domingo, 17 de julho de 2022

TODOS   COM   MEDO   DELE    

Será mesmo?

Há umas semanas, ao entrar uma manhã na papelaria dos jornais dei com a capa de uma revista cor-de-rosa que, com a fotografia do rosto dele lá escarrapachada, fazia referência ao almirante Gouveia e Melo (GM), considerando-o pessoa causando profundo receio nos sectores políticos, particularmente no âmbito do processo para as próximas eleições presidenciais, previstas ocorrer em 2026, se nada de extraordinário transtornar o calendário formalmente previsto.

Nestas coisas, quem se quiser dar ao trabalho de ponderar sobre "um dado tema" e se quiser fazer uma análise séria e profunda a esse tema deve, entre outras particularidades, procurar sempre antever a quem (pessoas, partidos, país, instituição, organização, grupo de pressão, etc.) aproveita o quê.

Depois de uma boa patuscada com o meu melhor amigo militar, que é almirante, na longa conversa que se seguiu sentado com um belíssimo Porto de 30 anos na mão, fresquinho e em copo adequado, abordámos a coisa sempre nessa perspectiva, a quem aproveita este tipo de notícias e entrevistas com o herói das vacinas, notícias periódicas, sucessivas. Deixo o resumo da conversa.

- Marcelo, PR - Do processo que muitos se recordarão ter sido travado com o célebre - sim, mas agora não - da parte de Marcelo, Marcelo que empossou GM salvo erro em cima do NATAL (terá sido prenda de Natal?), haverá ideias contraditórias, umas admitindo que Marcelo gosta muito de GM, outras defendendo o contrário. A Marcelo deve ser indiferente quem se vai candidatar em 2026, GM ou outros, Marcelo já não pode continuar a usar o palácio de Belém. Mas é provável que, como incurável relações públicas e comentador e aficionado da coscuvilhice e da intriga, venha a dizer bem de algum dos candidatos que surgirem. Duvido que seja por GM, não me perguntem porque assim penso.

- Costa, PM - Já para António Costa, uma hipotética candidatura de GM à Presidência será um grande incómodo. GM, justa ou não, granjeou na populaça uma certa admiração. A Costa e ao PS não interessa nada que GM saia da chefia da Marinha para se lançar a Belém. Como o mandato de três anos de GM à frente da Marinha acaba em Dezembro de 2024, provavelmente Costa quererá reconduzi-lo para o manter quieto. Ou pensar nele para CEMGFA.

- Sra Carreiras, MDN - A esta senhora, não quero ser demasiado duro mas mostra-se como o retrato fiel da teoria das competências, e não creio que conte para este campeonato, se é que conta efectivamente para algum.

- Almirante Silva Ribeiro, CEMGFA - Homem hábil, sinuoso, manobra na sombra há décadas, aparentemente com ligações várias a nível político, académico e a instituições outras que não vale a pena referir mas são bem conhecidas e muito pacatas em termos publicos. Poderá ter desejado ou continuar a desejar que GM o substitua em Fevereiro próximo pois acaba aí o seu mandato. Não será coisa pacífica, porque há temas no seio da instituição militar…. complexas. De resto, interesseiro como sempre se mostrou na carreira e na vida, deve estar-se a marimbar se GM vai para Belém ou não.

- Chefe da Casa Militar - almirante de Marinha, de antiguidade militar como vice-almirante superior ao então vice-almirante Gouveia e Melo, será teoricamente ouvido por Marcelo em assuntos militares. Não creio que conte para o campeonato em questão, presidenciais.

- MAI - ao actual ministro da administração interna a questão Gouveia e Melo putativo candidato ás eleições de 2026 não deve interessar um chavo. Já ao socialista José Carneiro, pelas funções que teve e tem no partido, é provável que seja ouvido por Costa quanto ao tema presidenciais.

- Exército e Força Aérea - A estes ramos das FA não creio que seja indiferente a pessoa e o militar Gouveia e Melo. Na eventualidade de os poderes públicos pensarem em considerar uma boa solução GM transitar em Fevereiro próximo de Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) para Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), não se cumpriria a NORMA NÃO ESCRITA de no cargo CEMGFA rodarem sequencialmente elementos oriundos dos três ramos. Logo se verá se haverá reações ou não. Mas o governo poderá reconduzi-lo como CEMA mantendo-o quieto politicamente. 

- PSP - a esta força de segurança não deve preocupar que GM seja chefe militar ou ascenda a PR.

- GNR - a esta força de segurança não deve ser indiferente que GM ascenda a CEMGFA ou a PR. Não lhes convirá um homem que defende claramente como deve ser efectuado o exercício da autoridade no mar.

10º - Partidos - Não creio que ao BE, PS, PSD, CDS, IL interesse GM candidato às próximas presidenciais. Tenho dúvidas se PCP aceitará um militar. Tenho dúvidas se Chega se aproveitará de GM. 

11º - Jornalistas - querem é assuntos para ver se aumentam as vendas e os assinantes digitais. Claro que há uns quantos que tratarão de lá mais para diante ir colocando minas no caminho e na vida de GM fazendo o jogo partidário.

12º - Almirante Gouveia e Melo, CEMASe GM se vier a lançar para as presidenciais 2026, creio que o fará desvinculado de qualquer partido, eleição tipo Macron. Penso que rejeitará qualquer colagem partidária. Penso que olha para as campanhas passadas de Marcelo e Macron.

Em síntese, GM quererá ser PR, sabe que conta com grandes hostilidades, os políticos não o querem. Aguardemos.

Mas depois da amena cavaqueira que outro dia tive e que sinteticamente acima relatei, surgiu mais uma longa entrevista de GM, desta vez não no DN onde vinha tendo muita audição, mas agora do Observador.

Agora, GM que se diz muito feliz no cargo para que foi nomeado no final de 2021 depois de um processo no mínimo muito estranho, apesar de mais uma vez afirmar que não pensa na Presidência, continua periodicamente a conseguir ser entrevistado. Isto é inocente?

Não faço ideia se o objectivo das sucessivas entrevistas é reiterar - não penso nisso - mas fica sempre a sensação -  não penso nisso, mas vou-me a ela se não me agarrarem!

Quem sabe destas coisas de comunicação social, contactos, favores a pagar, sabe perfeitamente como alguns se movem nestes meandros, como estas coisas se conseguem.

Depois há os milhares de inocentes, mais para o pateta, que acreditam que os bebés chegam de Paris no bico da cegonha, e que estas entrevistas como muitas outras coisas de muitos políticos e etc., são apenas inocências que acontecem sem maquiavelismo, sem calculismo, ou maldade, ou com intuitos A, B, C ou D.

EU, com quatro netos, o mais velho a caminho dos 19, deixei de acreditar nos bebés chegados de Paris………outro dia!

Mais uma entrevista que me recorda a certeira frase - cantas bem mas não me encantas. No caso, não me encantou rigorosamente NADA, e nem me surpreendeu.

A sucessão de notícias e entrevistas aproveita a quem?

A Gouveia e Melo, naturalmente, mas finjam que não sabem.

António Cabral (AC)

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