domingo, 21 de fevereiro de 2021

Do  PASSADO

Como vem acontecendo cada vez mais, multiplicam-se os "fait divers" promovidos por certa gente em detrimento da ponderação e procura de solução para os reais problemas da nossa sociedade, ponderação e procura de solução que pudesse começar a retirar-nos do cada vez maior atraso, atraso a todos os níveis. Mas não, de trincheira para trincheira assanham-se por Marcelino da Mata, ou discutem quem devia ter sido morto, ou estão a terminar a listagem do património edificado por esse país fora que deve ser destruído, e em que presumo que nem pelourinhos hão-de escapar. E na sequência de mais uma telenovela de mau gosto recordei-me mais uma vez de múltiplos casos, histórias, vivências do passado na guerra em África, na Guiné. Repito uma que já em tempos recordei.

Fui o oficial imediato (o equivalente a um 2º comandante) no patrulha / lancha de fiscalização - LFG Hidra (29OUT1971 - 28JUL1973), e tive a sorte de sair de lá vivo, tal como outro bom amigo e companheiro de armas que esse período também lá passou.

E entre as muitas "cenas" por que passei e que já contei mas volto a colocar aqui recordo esta, deliciosa de diferentes pontos de vista. Na sequência da necessidade do navio ter de subir o plano inclinado nas oficinas navais em Bissau devido a uma "grande gentileza" da rapaziada do PAIGC (fomos atacados no rio Cacheu em 19 de Maio de 1973, pelas 2340 horas) tive de fazer uma "perninha" nesta então já muito cansada pequenina unidade naval que mostro em baixo . O comandante respectivo adoecera. Já não recordo com rigor a 100 % mas, salvo erro, foram cerca de 15 dias, que deu tempo, por exemplo, a ter de subir o rio Geba, subir bastante, para zonas muito desconfortáveis pela vizinhança existente nas margens em zona de rio já mais estreito.

Foi uma experiência curiosa e interessante. Entre outras coisas, a sensação de "garrar" mais de uma milha consoante a maré virava isto é, a posição do navio deslocar-se para montante ou jusante conforme a maré puxava. E puxava bem, e nada a fazer. Outra experiência foi a conversa com o guineense que era o criado, amanuense, copeiro, cozinheiro, etc., de muito pequenina estatura, com uma tez muito luzidia e com quem conversei um bom bocado altas horas da madrugada, pois não dava naquela altura para dormir, estando fundeado tão perto de "colónias de férias do PAIGC ".

Dessa conversa, com um luar monumental sobre nós, retenho particularmente duas coisas. Quando perguntado, sobre dificuldades da vida, respondeu que o "imposto de palhota" estava muito pesado, aparentemente Spínola tinha-o aumentado antes de regressar ao Continente. Noutra parte da conversa, indaguei quantas mulheres tinha, coisa que era comum entre a esmagadora maioria das etnias mas, para meu azar, dei com um católico - sr comandante, sou católico, só tenho uma mulher e filhos dessa mulher - respondeu-me com grande dignidade.

Uma recordação de,..... um colonialista, evidentemente!


Já lá vão quase 48 anos.

António Cabral (AC)

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