segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O ESTADO.
O social, o corporativo, o "estado a que chegámos".
E de onde não saímos?
"Recomeça..........se puderes, sem angústia e sem pressa, e os passos que
deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não 
alcançares não descanses, de nenhum fruto queiras só metade." MIGUEL TORGA.

1. Lutar contra ventos e marés. Por meios legais. Obrigação cívica. Escrever em blogues e jornais, ir à rádio e à TV. Mas tarefa ingrata, para a esmagadora maioria dos concidadãos, sobretudo se, ao longo dos anos, muitos daqueles com as maiores responsabilidades civis e militares actuaram como se nada se passasse de gritante e desequilibrado, e não tivesse consequências para quase todos. Se privilegiaram a submissão à subordinação. Se periodicamente pressionaram alguns dos que com retidão e lealmente, em privado, se atreveram a colocar dúvidas e a chamar à atenção para a necessidade de resolver situações. Se as mais das vezes preferiram rodear-se do cinzentismo dos "yes boys de olhos azuis".
2. Parece lastimável o "ESTADO" geral a que chegámos. Está, a meu ver, à beira de explosão social. Uns dirão que não, porque agora mandam as esquerdas. Alguns brandem números em antagónicas demonstrações. Outros fingem-se amnésicos, quanto a erros e desvios do passado. Ainda que saltitões do passado digam agora que as medidas no passado decididas foram erradas. Não é lindo?
Para vários, como sempre gostaram de fazer, só conta a sua redoma, tomam-se de Pilatos. Lançam alertas, depois de objectiva e decisivamente terem ajudado a talhar o caminho para o precipício à beira do qual estamos. Mas brandem sempre o rigor, a excelência, a transparência e a elevada competência dos seus desempenhos, em todos os cargos públicos e privados por onde se espraiaram. E criaram dívida!!!
3. Para espanto e "aparente" desgosto de uns quantos que agora, provavelmente, esquecidos da sua atitude de pesporrente passividade do passado não muito longínquo, e fazendo-se esquecidos também de como, por vezes, olharam os discordantes mas leais.
4. Sempre me enojou o tolo brandir intimidatório do poder formal das hierarquias, as civis e as militares. Sempre me enojaram os que criam emprego aos berros ou por decreto.
Enoja-me os que procuram arrasar actores secundários fingindo desconhecer os responsáveis primeiros dos buracos nacionais. Buracos, sejam eles monstruosamente financeiros ou de índole estrutural de uma sociedade que devia ser saudável. Não deve ser esquecido, que alguns desses responsáveis primeiros, pisam as alcatifas dos actuais poderes formais.
5. Quando uns, como muita responsabilidade cívica, integraram certas organizações, quando o tráfico de influências passou a ser crime apenas (creio) desde 1995, quando se permitem sucessivos pedidos de aclaração de sentenças, quando um assaltante de multibanco poderá ter uma condenação mais pesada que alguém que possa ter contribuído para o descalabro financeiro a que nos conduziram, quando é "delicioso" olhar o grau de acatamento concreto das decisões de tribunais superiores, designadamente Tribunais Constitucional e de Contas, quando se apregoa o mar mas com portos caros e sem construção naval ou frota de pesca que se vejam, quando se recebem ameaças de multas por fraca fiscalização, quando os que insultam instituições e desprezam valores superiores se consideram e permanecem de facto intocáveis, é nesta sociedade que desde 1991 em movimento uniformemente acelerado se maltratam cidadãos como por exemplo, doentes, reformados, jovens, militares.
6. Uma sociedade assim, em que a esmagadora maioria de responsáveis políticos quando no poder espezinha há décadas, quer os desaparecidos em combate, quer os estropiados, quer a dor dos que ficaram, quer os traumas que advieram, quer os anos longe da família em ambientes hostis, e que desdenha de um dos pilares de qualquer estado saudável, é uma sociedade em decomposição acelerada. Por isso, encantador o espanto, a indignação, de alguns, perante o estado actual das coisas. Tanto mais encantador quanto me recordo de quando e de quem lhes conferiu poder, e do que podiam ter reformado e proposto que fosse reformado nas instituições que chefiaram, e não o fizeram.
7. Uma sociedade que se desgasta todos os anos com manuais escolares sempre novos, com concursos de professores sempre discutíveis, com reformas (??) para a frente e para trás e para a frente e outra vez para trás, com pais a bater em professores, com professores a não impor autoridade, com estruturas do Ministério da Educação como o que se continua a ver, é uma sociedade desgraçada, condenada ao desastre.
8. Uma sociedade em que os responsáveis mentem descaradamente, com cofres cheios ou vazios, com austeridade ou com a página da dita já voltada, ou com o desaparecimento do empobrecimento, ou onde arde quase tudo e mais alguma coisa, é uma sociedade a precisar de restauro urgente.
9. De uma visita a Santarém, muitos anos atrás, recordo como se fosse hoje, as suas palavras, a lucidez e o brilho dos olhos de um cidadão e militar que tinha uma coluna vertebral digna de vir em compêndio de Anatomia. Infelizmente a doença ceifou-lhe a vida a destempo. Por isso não assiste ao desgraçado estado actual deste País.
Só há debate de ideias e reformas dignas desse nome quando as pessoas querem debater seriamente. Dê-se-lhe espaço. Que inimigos, de quaisquer reformas? Que rumo estratégico para Portugal? Que Estado? Que defesa nacional? Que FA? Que justiça?
Por agora fica mais um desabafo. E continuarei à espera para ver se as verdades vêm ao de cima e assim prestigiar as instituições. Não é Sr Presidente da República Portuguesa?
António Cabral (AC)

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