terça-feira, 23 de agosto de 2022

RECURSOS num PAÍS POBRE 

Numa fase em que o politicamente correcto esmaga quase todos, temos uns entusiastas a que, periodicamente, alguns avençados dão um bocadinho de tempo de antena, ou sobre eles lá escrevem umas linhas nos jornais e nas revistas (OCS). Também os ditos OCS de referência o fazem mas, de referência, mais não passam muitas vezes de papel para embrulhar castanhas assadas.
Mesmo que as linhas e/ ou entrevistas não passem basicamente de mais um faz de conta, de superficialidade indecorosa, e que tudo a eles (entusiastas) ligado acabe por ficar pouco diferente do que era antes da sua chegada ao poder e do seu desempenho no cargo.

Há uns políticos e políticas, uns dirigentes, uns amigos, que são endeusados como os mais bem preparados ou preparadas para o lugar. 
Coisa sempre discutível, mas que nunca se discute a sério perante os resultados alcançados quando deixam os cargos.

Há sempre quem, agora por exemplo a propósito da barbárie iniciada pela Rússia, balbucie grandes tiradas. 
Exemplo disso, aquelas frases pomposas que se têm ouvido e lido e todas começadas mais ou menos assim - Portugal tem os desafios de.......! 

No que respeita a um importante sector do Estado, as Forças Armadas (FA) e, nomeadamente, quanto à Marinha e quanto à Autoridade Marítima, Portugal terá/ tem desafios diferentes e diversos dadas as transformações, os desafios, a geopolítica. 

Por exemplo:
> que orçamento necessário para a Marinha? Que apoios adicionais?
> dentro desse orçamento, que parcela para pessoal (vencimentos, assistência na saúde, formação, etc.)?
> dentro desse orçamento, que parcela para renovação da frota, para investimento, para novos meios navais, para equipar modernamente fuzileiros e mergulhadores?

Por exemplo, no respeitante à Autoridade Marítima:
> que orçamento necessário para a Autoridade Marítima?
> que estudos e acções estão a ser feitos para conseguir concorrer a meios financeiros Europeus para a apoiar e desenvolver face ao que é a geografia do país?
> que outros apoios?

Nunca me tive como velho do Restelo e assim continuo mesmo reformado. 
Aplaudo as novas ideias, aprecio sangue novo mas que tenha os pés na terra e não seja apenas um intrujão, borrifo-me como sempre fiz para as clubites.
Considero urgente e necessário lutar por melhorias, por modernização, por conveniente apetrechamento das FA e, muito em particular, no que respeita à Marinha e à Força Aérea tendo nomeadamente em conta a enorme ZEE.

A fase presente da vida nacional, as propagandas de alguns, lembram-me sempre certas coisas que o meu melhor amigo militar que é almirante, em tempos me contou. 

Por exemplo, convencer um governo a adquirir novos meios sem que, com todo o detalhe e rigor lhe dar a noção clara do que efectivamente custará ao país adquirir esses novos meios, SOBRETUDO, esclarecer bem todos os aspectos e custos relativos à sua manutenção ao longo da previsível vida operacional /ciclo de vida ..... acarretará a curto prazo consequências graves. 

Que consequências? 
Por exemplo, passados poucos anos de actividade operacional começar a não haver dinheiro para sobressalentes, para manutenção de certos equipamentos no estrangeiro, e a subsequente e inevitável canibalização (tirar peças de um para outro) de meios.

A somar a isto, há que ter presente a postura dos políticos. Estou convencido que algumas luminárias não percebem quando são chutados, sempre para lugar conveniente ao poder, embora a aparência seja de grandes encómios e de paga de relevantes serviços.

Em certas alturas, como agora com a guerra na Ucrânia, logo surgem grandes tiradas sobre as FA, o aumento de orçamento, agora é que é, conselho de ministros na Base Naval no Alfeite, grandes elogios a almirantes e a outros. Particularmente ao Chefe do Estado-Maior da Armada, que crismaram de herói das vacinas.

Mas mudadas as circunstâncias, e elas mudam muito e de repente, o que ontem era azul, pode passar hoje a castanho.
E, então, lá se vai muitas vezes o endeusamento havido e até o matreiramente fomentado, e lá se desviam verbas prometidas. 
Isto acontece particularmente com políticos que da política têm a visão de - servir-me - em vez de - servirem o país.

Os políticos enamoram-se da força armada sempre que lhes convém, como logo a desprezam e vilipendiam assim que novos ares surgem.
A nossa história recente é eloquente neste aspecto.
Isto aplica-se em todos os regimes e sistemas políticos. 
Até porque há sempre uns chefes avençados, venerandos, obrigados, que têm na cabeça a palavra submissão.

A este propósito recordo o discurso de Salazar no lançamento do navio dão, em 1934, um discurso lacónico, seco, contrastando com o de 1933 durante o lançamento do Vouga, muito mais prolixo e exultante.
A história ajuda a perceber. Aqui mostro a folha inicial de 1933.
No  presente, quer o inquilino em Belém quer o inquilino em S.Bento não se cansam de periódicas exaltações às FA.
Mas como é fraca a memória da maioria dos meus concidadãos e, além disso, querem lá saber da Instituição Militar, a maioria dos jornalistas procura arranjar umas parangonas para conseguirem maiores tiragens, mas sempre com coisas bombásticas, ocas de conteúdo sério, com artigos tendenciosos e superficiais e, muitas vezes, de favor.

Desde 2009 que está na comissão de limites das Nações Unidas, a documentação necessária e mais que suficiente para se avaliar o pedido de Portugal para extensão da plataforma Continental além das 200 milhas náuticas. 

Sobre isto, por exemplo, os jornalistas ditos peritos de assuntos militares e de geopolítica e de assuntos do mar, dizem o quê?

Preferem mostrar uns bonecos, e esquecem muitas vezes os seus deveres, que estão escritos.
Preferem fazer de conta que estão muito atentos.
Preferem ser superficiais e nunca colocar perguntas incómodas.

Também por isso estamos como estamos. Ou será do algoritmo da senhora, e de outros algoritmos?

Recursos, escassos, mesmo escassos, num país pobre como é Portugal,  impunha não brincar como por exemplo com mais uns estudos a cargo de sábios (??) no âmbito de desejada actualização do existente conceito estratégico de defesa nacional (CEDN).

Com gente séria, há muito que tínhamos um conceito estratégico, sim, mas NACIONAL, claro, conciso, globalmente orientador. 
Com gente séria há muito que Portugal teria bem definido se queria, como queria, para que queria Forças Armadas.
Mas gostam assim, de brincar aos bonecos, gostam como isto está e continua, grandiloquentes, intrujões, muitas vezes mesmo mentirosos deslavados.
Eu não gosto.
António Cabral (AC)

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