domingo, 1 de setembro de 2024

ALDEIA, DESPOVOAMENTO, RESTAURAÇÃO
Venho a esta aldeia desde a Primavera de 1969. 

É a minha casa de eleição, que considero o meu castelo, e de onde ao longo dos anos, irradio para muitas voltas pelo Portugal Continental, sendo que a partir do limite inferior definido por uma linha imaginária que une a aldeia de Monsanto à Figueira da Foz.

Hoje, Domingo, fomos almoçar fora, aqui na aldeia.
No restaurante "O Cruzeiro", sucedâneo do velhinho Cruzeiro, junto à igreja, onde o sr Mateus (há muito falecido) e a D. Augusta a sua mulher nos recebiam sempre principesca, atenciosa e amigavelmente.

Como hoje acontece no Cruzeiro actual, gerido pelo filho deles (Nuno, que cozinha muitíssimo bem) e pela Judite sua mulher, e inserido na zona do "Multiusos", à entrada da aldeia, a talvez 20 metros antes de chegar ao largo da entrada, O Baluarte, com os seus canhões.
Comemos muito mas muito bem, umas entradas maravilhosas (cogumelos, azeitonas, pasta especial com fatia de bola), arroz de polvo para um, joelho de porco no forno para outro, um bom vinho de Reguengos, tijelada Beirã e café. 
Preços muito razoáveis, serviço atencioso, rápido, boas vistas, tudo muito bom. Mais de metade dos clientes/ comensais eram espanhóis.

Mas estou a falar disto e, porventura, a suscitar reações diferentes - olha-me este vaidoso, olha-me para este sortudo, que patuscada, que inveja - sobretudo para falar ainda que hoje muito superficialmente, da aldeia e do gritante e dramático despovoamento, do Portugal cada vez mais desigual, porventura destroçado.

Algures entre 1948 e 1952 a freguesia Monsanto (Monsanto e as localidades em redor do monte que creio tem cerca de 750 metros de altura, Relva, Eugénia, Lugar Martins, Carroqueiro, Adinjeiro, Torre, Chão do Touro, São Pedro-de-Vir-a-Corça) tinha cerca de 4 000,00 almas entre, muito idosos, adultos, adolescentes, crianças.

No presente, aqui em cima em Monsanto, a viver/ residir em permanência talvez pouco passe de 40 pessoas.
Na Relva há mais gente, tal como nos outros lugarejos em redor do monte.
Não sei se está correspondente com a realidade, dizem-me que nas últimas eleições os eleitores votantes eram cerca de 350!

Que aconteceu então de 1952 para cá?
Os livros de Fernando Namora dão uma pequena/ primeira ajuda.

Recordo que a agricultura era de subsistência, havia muita gente a trabalhar nos campos, nas herdades, o concelho de Idanha-a-Nova é um dos maiores do país.

Daqui saiu também muita gente para a Europa, uns para melhor vida, outros a fugir à tropa.
Reside aqui o sr Adelino, que trabalhou muitos anos na Alemanha, por isso o cognome/ alcunha - Alemão!

No início do primeiro governo de maioria absoluta de Cavaco Silva, Monsanto e mais onze aldeias tiveram um programa de ajuda e recuperação, o programa das aldeias históricas.

Quando ainda era ministro da defesa nacional Eurico de Melo, foi aqui (Monsanto) construído o razoavelmente imponente posto da GNR.
Agora, o posto está quase sempre fechado, de vez em quando deslocam-se cá dois elementos da GNR no seu Renault 5, o centro é em Idanha-a-Nova.

As aldeias estão basicamente abandonadas, de GNR, assistência médica, ensino primário, etc.
Idanha-a-Nova esteve para ficar sem o Politécnico.

Enfim, isto dá pano para mangas, fico por aqui, hei-de voltar ao assunto. Tenham um bom resto de Domingo. Saúde.
António Cabral (AC)

Sem comentários:

Enviar um comentário