho?
Não, não é.
Excepto numa sociedade que vive mais da exibição da sua superioridade moral, das suas agendas políticas e da sua cobardia do que da coerência e da integridade dos seus valores.
P.S.: Os discursos do 10 de Junho passado foram, acima de tudo, melancólicos e nostálgicos dos últimos 50 anos.
P.S.: Os discursos do 10 de Junho passado foram, acima de tudo, melancólicos e nostálgicos dos últimos 50 anos.
A condecoração de Ramalho Eanes, justíssima, acabou por parecer simbolizar, tristemente, o fim de um ciclo que Marcelo Rebelo de Sousa parece não ignorar.
Lídia Jorge e o Presidente da República, tendo várias razões aqui e ali, revelaram que, representando eles mesmos a mesmice, não sabem como combater aquilo que pretendem destruir ou lutar pelo que entendem como justo e essencial.
O que parece restar a este situacionismo é erguer bancadas de superioridade moral, acenar com a sua bondade e esperar que outra situação chegue para a substituir.
Nota: texto escrito a 12 de Junho.
Nota: texto escrito a 12 de Junho.
(Nuno Gonçalo Poças)
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