quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

REFLEXÃO   PESSOAL
É comum os académicos identificarem e analisarem problemas. Não é comum os responsáveis políticos reconhecerem publicamente esses problemas. 
Não sou académico nem responsável político, o que não minimiza a minha visão sobre o que me rodeia, aqui e lá fora. Ainda que não ande por aí ou por ali, na modalidade discutível manifestada por alguns, não me alheio da envolvente. Deixem-me portanto partilhar algumas convicções e algumas, poucas, certezas.
Quem me conhecer, de facto, sabe que olho para além das circunstâncias e das comodidades pessoais e que não cedo nos princípios e nos valores. Não cedo perante as dificuldades que a vida cada vez mais me vem colocando, perante indignidades, nem face a incompreensões ou ao conformismo.
Não me conformo por exemplo com a barreira que o sistema nacional vigente coloca à participação livre dos cidadãos na vida colectiva mas também não me comovo com o eventual exercício de cargos que designo de cidadania em que, as mais das vezes, não escapam ao conferir uma provisória notoriedade local dos titulares momentâneos, conjugada com a crónica indiferença, quando não mesmo desprezo, de alguns poderes públicos, independentemente da cor com que são tingidos. Particularmente quando não conduzem as acções e as iniciativas.
Sem princípios e valores e, também, sem respeito pelos normativos que lhe são próprios, não há instituições, desde a Assembleia da República à mais simples associação. Não há cidadania sã e escorreita, e porventura não haverá sociedade ou País digno desse nome.
Estou bem consciente que vivemos tempos de ansiedade e de que, infelizmente, ao nosso Camões de “mudam-se os tempos mudam-se as vontadesassiste-se no País e no mundo a uma mudança mudada em permanente mudança. Há que não perder as referências e as permanências.
Há sempre a tentação de esquecer por alguns momentos o que aflige, a uns mais que os outros. Relevem por isso estas palavras menos douradas.
Até porque o jogo de espelhos continua ano após ano. 
A ilusão vigora e muitos acreditam. Na sociedade portuguesa perfilam-se já no horizonte as próximas ilusões. Esquece a maioria dos portugueses que a entidade mítica e auto-suficiente que resolvia todos os problemas internos e externos, aquém e além-mar, já não existe. Não há milagres. O óbvio que quase ninguém quer ver.
Não se trata de simples retórica desligada das coisas concretas. Não confundindo optimismo com inconsciência, lembrem-se que o optimismo é a coragem dos inteligentes. Devemos por isso ter esperança, esperança por tempos melhores.
Esperança que é como o vento bom enfunando as velas do nosso barco.
Esperança de que acabe por ser desfeita a rede de interesses instalados que sabota qualquer esforço para reformar o País.
Esperança para que se investigue e reduza drasticamente o rasto indecoroso de clientelismo que há décadas se arrasta.
Esperança em que o mérito e o esforço tenham real retribuição e não sejam diminuídos por não se ter cartão de um clube ou por não se ter amigo bem colocado.
Esperança para que se reconheça de uma vez por todas que, como uma vez disse Adriano Moreira – que um bom ensino superior é uma missão de soberania, não deve cair no economicismo.
Esperança em que, como disse uma vez Medeiros Ferreira no DN, se clarifique se o País pode acreditar na qualidade dos títulos académicos atribuídos pelas universidades.
Esperança em que se acabe na nossa sociedade com esta sugestão continuada e para que muito concorrem os OCS na forma e no conteúdo, de que pose e aparência são quase tudo.
Esperança em que se dissipe esta doentia mania de que primeiro estão os direitos e depois os deveres.
Falar para os outros em mandarim é a pior das soluções.
Não foi isso que pretendi..
Neste caminho percorrido e olhando para trás, fica-me uma certeza, que advém do facto de que, se tentei alguma coisa fazer e falhei, estou certamente em melhor situação do que aqueles que procuram nada fazer ou são peritos na mistificação e são nisso muito bem sucedidos.
A distância entre dois pontos é sempre a mesma quer se meça a partir de um ou do outro ponto. Há quem só meça do seu lado e ache que do outro é mais distante.
Devíamos todos ser virtualmente iguais. Devemos sê-lo, todos. Mas desenganem-se os que pensam que somos de facto todos completamente iguais.
Não somos. Desde logo na idade e no berço. E não pode deixar de haver hierarquia das responsabilidades. Indissociável, do respeito pela pessoa humana em todas as suas vertentes. 
Somo todos da mesma massa mas não da mesma fôrma.
Mas todos devemos ser iguais perante a Lei.
Estou cansado de ver no meu País tantos ACPN.
Para quem não saiba, são as iniciais - de autoridade competente de porra nenhuma. E sei que se diz que cada um tem o que merece, mas cada vez mais duvido que muitos mereçam o que têm.
A terminar e lembrando a sábia quadra de Agostinho da Silva:
“Não corro como corria, Nem salto como saltava, Mas vejo mais do que via, E sonho mais que sonhava”.
Posso garantir-vos que vejo bastante mais do que via e continuo a sonhar esperançadamente.
E nunca tive tanta certeza de que há muitos juízos precipitados, preconceituosos, ofensivos, caluniosos, de desconsideração, de inveja, injustos.
Nunca tive tanta certeza de que não há como o tempo para tornar relativos certos juízos absolutos.
António Cabral (AC)

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