Observemos então uma certa telenovela a quase roçar a palhaçada que se desenvolve por aí. Temos que nos entreter, não podia ser só ir ao "take away"! até há pouco tempo, ou apenas ler livros, cozinhar, esticar as pernas, ou ler as descaradas tiradas do "padreca", e aproveitar agora o desconfinamento benevolente da dupla Costa e Marcelo. Ah, mas eles ainda vão impor mais um estado de emergência, deve ser para não nos desabituarmos.
Na Assembleia da nossa República (AR), entre os muitos vendavais, "fait divers", "telenovelas", "os muitos faz de conta" e excitações variadas, andam alguns alvoroçados e alvoroçadas a exigir que todos os deputados e deputadas declarem TODAS as suas ligações, embora me fique a dúvida se serão apenas as associações relevantes e discretas como alguns esclarecem, tipo maçonaria e Opus Dei. Enquanto isso, outros alvoroçados e umas alvoroçadas gesticularam indignados e indignadas, que não pode ser, é contra os princípios da liberdade individual etc.
Muitos dos indignados são daqueles que batem constantemente no peito pela transparência na vida pública mas, nestas alturas, ficam com tantas dores nas articulações que já não conseguem levantar o braço e bater no peito.
Desde as ideias legislativas do PSD e do PAN (creio que só eles o fizeram) pelas TV e OCS/ jornais e revistas tem havido a este propósito um alvoroço particularmente à conta da Maçonaria. O próprio grão mestre de uma das maçonarias portuguesas (GOL) veio a público, foi à TV indignar-se. Pacheco Pereira deu-lhe algum contraditório na altura, mas foi muito meigo e carinhoso para com ele.
As indignações surgiram ainda mais depois de declarações televisivas de António Lobo Xavier ao referir ter vários clientes que tiveram/ têm tido dissabores por causa da maçonaria. O tal grão mestre indignou-se muito, disse que não conhece nenhuma história dessas! Não conhece nenhum caso. CLARO! Só conhecem os ideais e os rituais, e a luta pela liberdade!
Estão bem um para o outro, ambos advogados, um é conselheiro de Estado, outro foi, se a memória não me falha, apoiante fiel de Cavaco Silva. Não tem mal, é só para lembrar.
Claro que numa ponderação decente e intelectualmente honesta, Lobo Xavier depois de dizer o que disse e que é bem capaz de corresponder a muita realidade na nossa sociedade, devia ter referido que acções os seus clientes tomaram, e até que aconselhamento jurídico lhes deu, e se existem processos em apreciação na justiça. Mas isto é entendimento de patetas como eu, não é verdade?
De facto, seja a propósito da maçonaria de que existem "inclinações", e muitas "lojas" para todos os gostos, seja da Opus Dei, da associação do berlinde, do BES, do BPN, do BPP, da EDP, do SIRP, dos incêndios, etc., em Portugal particularmente desde 25 de Abril de 1974 que andamos sempre nesta coisa do - sublinha não saber "se isso é verdade" - diz que tem "desconfianças" -"muitos portugueses têm muitas desconfianças" etc.
Eu tenho desconfianças, várias, li vários livros sobre a maçonaria (o último foi A Maçonaria no Distrito de Portalegre, de António Ventura), conheço alguma história da maçonaria. Há muitos maçons, existem, não são fantasmas. Muitos não se sabe quem eles são.
Em outro plano, Lobo Xavier considera "uma violação do direito de culto" obrigar os políticos a declarar que são da Opus Dei, uma vez que esta é "uma instituição da Igreja Católica que está reconhecida no código canónico como pessoa coletiva no Estado Português" e sobre a qual "não existe nenhum secretismo".
Por outro lado, o grão-mestre adjunto do Grande Oriente Lusitano, António Ventura, parece considerar que estes casos assim referidos, a serem verdade, devem ser denunciados junto das entidades competentes. Mas, por outro lado e se vi bem, aponta uma certa linha "persecutória" da parte do PSD o que viola certamente a CRP no plano do direito à privacidade. Em suma, os maçons que legitimamente têm vindo a público insurgir-se contra as propostas legislativas supra referidas negam, terminantemente, que exista qualquer rede maçónica que vá desde a política até às magistraturas". E, digo eu, passando pelas "secretas", pelo mundo do futebol, por muita advocacia, pelas Forças Armadas, pela banca, pelas polícias, e quando falam de magistraturas talvez seja de especificar, Ministério Público e juízes.
Como cidadão comum tenho ponderado bastante, e desde há muito tempo, sobre esta questão e sobre outras correlacionadas. Se me parece evidente que a privacidade de cada um é um aspecto muito importante em sociedade, por outro lado, interrogo-me cada vez mais sobre o seguinte: é a transparência ou é o segredo um dos fundamentos de uma democracia saudável? Não tenho dúvida sobre este aspecto, é a TRANSPARÊNCIA.
Quem quer vir para a vida pública tem que aceitar ser escrutinado, em todos os aspectos relativos, às suas filiações, ao seu património à altura de entra na vida pública e ao sair dela, e quanto às suas habilitações académicas. Pessoalmente, e imagino que a esmagadora maioria dos cidadãos comuns, estou farto dos aldrabões que rasuram e mentem nos currículos respectivos ou acabam cursos em casa ao Domingo, estou farto dos que chegam à política com um determinado património e saem com património que os seus vencimentos não conseguem justificar, sendo certo que a esmagadora maioria dos Euromilhões têm saído no estrangeiro. Ainda por cima se ficam a rir de mim e de muitos. É para mim intolerável.
Sim, conheço os ideais maçónicos mas a realidade da vida mostra que muitos e muitas lojas instrumentalizaram. Não me peçam provas. Ou o esfumar de milhões é por acaso? Agora, por exemplo, Luís filipe Vieira e a sua ex-Inland derreteram 65 milhões, e não estou a dizer que a culpa é da maçonaria. Ninguém é culpado. Até a minha idosa vizinha na aldeia sabe que as notas se evaporam se não as fecharem em sacos ou malas. E por isso é tudo sempre arquivado.
Há valores, há ideais, e existe certamente quem os pratica e incentiva, e certamente muitos. Mas já estou farto dos pobrezinhos que em seu nome só têm ou uma bicicleta ou uma mota quatro e, mendigos como são, apenas bondosos amigos os sustentam no Brasil ou lhes colocam proventos em contas da Suíça ou em "offshores".
Não me venham para cá com linguagem rebuscada nem com as memórias vivas. Tenham vergonha na cara e vão dar banho ao cão.
António Cabral (AC)
Ps: eu sei que não têm vergonha nenhuma na cara
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