terça-feira, 12 de novembro de 2019

R E C O R D A N D O
Provavelmente, o Pior Governo de Todos
Por ANTÓNIO BARRETO, 26 de Novembro de 2000 

Apesar de ter poucas tendências para a melancolia e ainda menos para sonhar diante dos fumos do passado ou dos nevoeiros da floresta, dei comigo a olhar para os governos constitucionais deste regime. Não pretendia fazer um balanço. Mas pensei que tal exercício me podia ajudar a perceber um dos principais mistérios da vida política nacional dos tempos correntes, a saber, o inexorável declínio do segundo governo de António Guterres. Com apenas um ano de vida, exibe já uma saúde decrépita. Com um número razoável de jovens ministros e muito jovens secretários de Estado, dá sinais crescentes de senilidade. Parece chegar ao fim, antes mesmo de ter começado. Anda a pequenos passos, sem saber onde se encostar. Rente às paredes, parece abrigar-se, mesmo quando não chove. Já não sabe quem procura, nem de quem foge. Quando decide mostrar energia, apenas revela estridência artificial. Inaugura obras com um ar triste de quem segue um enterro. Em certos dias, decide mostrar-se como equipa, mas apenas se vê um almoço de velhos estudantes. Noutros, ao pretender apresentar o líder, ostenta um sofredor cansado, ainda ferido por não ter obtido a maioria absoluta. Faz tudo pela tangente. Com receio das consequências, não reforma. Com medo dos resultados, não inova. Não querendo correr os riscos de uma polémica, não age. Ocupou o Estado como raramente ou nunca se tinha feito antes. Deu o que tinha para dar, enquanto havia, sem cuidar de semear. Dialogou com todos, enquanto havia para ceder. Envelheceu prematuramente. Pertence-lhe, por direito e mérito próprios, a mais acelerada, drástica e vertical quebra de popularidade e apoio nas sondagens. Em menos de um ano, secou a fonte de inspiração, esgotou as suas energias e mostrou ser provavelmente o pior governo que conhecemos desde o início do período constitucional.......

Isto foi escrito em 2000.
E daí para cá?  Dá que pensar.
AC

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