segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Carta Aberta do Presidente da ANIL, 
a propósito dos comentários de Augusto Santos Silva sobre a  qualidade dos empresários Portugueses

Caros colegas empresários portugueses,
São do conhecimento geral, as afirmações polémicas do senhor ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, no GRAPE em Coimbra, tendo-se pronunciado acerca da “fraquíssima qualidade da gestão das nossas empresas.” Entretanto penitenciou-se, uns dias depois, dizendo que não pretendia denegrir as empresas portuguesas., afirmando, “que essas declarações parecem indicar que fiz uma generalização que seria abusiva e, se o efeito foi esse, penitencio-me por isso.”
Na minha modesta opinião, o problema deste país é “a fraquíssima qualidade da gestão dos nossos governantes.” Não sendo minha intenção denegrir os governos portugueses e sabendo que esta afirmação corre o risco de ser generalizada, penitencio-me imediatamente por isso.
Já com a penitência feita, gostaria de sublinhar aquilo que parece ser, para o senhor ministro, a fraquíssima qualidade da nossa gestão. Na nossa qualidade de “fraquíssimos gestores empresariais” suportamos a maior carga fiscal dos últimos anos, pagamos das facturas de energia e combustíveis mais caras da Europa, uma rede rodoviária cara sem alternativas viáveis e mesmo assim estamos na primeira linha nos esforços para a sustentabilidade, inovação e desenvolvimento.
Por outro lado, não vejo que seja uma conclusão particularmente sagaz e inovadora, defender a contratação de quadros qualificados, atrevo-me aliás a dizer, que ao fim de quase quatro décadas na indústria, nunca ouvi algum colega afirmar que não estaria interessado em contratar bons quadros para a sua empresa. Mais uma vez, um governante contribui, com muita qualidade, para a noção errada de que são as empresas que não querem contratar especialistas.
Não será antes a falta de empresas, que são levadas ao encerramento devido à nada fraquíssima carga fiscal, de que são paradigmas as fraquíssimas políticas económicas que consecutivamente sufocam e bloqueiam o desenvolvimento, principalmente nas zonas periféricas e do interior, condenadas ao esquecimento? Ou, como parece crer o senhor ministro, numa esperança sebastianica de que surja uma multinacional estrangeira (a quem os nossos governos dão todas as oportunidades, negadas às empresas portuguesas) que salve essa comunidade, sem que o nosso governo tenha que activamente contribuir com políticas pró-activas para o desenvolvimento económico?
É caso para perguntar, caros colegas, que se nós somos fraquíssimos, quais serão os qualificativos adequados para a gestão dos nossos governantes? Penitenciando-me pela generalização, desde já.

José Alberto Robalo, Presidente da ANIL – Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios


Andamos nisto, acusações, retratações, respostas, contra-respostas.
Telenovelas autenticamente mexicanas, ou não estivéssemos a caminhar para uma mexicanização do regime, ou estou completamente enganado?
Como em tudo na vida, ninguém tem 100% de razão ou 100% de culpas.
O trauliteiro Silva tem alguma razão pois certamente existem vários gestores e empresários cujos méritos serão fracotes. Mas vários empresários têm também razão, pois muitos se têm esforçado e os resultados são conhecidos.
Como sempre, é pena não haver mais rigor nestas coisas.
Por exemplo, o presidente da ANIL podia especificar claramente todos os aspectos no favorecimento de certos empreendedores estrangeiros, e podia por outro lado ponderar sobre certos perdões de dívidas bancárias a grupos portugueses e nessa medida apontar em concreto o que podia ser feito para melhorar apoios a PME, por exemplo. Mas isto sou só eu a divagar.
AC

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