(Lido por aí)
"O multilateralismo construído a partir dos países já não funciona… Os problemas hoje são cada vez mais globais, as soluções não podem ser tomadas a nível nacional."
Carlos Moedas, Público, 10 de Fevereiro de 2019
A ANÁLISE...
Quem ignora o passado condena-se a repeti-lo. Mas se o passado foi heróico ou trágico, a sua repetição tenderá a ser uma farsa, pois a passagem do tempo implicou a alteração das condições em que o passado existiu. O campo de possibilidades do passado não é comparável com o campo de possibilidades do presente. E quando o presente é o tempo de uma mudança radical do padrão de ordem mundial, quando a evolução da demografia, do financiamento das políticas públicas e das tecnologias que promovem a circulação de informação, de recursos financeiros e a formação de cadeias de produção e de mercados interdependentes, são mudanças que produzem uma descontinuidade nos campos de possibilidade, passa a ser este presente que não liga o passado com o futuro.
O que se sabe do passado pode ser útil como indicação negativa do que não se deve fazer para não o repetir no que só poderia ser uma farsa quando já não há condições para a sua repetição. Saber o que não se deve fazer é necessário, mas não é suficiente para construir o futuro. Dizia Camões que todo o mundo é feito de mudança, mas o que mais o espantava é que o mundo já não mudasse como antes mudava. Esse é o efeito da descontinuidade: a mudança continua a acontecer, mas já não segue a sua trajectória habitual, já não muda como mudava, a imaginação sobre o futuro passa a ocupar o lugar e a função da memória sobre o passado.
O paradoxo (e o perigo) deste presente da descontinuidade, que desliga o passado do futuro, está no facto de se assistir a uma recuperação e reabilitação de modelos nacionalistas e de dispositivos institucionais de imposição da autoridade soberanista dos Estados, glorificando o que ficou na memória, ignorando os erros que então foram cometidos e encontrando um pretexto, na demagogia do saudosismo, para não enfrentar o desafio do futuro, que exige formas e entidades políticas de escala superior ao que foi o Estado nacional. É na imaginação do futuro que se decide a bifurcação entre o caminho da regressão e o caminho do progresso.
"O multilateralismo construído a partir dos países já não funciona… Os problemas hoje são cada vez mais globais, as soluções não podem ser tomadas a nível nacional."
Carlos Moedas, Público, 10 de Fevereiro de 2019
A ANÁLISE...
Quem ignora o passado condena-se a repeti-lo. Mas se o passado foi heróico ou trágico, a sua repetição tenderá a ser uma farsa, pois a passagem do tempo implicou a alteração das condições em que o passado existiu. O campo de possibilidades do passado não é comparável com o campo de possibilidades do presente. E quando o presente é o tempo de uma mudança radical do padrão de ordem mundial, quando a evolução da demografia, do financiamento das políticas públicas e das tecnologias que promovem a circulação de informação, de recursos financeiros e a formação de cadeias de produção e de mercados interdependentes, são mudanças que produzem uma descontinuidade nos campos de possibilidade, passa a ser este presente que não liga o passado com o futuro.
O que se sabe do passado pode ser útil como indicação negativa do que não se deve fazer para não o repetir no que só poderia ser uma farsa quando já não há condições para a sua repetição. Saber o que não se deve fazer é necessário, mas não é suficiente para construir o futuro. Dizia Camões que todo o mundo é feito de mudança, mas o que mais o espantava é que o mundo já não mudasse como antes mudava. Esse é o efeito da descontinuidade: a mudança continua a acontecer, mas já não segue a sua trajectória habitual, já não muda como mudava, a imaginação sobre o futuro passa a ocupar o lugar e a função da memória sobre o passado.
O paradoxo (e o perigo) deste presente da descontinuidade, que desliga o passado do futuro, está no facto de se assistir a uma recuperação e reabilitação de modelos nacionalistas e de dispositivos institucionais de imposição da autoridade soberanista dos Estados, glorificando o que ficou na memória, ignorando os erros que então foram cometidos e encontrando um pretexto, na demagogia do saudosismo, para não enfrentar o desafio do futuro, que exige formas e entidades políticas de escala superior ao que foi o Estado nacional. É na imaginação do futuro que se decide a bifurcação entre o caminho da regressão e o caminho do progresso.
Joaquim Aguiar
AC
(sublinhados da minha responsabilidade)
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