Neste dia vem-se comemorando a mudança da monarquia para a república em 1910.
Os mauzinhos poderão dizer que os da ética republicana se regozijam.
> É certo que a realização da República ficou longe dos ideais mais progressistas proclamados à época. Como em todas as revoluções, as circunstâncias, as contradições e a própria inexperiência dos protagonistas conduziram a opções que não foram as ambicionadas, mas foram as possíveis”
> a revolução de outubro de 1910 teve uma história conturbada, decorrendo sob o espectro da ameaça permanente, em que a participação na Grande Guerra [1914-1918]
> de primordial importância a aprovação da Lei da Separação do Estado das Igrejas, essencial para a materialização do ensino obrigatório, gratuito e laico, mas que encontrou reflexos em áreas tão distintas como a do registo civil obrigatório e a da própria morte, ao atribuir caráter secular aos cemitérios, permitindo o seu acesso a todos os cultos religiosos”.
Estes e a esmagadora maioria dos portugueses primam pela ausência de rigor, no dia a dia, na sua vida quotidiana, e então em relação ao passado......muito mais interessante tirar “selfies", olhar a Cristina Ferreira, focar-se na pandemia futebolística,.......e quem vier atrás que feche a porta. Nada de “Worries“ quanto ao futuro, plenamente assegurado por Marcelo, Costa, Jerónimo, Catarina, Rio, etc. etc.
Olhando para o período de 3 a 5 de Outubro do corrente ano várias discursatas me chamaram à atenção.
Uma delas, saiu da boca daquela figura que formalmente é o nº 2 do Estado. “Disso", transcrevo as seguintes partes (sublinhados meus):
> Se Portugal é hoje um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, deve-o às sementes lançadas na revolução de 1910
> É certo que a realização da República ficou longe dos ideais mais progressistas proclamados à época. Como em todas as revoluções, as circunstâncias, as contradições e a própria inexperiência dos protagonistas conduziram a opções que não foram as ambicionadas, mas foram as possíveis”
> a revolução de outubro de 1910 teve uma história conturbada, decorrendo sob o espectro da ameaça permanente, em que a participação na Grande Guerra [1914-1918]
> de primordial importância a aprovação da Lei da Separação do Estado das Igrejas, essencial para a materialização do ensino obrigatório, gratuito e laico, mas que encontrou reflexos em áreas tão distintas como a do registo civil obrigatório e a da própria morte, ao atribuir caráter secular aos cemitérios, permitindo o seu acesso a todos os cultos religiosos”.
Como sempre respeito a opinião de Ferro Rodrigues.
Concordo que foi importante a mudança de forma de governo, passámos da monarquia para a República. Passámos a ter, em vez do rei, um presidente da República mas, esquecem-se de dizer, eleito por uns quantos e não por sufrágio universal.
Formalmente, adquiriu-se a igualdade política dos cidadãos mas.....
Uma das grandes marcas de 1910 em diante foi sem dúvida a liberdade religiosa e a separação entre a Igreja e o Estado.
Formalmente, iniciou-se a luta para eliminar o monstruoso analfabetismo em Portugal, um flagelo da nossa sociedade, e uma das grandes razões do nosso atraso.
Sempre me interessei por direito constitucional e alguma coisa estudei e aprendi nesse âmbito, e de facto houve medidas importantes nessa altura.
Mas, como aprendi e não esqueço, há que salientar o bom mas não deixar de lembrar o mau.
E olhando ao mau, talvez a figura nº2 devesse ir rever algumas coisas de direito constitucional e olhar ás nossas constituições, desde 1820. Posso emprestar, tenho-as todas em casa.
Olhando ainda ao mau, e olhando a algumas das palavras da figura nº 2, talvez o senhor devesse de facto ler com mais atenção e, quando timidamente confessa que algumas coisas correram mal na I República - as palavras dele são história conturbada - esquece e não é rigoroso relativamente ao muito, mesmo imenso, de deplorável de vários períodos da I República. O que fizeram em relação às mulheres, aos analfabetos, ao verdadeiro “ gangterismo" praticado, aos recuos na prática verificados quando se olha lá para trás, para 1820.
Quando se olha ao mau, talvez a figura nº2 e os Afonso Costas do presente devessem ler várias coisas, e nomeadamente João Gonçalves no JN que aqui escarrapachei antes, e este trecho do falecido e esclarecido Vasco Graça Moura.
"As comemorações da República têm de falar desses crimes. Eles foram cometidos sob a batuta de uma das figuras mais sinistras da nossa história. Graças a Afonso Costa e aos seus apaniguados organizados em milícias de malfeitores, a Primeira República, activamente respaldada pela Carbonária (e, mais tarde, por uma confraria de assassinos chamada Formiga Branca), nunca recuou ante a violência, a tortura, o derramamento de sangue e o homicídio puro e simples. Instaurou friamente entre nós o pragmatismo do crime. Institucionalizou a fraude, a manipulação e a batota generalizadas em todos os planos da vida portuguesa. Manipulou e restringiu o sufrágio, excluindo dele os analfabetos, as mulheres e os padres. Perpetrou fraudes eleitorais sempre que pôde. Perseguiu da maneira mais radical e intolerante o clero católico, por vezes até ao espancamento e à morte. Levantou toda a espécie de obstáculos ao culto religioso e à liberdade de consciência. Cometeu as mais incríveis violências contra as pessoas. Apropriou-se do Estado, transformando-o em coutada pessoal do Partido Republicano Português"
Vasco Graça Moura 5 de Outubro de 2010.
Vasco Graça Moura 5 de Outubro de 2010.
António Cabral (AC)
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