SONETOS
Decomposição
"Eu não sou dos que a Pátria só adoram",
Como adora o regato a própria serra:
Deus numa gleba apenas não se encerra;
Se visita esses mundos, que demoram
De céu a céu, também cafres o imploram,
Mas deixai que uma lágrima sincera
Possam os olhos dar, olhando-a, à terra
Donde a primeira vez aos céus se foram.
Sim, ver-te, Portugal! eu choro ao ver-te!..
Como ao Leão gigante do Ocidente
Lhe cai a garra, e em nada se converte!..
Não é isto o que eu choro: o que me dói
É como aquela juba omnipotente
Em penas de pavão se decompõe!..
(Coimbra, Janeiro, 1863, Antero de Quental)
AC
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