Os FALCON 50
Muitas vezes tenho referido que raramente compro jornais e revistas e canso pouco os olhos e os ouvidos em frente ao televisor. Mas de vez em quando compro, quando a capa me espevita.
Vem isto a propósito da capa do Tal & Qual, que comprei, por trazer na capa a fotografia de um dos aviões que a Força Aérea detém.
E comprei este periódico sensacionalista por causa do dito avião, por causa das referências a eventuais pouca vergonhas mas, também, porque tenho dois pequenos episódios vividos e relacionados com este pássaro de metal.
Vivo desde 1 de Março d 1974 perto da base aérea que inicialmente albergou a constituição da "Esquadra" destas aeronaves de transporte VIP. (VIP= very important person)*
A missão principal destes aviões era inicialmente e assim continua, o transporte de altas entidades do Estado com predominância creio eu para, o inquilino em Belém, o inquilino da casa em S. Bento, os ministros dos negócios estrangeiros e da defesa nacional.
Mas nos últimos anos os Falcon têm feito voos de outra natureza, como no âmbito do apoio médico e até transporte de órgãos para transplantes.
É sabido e compreensível (entendimento meu, naturalmente) que nos tempos contemporâneos é muitas vezes ou cada vez mais necessário assegurar transportes rápidos de titulares de órgãos de soberania designadamente para sucessivas e crescentes reuniões no âmbito NATO e UE.
A sobrecarga crescente de deslocações ao estrangeiro obrigou a que os aviões tenham desde há mais de duas décadas a sua base em Lisboa.
Na organização da Força Aérea, os diferentes tipos de aviões são organizados por esquadras a que dão nomes curiosos, como lobos, pumas, águias, bisontes etc. Os Falcon estão designados por Linces.
Mas voltando às viagens constantes dos Falcon 50, o jornal tipifica deslocações do inquilino de Belém, e de membros do governo. É pena que este jornal e sobretudo outros, não se interessem por este e outros similares assuntos e façam contas ao que sai dos bolsos dos contribuintes para pagar as deslocações necessárias de certos titulares de órgãos de soberania.
Mas é sobretudo pena que os OCS não investiguem e denunciem certas coisas que se dispensava acontecessem. É sobretudo pena que não peçam informação detalhada anual sobre todos os voos efectuados pelos Falcon 50 e publiquem as pouca vergonhas que anualmente se verificam da parte de certas excelências (????).
E digo escandalosos para não dizer pior.
Nesta nossa democracia várias vezes mais formal que real, cada vez mais isto se parece com certos países onde eu não gostava nada de viver. É como estamos, mas a populaça aplaude e, portanto, que hei-de eu fazer para lá de protestar veementemente perante estas crescentes pouca vergonhas?
Poucas vergonhas que não os impedem de proferir discursos moralistas como hoje ouvi!
AC
(*) muitas vezes, os tais VIP são mais para o - very important potato
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