Estive a reler posts que publiquei no passado.
Entre muitos, apetece-me republicar este de 20FEV2014. Não posso ser e tento nunca ser advogado em causa própria, mas muito do que escrevi parece-me que no essencial continua a bater certo com a actualidade, com podridão que grassa.
Republico, também, porque estive a ler as loas de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa acerca do triste desaparecimento de um ex-combatente e que por honradamente ter combatido em África acabou por se tornar um infeliz deficiente das FA, um homem sempre de uma enorme dignidade e um lutador por valores e princípios. Estas loas, como outras do passado destes actuais titulares de orgãos de soberania como aliás de muitos dos seus antecessores, gosto sempre de cotejá-las com a acção política concreta que desenvolveram/ desenvolvem sobre as FA, sobre os deficientes das FA, e sobre a acção social e apoio ás famílias dos desaparecidos em combate.
Outra razão para republicar o post, é ter-me lembrado do enorme desfile há meses levado a efeito na Av da Liberdade e promovido, creio, pelo actual inquilino de Belém.
E a propósito desse desfile militar, lembrar-me outra vez da questão "personalidades", um dos cancros do nosso regime.
É que há personalidades e personalidades, umas com academia, outras sem quase nada, umas pequeninas (não me refiro à estatura física, embora algumas também a não tenham), umas que se julgam mais notáveis, outras que se consideram donas do regime, donas da ética, donas de quase tudo. Personalidades que circulam sempre nos mesmos circuitos e entre tachos directos ou encapotados.
As tais personalidades, que andam por cá, muitas fruindo também bons lugares no estrangeiro onde muitas vezes nem se dá por eles, personalidades com e sem graça, algumas dando periódica prova de vida seja nas TV seja nos jornais, seja escrevendo ou falando com graça ou sem ela.
A gentinha que se atropela pelo croquete, pela recepções nos palácios e nas embaixadas, e pelas paradas e tribunas com muita gente, como refiro no último parágrafo do post que republico.
Proposta da Assembleia da República: Grande parada militar para comemorar Abril
1. Acabo de ler na comunicação social (pela NET) que estará no ar, vinda de sectores da Assembleia da República (AR), uma proposta para se realizar uma grande parada militar para comemorar o 25 de Abril de 1974. Surgem no meu espírito duas perguntas:
a. porquê uma parada militar? claro que se pode argumentar, porque não?
b. a encaminhar-se para uma concretização, porquê uma GRANDE parada militar? Porque não, apenas, uma parada militar sem espalhafato, com a dignidade da presença de um número reduzido de militares, representando os 3 Ramos das Forças Armadas (FA)
2. Desconheço os fundamentos explícitos da proposta. Como sempre devia acontecer na vida, uma ideia carece de ponderação, “brain storming” e, sobretudo, passar o teste AEA (Adequabilidade, Exequibilidade, Aceitabilidade). Caso contrário, a ideia pode acabar em desastre, seja no plano financeiro (aqui a questão da aceitabilidade), seja na ausência de proporcionalidade, seja mesmo no cobrir-se de ridículo e ser um tiro ao lado do que se pretendia. Nesta última hipótese e neste caso, o ridículo acabaria por passar das cabeças da Presidente e deputados da AR, para os militares, se para tanto se puserem a jeito. Em Portugal, e olhando agora apenas à recente história contemporânea, raras foram as vezes em que as acções dos políticos olharam ao teste AEA. Com os resultados conhecidos.
3. Quanto a paradas militares pelas mais diferenciadas ocasiões, de 25 Abril 74 para cá lembro-me de vários episódios, vários, caricatos do meu ponto de vista, ou pelo menos discutíveis. Por exemplo, e salvo erro no tempo do Ministro da Defesa Nacional (MDN) Fernando Nogueira, houve uma GRANDE parada militar na área do Porto, onde o Exército por exemplo se passeou com carros de combate. É recordar o resultado da passagem das lagartas pelas diversas ruas. Não custou nada, só houve que arranjar os pavimentos danificados!!!!. Não custou nada a deslocação para o Norte ou para o Sul, de navios de guerra, de aviões, de infindáveis veículos militares para participar em desfiles militares.!!!. Não custou nada!!!!!.
4. O actual Presidente da República (PR), e comandante supremo das FA (saberá?), os governantes, e muitos militares, acabam sempre por exaltar o seu habitual e desmedido “ego”, embarcando neste tipo de festividades sempre bastante dispendiosas. Julgo que nunca foram pagas por verbas extra pelo sucessivos governos, mas pelos orçamentos das FA. Mas os militares ao longo dos anos parece que gostam assim, queixam-se das restrições orçamentais, mas estão sempre a embarcar nas festas próprias e nas determinadas pelos políticos, que depois, os descredibilizam sucessiva e constantemente, como se assiste no presente. Este Presidente, e estou a recordar-me de paradas do 10 de Junho por exemplo, aparece sempre a chegar ao local das cerimónias envolto num aparato/ cortejo militar de viaturas e pessoal super armado, que sempre me pareceu despropositado. Admito naturalmente estar errado.
5. Face o que antecede, sem ter pensado quase nada no assunto porque escrevo na sequência do que há pouco li, creio que o grupo de militares que planeou e concretizou o 25 ABR 74, merece ser recordado no próximo mês de Abril. Na fase em que está o País, e sobretudo os portugueses, discordo liminarmente de toda e qualquer cerimónia dispendiosa. Creio que seria um insulto aos que sofrem mais.
Muito dinheiro se gastaria com um GRANDE desfile militar, que depois envolveria muitas passagens de aviões, vários navios de guerra no Mar da Palha e se calhar em vários portos do Continente, muito combustível para carros de combate, etc. E tem que se contabilizar ainda e pelo menos, mais o custo de toda a complicada logística que tudo isto envolve, mais as horas extraordinárias a pagar ás forças de segurança (é feriado) etc etc.
6. Provavelmente, em vez de se desperdiçar dinheiro com GRANDES PARADAS, a AR bem podia:
a. patrocinar a abertura de todos os museus do País, a estarem abertos gratuitamente para o público todo o dia 25 de Abril;
b. realizar uma sessão solene, sem as habituais agressões entre partidos e orgãos de soberania, durante a qual, e de forma muito destacada, se homenagearia todos os militares que levaram a efeito o 25 de Abril de 1974; nessa cerimónia deveria, também, explicitamente, ser feita uma referência de homenagem à instituição militar, e particularmente aos mortos em combate ao longo dos anos;
c. promover um desfile militar simples, sem viaturas, com a excepção de uma velha “Chaimite” como símbolo; desfile a ser iniciado com a banda militar mais antiga, seguida apenas de um batalhão por Ramo das FA;
d. nada de veículos militares, nada de equipamentos esquisitos de tropas especiais, nada de aviões a sobrevoar, nada de navios espalhados, nos portos; não mais que três helicópteros a passar devagar na AV da Liberdade, e a Sagres apenas, algures no Mar da Palha;
e. Unidades militares e museus militares abertos ao público todo o dia; AR aberta ao público da parte da tarde; Palácio de Belém aberto ao público todo o dia.
7. Mas se calhar, tudo isto que me vem agora à cabeça, não passa de um conjunto de ideias tolas, sem sentido de Estado, e que inviabilizaria o passeio das dezenas e dezenas de automóveis Mercedes, BMW e AUDI; inviabilizaria a montagem de muitas tribunas para albergar o PR, os governantes, os deputados, os autarcas, as chefias militares e as das forças de segurança, o clero, as chefias das polícias e das secretas, os juízes, os magistrados do Ministério Público, os bastonários das ordens todas, os directores-gerais de todo e mais algum lado, os embaixadores estrangeiros, os presidentes de fundações, os diplomatas portugueses, os representantes da Troika, os adidos militares estrangeiros, e muito mais gente que aqui falta e não perde uma, e se atira ao croquete com denodo, e ainda…..ainda…...etc; e, ainda, …..óbvia e finalmente, ………….as senhoras de todos eles, e os senhores de todas elas. UFF!!
António Cabral (AC)
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