segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A PROPÓSITO de OBRAS MEGALÓMANAS
Foi assim no passado, e surgiu Mafra, por exemplo, mas há mais.
O ouro do Brasil esfumou-se como em parte se sabe. Muito também deve ter ido parar a bolsos de certa gentinha que, então como hoje, sempre se governou à pala das pouca vergonhas à mesa do Estado.
Uma mania, que não é só portuguesa. 
Vem isto a propósito da notícia acerca da hipotética reconstrução/ completamento do Palácio na Ajuda.
Poderão alguns interrogar-se: mas não temos direito a fazer obras imponentes, que marquem épocas?
Não nego, e temos, mas lembro sempre aquela frase - com peso, conta e medida. Antes de continuar, uma recordação.
Estava eu em serviço na Holanda, algures Maio/Junho de 1991, numa recepção para que fora convidado, quando um parvalhão diplomata holandês meteu conversa comigo e, depois das costumeiras frivolidades, disparou uma coisa acerca de estarmos a construir o CCB. Como meu hábito, dentro de portas (na profissão, e em sociedade), lá fora também nunca me dei por gostar que me pisassem os calos. Creio que não fui ordinário, mas fiz jus aquilo que, com amizade, alguns dizem de mim - nariz empinado.
Voltando ao assunto, mas continuando sobre o CCB, quiseram as circunstâncias da vida que um amigo meu tenha sido um dos principais responsáveis por rechear o CCB. Lembro bem, portanto, as dificuldades que ele enfrentou e como as coisas se fazem por cá. Como, matreiramente se iniciam.
Saltando, acho curiosa a coincidência de aparecerem sempre uns quantos, os mesmos, em obras emblemáticas, nos Açores por exemplo, e vê-los onde estão encaixados à pala sempre da mesma cor política. Voltando à questão AJUDA, não ficou para mim claro a verdadeira autoria da ideia. Sim, porque não estando os 70 assim tão longe, há décadas que sei que os bebés não chegam de Paris.
E desconfio sempre dos rapazinhos com carinha de menino, e com boa imprensa. Pela calada……
Deve acabar-se a AJUDA? Provavelmente, aquele buraco não é estético é mesmo, porventura, horrendo. Mas os milhões para essa obra, não seriam bem melhor aplicados a terminar as várias obras e museus inacabados no que a património edificado diz respeito?
Naturalmente, como dizem /dirão alguns, as soluções teóricas serão variadas. Certamente umas mais caras que outras. Certamente, a gula de certos donos de certas e todas as coisas tentarão sobrepor-se à racionalidade. Certamente, como se vê já, os amigos a aplaudir os amigos, sobretudo o do costume que se gosta de levar ao colo a si próprio.
Sobressai a tentação das obras na capital, para arvorar no futuro político. Continuar a esquecer o resto do País. Resolva-se a AJUDA, com racionalidade, mas olhem para a restante parte fora de Lisboa. Estou farto da gentinha (masculina e feminina) que discursa e aplaude a cultura e o património e ao mesmo tempo exibe e distribui o cartão de visita preenchido dos dois lados com...........
A diferença entre essa gentinha e os poucos que podem apenas colocar por baixo do nome - senhor ou senhora - está cada vez mais à vista.
Ah, meu caro senhor, mas então não vê que ficam sem ganhar vários tipos, designadamente aqueles poucos do costume que mantêm os escritórios e ateliers abertos, para não falar dos segundas linhas e, sobretudo, o engrandecimento de autarca? O senhor não vê a coisa pelo prisma correto!
"Bom, oh senhor ministro e oh senhor arquitecto, perdão, senhor vereador, vamos aguardar por mais reações à notícia, não convém espantar muito a caça".
AC 

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