domingo, 13 de junho de 2021

25   ABRIL   2021 
O Presidente da República na AR. 
Sessão Solene Comemorativa do 47.º aniversário do 25ABR74 

Quem me segue e lê perceberá, claramente, porque ao escrever o que adiante está, me sinto tão perfeitamente à vontade: o Presidente da República proferiu um bom discurso. 
Isto dito, mas enfileiro na unanimidade. 
Marcelo e o seu "discurso da União" foi proferido há mais de um mês mas é agora que quero falar dele, depois de ter lido mais de uma vez o discurso e atentar seriamente como faço amiúde o que está no sítio da Presidência.
Alguns disseram, e tendo a concordar, o discurso terá ajudado a perceber uma parte da nossa história, particularmente o período antes da guerra no Ultramar/ guerra colonial se ter iniciado. E também, os 47  anos do 25 de Abril. 
Mas, quem o percebeu, de facto, a sério? 
Que estratos da população portuguesa estiveram atentos, quer à cerimónia, quer ao discurso? 
E destes, quem de facto o percebeu? E concordou? Quantos se inteiram da nossa história?

Aparentemente, Marcelo surpreendeu muita gente, muito politólogo, muito "tudólogo", e muitos dos que escrevem e falam nos OCS tiveram em geral grandes encómios para com o nosso "rei". 
Eu apreciei o discurso e, em certa medida, fiquei surpreendido com o tema por ele escolhido. Tema que é, na minha opinião, um conjunto de temas. Apreciei particularmente ele não se ter envolvido desta vez nas banalidades e parvoíces da conjuntura política, na espuma dos dias,  nem ter enveredado por grandes proclamações. Tem essa faceta e esse tom todos os dias, sem falha, azucrinando-me os ouvidos acerca de parvoíces e de banalidades, sempre com proclamações diárias. Já não tenho pachorra para tanto paleio estéril as mais das vezes. 
Um homem tão instruído, não liga ao dicionário. Por favor, com urgência, vá à letra C, repare no significado e valor que da palavra "contenção".

Dizem que é dono de pensamento complexo e sistematizado.
Explicou que os valores de hoje e de ontem são diferentes, não devendo ser renegados. Falou dos navegadores, dos colonizados, das Descobertas, olhou ao império colonial, à guerra colonial, ao drama dos colonos que tudo perderam em África, dela tendo de fugir apesar de ser a terra deles. Falou de esperanças e desilusões. Falou no ressentimento de filhos das nações lusófonas independentes, que remetem culpas para os colonizadores. Houve ainda uma palavra para os que partiram à procura de vidas melhores, e os muitos jovens que cá estão com as suas perplexidades.  Falou ainda dos nossos condicionamentos e do espaço da Lusofonia. 
E referiu e muito bem os  Capitães de Abril, e os militares das Forças Armadas
Como muitos, desejou que se retirem lições, do passado, e do que se tem passado.
Mas as lições continuam a não ser tiradas, como se vê semanalmente, e como ele bem sabe.

Tem obviamente dimensão intelectual e dimensão política fora do comum. 
Discordo muitas vezes da postura dele. Entre outras coisas, como cidadão, considero que falha ao não se conter, fala de tudo e mais alguma coisa. Creio que deixou ou está a deixar de ser fiel da balança.
Assalta-me todos os dias esta pergunta - este Presidente da República está ou não a contribuir explicitamente para a manutenção do "status quo", qualquer que seja o prisma por que se observe a sociedade portuguesa? 
Está ou não a abrir a porta à solidificação do respeitinho porque sim? E ao assinar/ promulgar sem um pio a carta digital, que porta está a abrir ?

Poderemos ponderar a "coisa" por exemplo na perspectiva da substância e do contexto.
"Sofia" marcou o dia 25 de Abril de 1974 como - "o dia inicial inteiro e limpo". No presente, como estão as coisas? 
A partir de agora teremos Presidente? 
Que limpidez é esta nos nossos dias?

Eu creio que o discurso foi bom. 
Mas, a prática diária na sociedade, a realidade dos nossos dias? 
Que rumo para a sociedade portuguesa está a ser traçado? 
É que palavras leva-as o vento, e é com crescente preocupação que vejo a maioria dos meus concidadãos a porfiar alegremente em não  distinguir as palavras das obras.
Já atentaram bem nas nossas realidades, TODAS ?

É que me parece pouco e a caminhar para o pré - trágico, esta persistência nos melhores dos melhores, o Guterres na ONU, e que o desenvolvimento, liberdade e democracia sempre foram imperfeitos e, por isso, não plenos".
Espero que não se venha a pronunciar a frase antiga e mofa - ….desejo sinceríssimo em que caibam todos os portugueses de boa vontade.
Porque nessa altura, muitos como eu que não se coíbem de salientar o que está bem, quando a sociedade é de facto servida, o que é bem programado e executado mas, também, o oposto, somos capazes de ter sobre nós maus olhados, porque para "eles" não estamos de boa vontade. 
Porque aplaudo e elogio, mas também critico. 
Porque considero que o 25 de Abril está parcialmente capturado. Aguardemos.
António Cabral (AC)

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