sexta-feira, 25 de julho de 2025

EM  50,  MAIS  QUE  EM  500

Em 50 anos, Angola fez mais do que em 500 anos fez o colonialismo.

Creio que a frase supra retrata quase fielmente o que foi proferido pelo ex-guerrilheiro/ ex-combatente/ ex-ministro da defesa do ex-presidente Santos/ actual presidente de Angola durante a entrevista que concedeu antes de chegar a Portugal, para uma visita de Estado iniciada esta 6ª Feira.

A liberdade de expressão em Portugal está constitucionalmente protegida.

Creio que nos países outrora colónias portuguesas esta liberdade está igual e formalmente protegida.
 
Pessoalmente, em relação a alguns desses novos países, não estou certo do que acontece à liberdade depois de alguns exercícios de liberdade de expressão. 

Voltando à declaração do actual presidente de Angola, e tendo bem gravadas as palavras dele, além da frase já referida, só posso sorrir.

Na entrevista concedida a um conhecido jornalista português referiu várias coisas e designadamente, a construção de muitas escolas, hospitais, estradas etc. FANTÁSTICO.

Começo pelo Portugal de outrora.

Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Timor-Leste, Brasil, Goa Damão e Diu foram sendo descobertos por nós, pelos portugueses de antanho. Portugal apropriou-se desses territórios, como por toda a parte fizeram a França, Espanha, Holanda, Inglaterra, Itália, etc. A chamada epopeia dos Descobrimentos.

D.João II e o seu confrade espanhol/ castelhano tiveram artes de dividir o mundo, o descoberto e o por descobrir.

Obviamente que durante séculos, porventura 200 a 300 anos, pouco mais se desbravou em África do que fracas incursões a partir da costa. Porventura no Brasil se andou mais para dentro. Aliás o ouro creio que confirma isso.

Umas décadas depois da independência do Brasil, Bismarck convocou a famosa Conferência de Berlim. 

Discutiu-se em Berlim, de 15 de Novembro de 1884 a 26 de Fevereiro de 1885, basicamente três meses.

Mas já antes desta conferência, Bélgica e França por exemplo, porventura também o Grã-Bretanha/ Reino Unido, já tinham andado a olhar para os territórios Africanos, e a tratar de certas divisões de territórios.  

Um dos exemplos foi a célebre divisão da grande região do Congo, o Congo - Leopoldville para a Bélgica ou para o seu Leopoldo de então, e o Congo - Brazzaville para França. Portugal continuou com os seus territórios.

Qual o fito da conferência de Berlim?

Formalmente, o ardiloso e hábil Bismarck convenceu vários países a reunirem-se em Berlim para ponderar e regulamentar a liberdade de comércio em África e, muito concretamente, o comércio em certas extraordinárias bacias Africanas como as do Congo e Níger, mas também e sobretudo, para deliberar sobre novas ocupações em África e assim regular o Direito Internacional Colonial.

Claro que outras coisas foram tratadas. 
Como a navegação nos rios internacionais, outras questões de comércio internacional, tráfico de escravos, e muito para definir novas regras quanto a ocupações futuras de territórios Africanos.

No fim desses "concílio" ficou claro o normativo quanto a regras oficiais da colonização.
Acabaram os direitos históricos por exemplo reclamados por Portugal mas não só pelo nosso país.
Ficou definida a questão do território e, portanto, da necessidade de efectiva ocupação territorial. Ocupação do interior e já não apenas o bordejar das costas.

De Berlim resultaram várias coisas: reconhecimento/ confirmação da posse de vários territórios já existentes/ detidos por Estados Europeus, elaboração de muitos tratados de países Europeus / colonizadores relativamente a África, a Alemanha passando a administradora dos então Sudoeste Africano, Tanganica, Camarões e Togo, a Grã-Bretanha/ Reino Unido administradora da África Austral/ África do Sul como também de grande parte da África Oriental, a Bélgica e a França administradores das suas possessões, e o império Otomano vendo as suas possessões a começar a ir por água abaixo, 

Um dos resultados da conferência, apontando ao tratar depois de ocupar território, foi também Portugal apresentar o famoso mapa cor-de-rosa, que viria a ter o desfecho conhecido. A ligação Angola Moçambique finou-se.
A Grã-Bretanha queria (nunca conseguiu) fazer coisa idêntica em África, mas no sentido Norte-Sul. O seu grande explorador Cecil tinha isso em mente.
 
Voltando ao presidente Angolano e às suas frases já citadas, parece-me indiscutível que até finais dos anos 50 do século XX as nossas colónias viviam num estado deprimente, quanto a desenvolvimento e justiça social. A este propósito, recordo o que se passou na minha família.

Os meus pais, partiram para Luanda comigo em Março de 1948, tinha eu cerca de três meses. O meu infelizmente já falecido irmão e mais novo que eu, nasceu em Luanda. 
Estupidamente, embora eu tenha percebido mais tarde as razões, a minha mãe destruiu o documento de identificação dele, onde estava bem identificado - branco de segunda!

Continuando.
É sobretudo no início de 1960 que se começa a olhar mais seriamente para os territórios em África. E veio a guerra.

Creio indesmentível que em 1974 Luanda, Lourenço Marques e outras cidades em Angola Moçambique e Cabo Verde nada deviam aos tempos de 1950. E os interiores também não.
Mas subsistia muito por desenvolver, Angola e Moçambique sobretudo são territórios imensos.

Em síntese, e porventura com algum lapso mas procurando ser isento, durante séculos pouco ou nada fizemos como aliás outros colonizadores, mas a situação alterou-se muito nos últimos 30/35 anos antes do 25 de Abril de 1974. 
TARDE. 
JÁ ERA MUITO TARDE. 
E A CASMURRICE DE SALAZAR E CAETANO PIORARAM TUDO AINDA MAIS.

O sr presidente de Angola, no seu estilo aparente de sereno estadista mas não conseguindo esconder a sua arrogância, podia ter sido mais rigoroso.

Podia por exemplo ter dito que muito se foi fazendo em Angola de 2000 até ao presente.
Que construíram pouco desde a independência em 1975 até 2000, apesar da imensa e intensa ajuda por parte de Cuba, URSS e China.

E podia, sobretudo, ter decoro e lembrar-se que há muitos portugueses que viajam constantemente para Luanda, e têm a noção rigorosa do que hoje é Luanda a partir de pouco depois do centro finório das elites e da redoma onde vive enclausurado, tal como vivia o seu antecessor dos Santos. 
Um pouco de decoro e de menor arrogância não lhe ficavam mal.

António Cabral (AC)

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