segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

A PROPÓSITO de QUESTÕES de CULTURA
A propósito disto (arte e cultura em Matosinhos), cultura, arte, artistas, elites, poder político, lembrei-me de certas conversas com o meu falecido Pai.
O meu Pai (1923-2011) teve sempre uma vida muito complicada.
O mais velho de três irmãos, ficou orfão (1931) de mãe tinha acabado de completar 8 anos, e a irmã 5 e o irmão 3 anos.
O meu avô paterno quase enlouqueceu, e em poucas semanas partiu para África, Angola, caçador, e empregos vários, desgarrados, errantes, ficando os filhos ao cuidado do irmão da minha falecida avó paterna. 
Trás-os-Montes, e assim foram criados, a partir de Moncorvo e por aí fora.
Brilhante e humilde aluno, andou na Escola António Arroyo em Lisboa (creio que se chamava assim), depois passou para Belas Artes (assim se chamava, creio). No início ou a meio não sei bem, do segundo ano em Belas Artes, por causa de voltas que a vida foi dando, e designadamente por casamento e apoio ao tio que o criara e que entretanto com os sobrinhos já adultos também acabou por ir para Angola montar com outros uma fábrica de madeira, o meu pai tomou uma decisão que se mostrou errada.
Foi para Angola trabalhar com o tio, na prática o meu avô paterno.
E disso não o demoveram várias pessoas e muito concretamente um dos professores em Belas Artes que muito o estimava como aluno e homem, que o sustentaria pagando inclusive os estudos. Professor e homem ilustre do passado, com obra diversa, visível, e designadamente à beira do Tejo.
Vem tudo isto não para vos contar vidas complicadas do meu passado mas a propósito do (para mim) MAMARRACHO à beira Matosinhos plantado.
Conheço, e longe de imaginar repugnantes actos de vandalismo.
O meu pai, por mais de uma vez ao longo da vida e concretamente quando campista deambulou durante anos por essa Europa fora e visitou museus, tinha uma frase célebre que muitas vezes dizia à minha mãe e não só, quando ela comentava pejorativamente certas obras de arte.
A frase - querida não digas isso, lembra-te que não tens conhecimentos para poder apreciar, para poderes compreender.
E é completamente verdade. 
E isto se deve ter presente. Mas não invalida que a primeira reação de um cidadão comum seja o de gostar ou não gostar de uma coisa.
E eu não tenho, também, formação e conhecimentos para apreciar esta obra prima concebida pelo senhor Cabrita Reis para a classe Baixa, ou para a classe média Baixa, especada à vista do mar em Matosinhos. 
Tal como desconheço o preço da viga de ferro.
Mas tenho uma noção razoável do trabalho e custo da hora do soldador, tal como tenho uma boa noção de preços de primário e tintas, e sei o que é pintura à pistola.
E como não tenho conhecimentos para a "coisa", também não sei bem avaliar qual deve ser o preço razoável para se pagar a hora do pensador que cogitou uma "serralharia" à beira mar.
Mas tenho conhecimentos suficientes, e conheço vários métodos de engorda de muitos senhores e senhoras no pós 25 de Abril, e conheço de ginjeira métodos de criação na hora de empresas uns minutos antes de celebração de certos contratos.
E tenho alguma noção de coisas camarárias, na grande Lisboa, no distrito de Setúbal, no grande Porto, no distrito de Castelo Branco.
Como cidadão comum, como munícipe, e com várias décadas de experiência de vida, sei avaliar coisas básicas.
Por exemplo, só um exemplo, se numa localidade, não se substituem as condutas de água, envelhecidas de quase quatro décadas e com roturas constantes, mas surgem coisas que  configuram baixa prioridade e indiciam mau uso de dinheiros de todos nós, é natural que o cidadão comum se interrogue.
Voltando ao Mamarracho em Matosinhos, uma das coisas notáveis neste caso é ler com atenção as justificações e indignações da autarca. No mínimo de duvidosa pertinência.
Costuma dizer-se nestas coisas - ah, os cidadãos nas próximas eleições farão a avaliação do mandato do ou da autarca.
Isto é verdade mas, dada a bovinidade da maioria dos portugueses, a dadas as demagogias regurgitadas nas pré-campanhas e campanhas eleitorais, a realidade mostra que o que fica é a engorda de certos senhores e senhoras à conta dos cidadãos.
Quanto aos senhores ou senhoras que refiro, sejam aqueles que quando lhe morre o sogro se descobre que têm dezenas de garagens, sejam os artistas de arte diversa que embolsaram milhares com obras e espectáculos ou trabalho de consultoria.
E como mostra a vida nacional, a esmagadora maioria dos meus concidadãos quer lá saber do escrutínio público. 
Fica contente com aumentos de 10,00€, passeios de camioneta pagos pela câmara municipal, grandes almoços pagos pela edilidade, muito futebol na televisão, muita telenovela, ver os titulares de orgãos de soberania nos programas do Goucha ou da Cristina, comprar as revistas que eu vejo em cima das bancas de cada vez que vou jogar  Euromilhões ou esporadicamente comprar um jornal.
Vivem contentes e felizes, pois a página foi virada.
E dos 10 milhões, quantas dezenas sabem quem é a autarca de Matosinhos, quanto mais o Cabrita Reis?
Oh pá, sigam é a vida do Ronaldo, a mudança de cuecas do Marcelo, os cozinhados no Costa, os malabarismos dos deputados fantasma, e vivam felizes.
AC

Ps: eu sei quem é Cabrita Reis. E, por exemplo, conheço uma peça dele que está em casa de pessoa conhecida, casa perto do largo do Carmo.

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