Saídas Extemporâneas da Marinha.
Mão amiga fez-me chegar um documento que reputo de interessante. Numa outra perspectiva, a daqueles que como eu entendem que Portugal deve ter FA, o documento é, por um lado, sintomático e esclarecedor sobre a competência/ sentido de Estado/ sentido das responsabilidades da esmagadora maioria dos titulares de Órgãos de Soberania e concretamente os sucessivos PM e governos, os sucessivos deputados e os sucessivos Presidentes da Republica (PR).
Por outro lado, é muito preocupante e esclarecedor quando ao trágico caminho em direcção ao desastre.
Quanto a PR, que por inerência e definição Constitucional é Comandante Supremo das Forças Armadas (CSFA), então com o actual inquilino em Belém é cada vez mais irrelevante e um verdadeiro Comandante Superficial das Forças Armadas (CSFA).
O documento a que me refiro é um relatório com data de Abril passado sobre as saídas extemporâneas da Marinha durante o ano de 2022. O que o relatório mostra só será surpresa para os incautos, ingénuos, ignorantes, irresponsáveis e inocentes.
O documento é minucioso, revela uma imagem negra sobre os recursos humanos na Marinha (certamente não muito diferente no Exército e Força Aérea), evidencia uma crescente degradação relativamente a anos anteriores (sobre este tema há relatórios desde 2017).
Conclusões principais, razões para as crescentes saídas extemporâneas da Marinha:
- o número de saídas em 2022 mais que duplicou a média dos últimos 4 anos,
- baixas remunerações e vencimentos, cerca de 65,5% dos casos,
- procura de oportunidade profissional mais vantajosa, o que muito tem a ver com aspectos remuneratórios,
- procura de maior valorização, realização e estabilidade, o que também tem em parte a ver com aspectos remuneratórios,
- demora na progressão na carreira,
- difícil conciliação entre trabalho e família.
Deste documento ressalta também, se li bem, que a Marinha estará há algum tempo a ver se no seu âmbito consegue atenuar o problema através de medidas que designa por "mitigação" a saber, apoio ao alojamento e habitação, apoio em creche para filhos de militares, diminuição da formação inicial para mais rapidamente poderem embarcar.
Sobre este relatório, em 2 de Junho passado, o Almirante Gouveia e Melo que é o actual chefe da Marinha (CEMA-Chefe do Estado-Maior da Armada) exarou o seguinte:
Continuar a seguir e procurar novas estratégias de mitigação.
Dar conhecimento deste relatório à Defesa.
Que dizer sobre o que está à vista e que os responsáveis pela governança e pelo regular funcionamento das instituições fingem sistematicamente que não há problema especial?
Acrescento apenas isto:
1º - a responsabilidade do caos e desgraça em que estamos é dos sucessivos titulares de órgãos de soberania, agravando-se decisivamente desde 2017,
2º - algumas chefias militares não estão isentas de responsabilidades, e a isto não deve ser alheia a crescente politização da escolha das chefias militares desde 1994 quando no final do Cavaquistão alteraram a lei pertinente,
3º - podem tentar mitigar o que quiserem, serão acções sem eco, pois as remunerações e vencimentos dependem do poder político tal como os estatutos e o poder político não tem coerência nem honestidade intelectual para acabar com as FA como certamente desejaria, pelo que estrangula financeiramente o pouco que existe, e algo me diz que a I República tem servido de exemplo para esta gentalha actual.
Em síntese, isto não tem concerto. Verem a situação com preocupação ajuda ZERO.
António Cabral (AC)
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